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Delegado afirma que jovem nunca se regenerou
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado de Borborema, Ricardo Farah, citado várias vezes
no livro "Luz no Fim do Túnel: a
História de Sucesso de um Ex-Interno da Febem", foi o responsável pela investigação que acabou
na prisão de Cleonder Santos
Evangelista por latrocínio.
O ex-interno descreveu cenas
na adolescência em que teria sido
agredido pelo delegado. O jovem
também disse que, em uma das situações narradas no livro, ameaçou a mulher do delegado durante uma fuga, o que teria alimentado a perseguição por parte de Farah. O delegado nega e afirma que
Evangelista, na realidade, nunca
se regenerou e que o livro não
passa de "ficção".
"Tanto na parte da ação criminosa [descrita no livro] quanto na
parte da recuperação, foi tudo
uma ficção", afirma o delegado.
Ele nega que o ex-interno tenha
sido vítima de uma armação
montada por pessoas descontentes por terem sido citadas no livro.
"Eu torci por ele, a cidade torceu
por ele, mas até um determinado
momento. Eu relutei muito em
acreditar nessa história [do envolvimento de Evangelista no latrocínio]. A cobrança é enorme na cidade, todo mundo sabe que ele
matou, a cidade sabe do envolvimento dele em roubos e o cara está na rua. Mas enquanto eu não tive a convicção de que ele estava
envolvido, não o indiciei", disse o
delegado.
Ele afirma que não leu o livro,
mas assistiu à entrevista de Evangelista no programa "Jô Soares",
no qual foi citado pelo ex-interno.
Nega, porém, qualquer motivação pessoal. "As provas foram suficientes para que a promotora o
denunciasse e a juíza decretasse a
sua prisão."
Para o delegado, Evangelista
exagerou ao descrever suas prisões. "Pode filtrar tudo isso. Os
dez carros de polícia que ele falou
que o cercaram, na verdade, era o
delegado e dois PMs. A mata fechada por onde ele diz que correu
em uma perseguição de quatro
quilômetros, você põe aí 40 metros de pasto aberto. Chega a ser
hilário. Realmente, uma ficção."
O delegado diz que Evangelista
negou estar na cidade no dia do
crime, mas ele afirma que bilhetes
conseguidos em um empresa de
viagem provam que ele foi embora à tarde, horas depois do sumiço
do garoto assassinado. Farah diz
que procurou a editora, a Unip
(Universidade Paulista) e até a organização da Bienal do Livro para
confirmar o álibi do ex-interno.
Além do latrocínio, o delegado
ainda investiga o suposto envolvimento do ex-interno em um roubo a um posto de gasolina e na indução ao suicídio, por ameaças,
de um outro jovem. Mas, nesses
dois casos, Evangelista ainda não
foi indiciado.
"Ele teve todas as chances e não
soube aproveitar. Eu atribuo isso
ao problema com as drogas. Não
tenho isso formalmente, não tenho isso em depoimento, só em
conversa informal, mas se você
conversasse com as pessoas que o
acompanhavam durante as palestras, essas pessoas percebiam que
ele continuava fazendo uso. Até se
suspeitou que, no dia em que ele
tirou a foto ao lado do governador, ele pudesse estar sob efeito de
drogas, segundo pessoas que o
acompanhavam."
Editora
Segundo Henrique Flory, diretor-geral da editora Arte & Ciência e diretor da Unip na época em
que a bolsa de estudo foi concedida, Evangelista teve uma recaída
em relação ao uso de drogas, mas
não seguiu a orientação de fazer
tratamento especializado, preferindo voltar para Borborema.
Foi Flory que convidou Evangelista a contar as suas experiências
em um livro com a ajuda de um
ghost writer (um escritor que não
aparece). Segundo ele, foram vendidos menos de 2.000 exemplares
em livrarias e outros 10.000, doados para a Secretaria de Estado da
Educação, que os distribuiu nas
escolas. Também foi oferecido ao
ex-interno uma vaga de assistente
de diagramação na editora, mas
ele desistiu, afirma Flory.
"Quem lida com a questão de
recuperação de viciados e imagina que só pela sua boa vontade a
pessoa vai se recuperar não deveria nem começar. Quem lida com
isso sabe que recaídas existem. Eu
sempre colocava para ele: quando
você estiver preparado, as portas
estarão abertas."
Segundo ele, a possível frustração não anula a proposta de ressocialização. "A gente deve aprender com os tropeços e continuar
estendendo a mão. Se você falar
para uma pessoa que, depois de
uma recaída, não haverá outra
chance, você a está empurrando
para a única alternativa que lhe
resta, que é o mundo do crime e
das drogas. Esse raciocínio leva à
intolerância total", afirma.
A Folha procurou o secretário
estadual Gabriel Chalita anteontem para falar sobre o caso. Segundo sua assessoria, ele não poderia atender a reportagem por
falta de tempo. (GP)
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