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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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PATRIMÔNIO

Funcionários da Secretaria de Estado da Juventude dificultam visita a antigo edifício histórico do Banespa

Longe do público, prédio art déco é tombado

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

A secretária de Cultura do Estado, Cláudia Costin, homologou na semana passada o tombamento do antigo prédio histórico do Banespa localizado no número 9 da praça Antônio Prado, no centro de São Paulo, que havia sido pedido pelo Condephaat.
Não é o Banespinha (futura sede da prefeitura) nem o Banespão (o espigão de 34 andares que lembra o Empire State Building de Nova York e traz a bandeira do Estado fincada no topo), mas um primo mais velho e mais pobre.
A importância da edificação é irrefutável. Concluído em 1938 a partir de projeto do arquiteto Álvaro de Arruda Botelho de 1935, abrigava o extinto Banco São Paulo, criado em 1889 por decreto de d. Pedro 2º.
É ainda considerado o principal edifício art déco do país, o único com citação internacional nos catálogos das obras representativas desse movimento dos anos 20 e 30 inspirado no cubismo que, segundo o "Aurélio" buscava o equilíbrio dos volumes e fácil adaptação à produção industrial.
Munido dessas informações, o habitante de São Paulo pode pensar numa visita monitorada, como tentou o repórter na sexta à tarde. Vai encontrar um esquema de desinformação e descaso.
O prédio abriga hoje a Secretaria de Estado da Juventude, Esporte e Lazer, recém-desmembrada da de Turismo, que mudou-se em parte. Na entrada principal, o visitante é recebido por um bonito saguão de mármore carrara.
No subsolo, dentro do cofre, ficava o extinto Museu Adoniran Barbosa, que ainda conta com seu acervo. Ambos valem uma visita. Uma funcionária explica que não, não se pode visitar sem uma autorização do departamento de divulgação, no sexto andar.
Uma parada na assessoria de imprensa pega todos de calças curtas. "Foi tombado? E ninguém me avisou!", exclama a chefe, que se identifica apenas como Amanda. "É melhor falar com o Vanilson, da divulgação, no sexto."
Vanilson não está, explica Dirce, a recepcionista. "Tem uma festinha junina na Finanças, está todo mundo lá, você não quer voltar mais tarde?", pede. Não. "Então fale com ela." "Ela" se identifica como "a arquiteta Ivone", que diz que "este é o único exemplar vertical art déco do Brasil, mas é melhor você falar com a Sônia".
Sônia é a coordenadora de turismo Sônia Belardinucci, que não recebe a Folha, mas manda a assessora Aline entregar um conjunto de quatro folhas. Entre as páginas, uma é o organograma da secretaria. "Mas não vale mais."
E quem quiser visitar o prédio? "Visitar como? O senhor quer entrar em todas as salas?", espanta-se Dirce, a recepcionista. "Eu recomendaria o quarto andar, que é mais bonito." De volta à rua, o repórter tenta ainda conhecer o cofre e o museu, com a recepcionista. Que responde: "Tem que falar com o Vanilson, no sexto andar".

Outro lado
Elaine Cristina Servo, chefe do almoxarifado da coordenadoria de turismo da secretaria e responsável pelas visitas, disse por telefone que todos são bem-vindos a conhecer o prédio, inclusive o cofre, cuja chave fica com ela. "É só me ligar e, se eu não estiver ocupada na hora, desço e mostro."


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