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MEDICINA
Ex-ministro, que participou ontem do Congresso Mundial de Cardiologia, afirmou que FHC "está limitado"
Jatene critica redução de verba na saúde
RONI LIMA
da Sucursal do Rio
O ex-ministro
da Saúde Adib
Jatene criticou a
área econômica
e o presidente
da República
Fernando Henrique Cardoso
por supostamente reduzirem os
gastos com a saúde e não entenderem "os problemas da pobreza".
Diretor do Hospital do Coração,
Jatene esteve no 13º Congresso
Mundial de Cardiologia e disse
que o presidente "está limitado".
Ao tentar explicar melhor o que
isto significava, Jatene afirmou:
"O poder não está frequentemente nas mãos dos que ocupam os
cargos. O poder está nas mãos dos
que financiam as campanhas dos
que ocupam os cargos, que por
coincidência são os mesmos que
sustentam a mídia e que comandam o processo legislativo".
Ao falar sobre perspectivas das
cirurgias cardiovasculares, Jatene
disse que grandes hospitais, como
o Albert Einstein e o do Coração,
em SP, não estão mais operando
doentes do SUS (Sistema Único de
Saúde) porque não recebem os recursos necessários do governo.
Jatene passou então a criticar o
governo e até grandes empresários
quando lhe perguntaram sobre o
que achava das perspectivas de um
economista como José Serra no
Ministério da Saúde.
"Eu tenho grande esperança
que um economista consiga mobilizar os recursos necessários, mas
já estou preocupado", iniciou.
Ele se disse preocupado por ter
lido que "estão discutindo garantir R$ 20 bilhões para o Ministério
da Saúde". Segundo Jatene, se for
incluída a inflação do período, R$
20 bilhões para o orçamento da
Saúde deste ano é menos do que os
R$ 15 bilhões gastos em 1995. "Para ter o mesmo que gastei em 95,
devia ter R$ 22 bilhões."
Ele acrescentou que, se ainda
fosse computada a arrecadação
com a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o orçamento deste ano deveria ser de R$ 29 bilhões.
Jatene disse então que saiu do
governo por não concordar que a
CPMF, em vez de verba suplementar, tenha se tornado "um recurso
substitutivo", para que o governo
retirasse dinheiro da Saúde "para
outras finalidades".
Segundo ele, "a área econômica
está preocupada com a macroeconomia, com a riqueza e não consegue entender os problemas da pobreza". Como exemplo, Jatene citou a política econômica na época
da crise das bolsas da Ásia, em 97.
Ele criticou o pacote econômico
de então, feito para arrecadar US$
20 bilhões. "Para quê? Para saúde?
Para educação? Para pagar o juro,
que dobrou, para que não fosse retirado o dinheiro que está na bolsa. É questão de prioridade."
Ao falar da área econômica, ele
disse que estava incluindo "o ministro, a Febraban (Federação
Brasileira de Bancos) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo)". Questionado se
incluía também o presidente FHC,
Jatene afirmou: "Tudo, é lógico".
Depois, ao comentar que o presidente apóia o programa de agentes comunitários de saúde, afirmou: "Não é que o presidente não
queira, às vezes ele não tem de onde tirar os recursos. Por isso eu fui
lutar pela CPMF".
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