São Paulo, quarta, 29 de abril de 1998

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MEDICINA
Ex-ministro, que participou ontem do Congresso Mundial de Cardiologia, afirmou que FHC "está limitado"
Jatene critica redução de verba na saúde

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

O ex-ministro da Saúde Adib Jatene criticou a área econômica e o presidente da República Fernando Henrique Cardoso por supostamente reduzirem os gastos com a saúde e não entenderem "os problemas da pobreza".
Diretor do Hospital do Coração, Jatene esteve no 13º Congresso Mundial de Cardiologia e disse que o presidente "está limitado".
Ao tentar explicar melhor o que isto significava, Jatene afirmou: "O poder não está frequentemente nas mãos dos que ocupam os cargos. O poder está nas mãos dos que financiam as campanhas dos que ocupam os cargos, que por coincidência são os mesmos que sustentam a mídia e que comandam o processo legislativo".
Ao falar sobre perspectivas das cirurgias cardiovasculares, Jatene disse que grandes hospitais, como o Albert Einstein e o do Coração, em SP, não estão mais operando doentes do SUS (Sistema Único de Saúde) porque não recebem os recursos necessários do governo.
Jatene passou então a criticar o governo e até grandes empresários quando lhe perguntaram sobre o que achava das perspectivas de um economista como José Serra no Ministério da Saúde.
"Eu tenho grande esperança que um economista consiga mobilizar os recursos necessários, mas já estou preocupado", iniciou.
Ele se disse preocupado por ter lido que "estão discutindo garantir R$ 20 bilhões para o Ministério da Saúde". Segundo Jatene, se for incluída a inflação do período, R$ 20 bilhões para o orçamento da Saúde deste ano é menos do que os R$ 15 bilhões gastos em 1995. "Para ter o mesmo que gastei em 95, devia ter R$ 22 bilhões."
Ele acrescentou que, se ainda fosse computada a arrecadação com a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o orçamento deste ano deveria ser de R$ 29 bilhões.
Jatene disse então que saiu do governo por não concordar que a CPMF, em vez de verba suplementar, tenha se tornado "um recurso substitutivo", para que o governo retirasse dinheiro da Saúde "para outras finalidades".
Segundo ele, "a área econômica está preocupada com a macroeconomia, com a riqueza e não consegue entender os problemas da pobreza". Como exemplo, Jatene citou a política econômica na época da crise das bolsas da Ásia, em 97.
Ele criticou o pacote econômico de então, feito para arrecadar US$ 20 bilhões. "Para quê? Para saúde? Para educação? Para pagar o juro, que dobrou, para que não fosse retirado o dinheiro que está na bolsa. É questão de prioridade."
Ao falar da área econômica, ele disse que estava incluindo "o ministro, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)". Questionado se incluía também o presidente FHC, Jatene afirmou: "Tudo, é lógico".
Depois, ao comentar que o presidente apóia o programa de agentes comunitários de saúde, afirmou: "Não é que o presidente não queira, às vezes ele não tem de onde tirar os recursos. Por isso eu fui lutar pela CPMF".



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