São Paulo, quarta, 29 de abril de 1998

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CASO DINIZ
Secretário afirma que não cedeu, mas juiz que dará benefício aos sequestradores admite que greve influiu
Estado nega que tenha cedido a protesto

MALU GASPAR
da Reportagem Local

O secretário da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques, disse ontem que o governo não cedeu "nem um milímetro" para fazer o acordo com os dez sequestradores do empresário Abílio Diniz.
Eles encerraram ontem a greve, depois de 16 dias sem comer, afirmando que suspenderam o movimento diante da "garantia dos benefícios da progressão penal", ou seja, de que poderão passar a cumprir pena em regime semi-aberto.
O secretário Azevedo Marques participou do anúncio do final do impasse representando o governo do Estado.
A proposta havia sido feita havia mais de uma semana pelo juiz da Vara de Execuções Criminais, Otávio Augusto Machado de Barros Filho, 45. Depois de receber um pedido de concessão da progressão penal, feito pelo advogado, ele disse aos presos que estaria disposto a conceder o benefício desde que a greve fosse suspensa.
Barros Filho disse que os presos reúnem todos os requisitos para obter o benefício do semi-aberto, que permite ao interno sair da cadeia para trabalhar durante o dia e voltar para a prisão à noite.
O secretário diz que a lei será cumprida e que não houve concessão aos presos, mas que não há certeza de que o benefício será concedido.
Mas o próprio Barros Filho admite que, se a greve de fome não tivesse sido feita, ele talvez não tivesse analisado os pedidos com a mesma atenção nem os presos estariam tão perto de receber o regime semi-aberto.
Revolta
Um dos temores de Azevedo Marques, desde que a greve de fome começou, era que o movimento se espalhasse pelo complexo penitenciário do Carandiru, onde estavam os sequestradores.
Ontem pela manhã, depois do anúncio do final da greve, houve um início de rebelião na prisão feminina. As presas pararam as atividades ao saber que as sequestradoras Maria Emília Marchi e Christine Lamont receberiam o regime semi-aberto.
Até o final da tarde, as presas continuavam no pátio, mas o movimento havia sido contido. Elas alegam que também teriam direito a benefícios e exigem assistência judiciária.
As sequestradoras foram transferidas ontem mesmo para a Penitenciária Feminina do Butantã.

Dieta
A primeira refeição dos sequestradores ontem, no almoço, foi uma sopa de legumes.
Até sexta-feira, quando passam a comer normalmente e devem ter a sua condição física recuperada, os presos terão alimentação especial, principalmente de líquidos.
Uma preocupação especial, segundo o médico Paulo César Sampaio, é que eles não tomem nada com açúcar nos primeiros dias, o que poderia causar um desequilíbrio no organismo, já que tiveram forte baixa de glicose no sangue.
Eles também deverão tomar suco de laranja para repôr potássio.
Segundo o médico, eles resistiram bem à greve e não devem ter sequelas nem problemas de saúde em decorrência da falta de alimentação.



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