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ARTIGO
O que o ranking do Enem não nos conta
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Imagine dois competidores
disputando uma maratona. O
primeiro deles, forte e saudável, usa um tênis sofisticado. O
outro, mais fraco, tem um calçado normal. Ninguém duvida
de que o primeiro vencerá a
corrida.
Mas você associaria o resultado ao tênis que ele usou? Em
certa medida, é isso que fazemos ao comparar acriticamente escolas no ranking do Enem.
Desde 1966, quando o sociólogo James Coleman publicou
relatório pioneiro sobre fatores
associados ao desempenho de
alunos nos EUA, especialistas
em avaliação educacional vêm
confirmando que é o nível socioeconômico dos estudantes o
que mais explica o resultado.
É por isso que colégios que
atendem somente filhos de pais
de alta renda e escolaridade largam na frente no Enem -não
necessariamente por suas práticas pedagógicas, mas, principalmente, pelo perfil de aluno
que atendem.
Não é mera coincidência,
portanto, que as melhores escolas públicas sejam federais
ou técnicas, pois elas também
fazem, em sua maioria, um processo de seleção de estudantes.
Mesmo na comparação entre
colégios de elite, é preciso ter
cautela.
Uma escola que dá bolsas para alunos pobres, que não discrimina deficientes e não expulsa estudantes que repetiram de ano perderá pontos
-não por seus defeitos, mas
por seus méritos.
Isso não invalida a utilidade
do ranking do Enem -ferramenta valiosa para ajudar os
pais a avaliar a escola dos seus
filhos. Só não deve ser a única.
Constatar que o resultado é
explicado principalmente pelo
perfil do aluno não significa
que a escola não faça diferença.
Mas é preciso ter em mente que
o melhor colégio não é necessariamente o que está no topo do
ranking, mas, sim, aquele que
consegue fazer mais do que se
esperava por seus alunos.
E isso, infelizmente, o ranking do Enem não nos conta.
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