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SAÚDE
Fibra mineral, também conhecida como asbesto, já foi banida em 15 países; no Brasil, riscos são pouco conhecidos
Efeito nocivo do amianto volta a ser debatido
MARCELO LEITE
enviado especial a Minaçu (GO)
Quase todo brasileiro já teve contato com amianto, presente em telhas e caixas d'água. Suas fibras
podem causar câncer, quando aspiradas pelo pulmão. Enquanto na
França um industrial é indiciado
por envenenar seus operários, no
Brasil o assunto não chega a empolgar o público.
Empresários do setor dizem que
a reação francesa é irracional. A
acusação criminal contra Claude
Chopin, diretor da empresa Amisol (fechada em 74), há duas semanas, seria só para aplacar um público traumatizado com os escândalos do sangue contaminado e da
doença da vaca louca.
"O tempo e a ciência estão a nosso favor", diz Antonio Luiz Aulicino, presidente da Eternit, grupo
que inclui a maior mina de amianto do país, em Goiás.
A Eternit e o governo brasileiro
apóiam contestação do Canadá na
Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a proibição do
amianto na França, baixada em 97.
Há 15 países que optaram pelo banimento, na maioria europeus.
O argumento para questionar a
decisão francesa é que não há prova científica a sustentá-la. Ao banir
todo e qualquer tipo de amianto, a
França estaria prejudicando formas mais benignas do mineral, como o do tipo crisotila (branco) explorado no Brasil.
Riscos
As milhares de mortes associadas com amianto, em países industrializados, nada teriam a ver com
o crisotila e o tipo de uso -"controlado"- que se faz no Brasil,
afirmam seus defensores.
Por suas características físicas e
químicas, o crisotila seria mais facilmente absorvido pelo organismo que o anfibólio (amianto azul).
Com isso, teria menos chances de
provocar doenças como placas
pleurais, asbestose e mesotelioma.
Além disso, o risco maior com
amianto não atinge a população
em geral. Fibras ingeridas com a
água, por exemplo, não têm o efeito daquelas aspiradas com o ar.
A fabricação de telhas e caixas
d'água também não seria perigosa,
porque os operários manipulam
massa molhada, com pouco pó.
Na mina de amianto Cana Brava,
em Minaçu (GO), também não há
grande problema. Trabalha-se ali
com concentrações de poeira inferiores a 0,7 fibra por cm3, mais perto do limite legal dos EUA (0,1 f/
cm3) do que do brasileiro, 20 vezes
maior (2 f/cm3).
Sem proteção
O grande nó está na indústria de
autopeças (freios e fricção) e têxtil.
Nessas fábricas mais numerosas e
tradicionais, muitas de fundo de
quintal, funcionários estariam
sendo expostos a níveis perigosos
de poeira de amianto.
Condições semelhantes vigoram
na construção civil. Não é comum,
de fato, observar operários usando
máscaras ao serrar telhas e canos
de amianto.
Esses trabalhadores estariam enfrentando condições semelhantes
às do tempo em que se desconhecia o potencial cancerígeno do
amianto.
Entre 885 ex-funcionários da
Eternit examinados pela Associação Brasileira dos Expostos ao
Amianto (Abrea), em Osasco, foram constatados 88 casos de asbestose e 165 de placas pleurais. Mais
da metade dos examinados, segundo a associação, apresentou algum
tipo de doença pulmonar.
"Não há limite seguro para cancerígenos, tem de evitar a exposição", diz Fernanda Giannasi, fiscal
do Ministério do Trabalho e famosa defensora do banimento do
amianto. "Pela força que têm, (as
indústrias) conseguiram criar limite de tolerância, um absurdo."
"Por prudência e prevenção, deve-se tomar cuidado para dizer
que não produz câncer. É uma
questão basicamente científica,
mas não resolvida", diz o médico
Diogo Pupo Nogueira.
Professor aposentado da USP,
ele descreveu o primeiro caso de
asbestose na literatura médica brasileira. Não acredita em "uso controlado" do amianto: "É coisa mais
ou menos utópica".
Em apoio a sua desconfiança, cita estudo recente da Fiocruz que
descobriu cinco casos de asbestose
em operárias de uma indústria têxtil que usa o crisotila.
O jornalista Marcelo Leite viajou a Minaçu a convite do Grupo Eternit
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