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USP tem maior banco cerebral do mundo
Projeto da Faculdade de Medicina estuda o processo de envelhecimento normal e as doenças associadas ao avanço da idade
Quase 2.000 cérebros de mortos acima de 50 anos, submetidos a autópsia em São Paulo, já foram doados pelas famílias para pesquisa
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem passa em frente à sala
de número 1.351 da Faculdade
de Medicina da USP de São
Paulo nem imagina que está
diante do maior banco cerebral
do mundo. Ali, 1.800 cérebros
de pessoas acima de 50 anos,
sadias e doentes, ajudam os
cientistas a entender o processo de envelhecimento e as
doenças neurodegenerativas
que são associadas ao órgão.
Bancos estrangeiros mais velhos reúnem coleções menores.
O da Holanda levou 20 anos para juntar mil cérebros. O de
Harvard (EUA), com 28 anos,
possui cerca de 1.200 cérebros.
Já o banco brasileiro teve início há dois anos, ganhou área
própria duas semanas atrás e
não pára de crescer. Recebe
cem cérebros a cada dois meses
-média que alguns bancos estrangeiros obtêm por ano.
A generosa oferta é motivada
pela alta taxa de autópsias feitas em São Paulo, o equivalente
a 45% das mortes. Em outros
países, o índice não ultrapassa
10%. O SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) faz 14 mil autópsias anuais -60% delas em
pessoas acima de 50 anos.
O estudo de cérebros permite que os pesquisadores rastreiem as alterações cerebrais
provocadas por doenças e, futuramente, vai possibilitar
diagnósticos mais precoces e
tratamentos mais eficazes.
De acordo com a patologista
Lea Grinberg, coordenadora do
Projeto de Envelhecimento Cerebral -ao qual o banco está ligado-, a idade avançada traz
modificações estruturais no cérebro não necessariamente
acompanhadas de sintomas.
"É difícil saber quais as alterações decorrentes do próprio
processo de envelhecimento
natural e quais são as motivadas por doenças e, portanto,
passíveis de tratamento."
Grinberg explica que, para
descobrir o que ocorre no cérebro doente, quais proteínas estão se acumulando e quais funções são perdidas em diferentes níveis, é preciso compará-lo
com o cérebro de indivíduos sadios, que têm a mesma idade e
as mesmas características.
Segundo o geriatra do Hospital das Clínicas José Marcelo
Farfel, um dos coordenadores
do banco, 30% dos cérebros
doados, de pessoas sem sintomas de perda de memória, já tinham algum comprometimento. Estima-se que o início das
doenças de Alzheimer e de Parkinson aconteça 15 anos antes
de os primeiros sinais clínicos
se manifestarem.
Farfel conta que países que
estudam demências colecionam cérebros mais velhos e
doentes. "São órgãos de pacientes que, na hora da morte, já
apresentavam a doença em estágio avançado, tornando a freqüência de casos de controle
insuficiente para comparação."
No projeto brasileiro, Farfel
diz que já foram observados casos de pessoas que apresentavam indícios de Alzheimer, segundo familiares, mas nos cérebros não foram encontradas alterações que justificassem a
suspeita. Outras vezes são
achadas alterações cerebrais,
mas o responsável pelo paciente não relata comportamento
que sugerisse a doença.
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