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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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SAÚDE

Uso simultâneo de medicamentos eleva chance de reações adversas; recomendação é ação integrada de médicos

Excesso de remédio traz risco a idoso

FABIANE LEITE
BERTA MARCHIORI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um idoso e uma cesta de remédios. Vidros cheios de pílulas no armário, a avó vive atrapalhada com meia dúzia de medicações. O que é considerado "normal", "comum", pode ser na verdade sinal de má assistência -e de risco.
"Quanto maior o número de remédios utilizados, maior é a probabilidade de haver reações adversas. A utilização de cinco fármacos concomitantes aumenta em 50% esse risco", explica a farmacêutica Maria Fernanda Carvalho, especialista em interações medicamentosas do Grupo Zanini-Oga -que produz publicações sobre medicamentos.
No Brasil, estudos isolados feitos a partir da década de 80 mostram que idosos consomem, em média, de dois a 3,24 produtos. Não há um banco de dados sobre reações adversas. "A idéia de que é normal tomar tanto remédio é decorrente da pressão da indústria farmacêutica. Do entendimento errôneo de que para todo o mal é preciso uma pílula dourada", afirma a epidemiologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Suely Rozenfeld.
Em sua tese de doutorado, ela avaliou 600 idosas do Rio de Janeiro que tomavam tranquilizantes e sedativos. Verificou que as que tomavam um ou mais dos fármacos tinham risco cinco vezes maior de quedas múltiplas.
Por causa de problemas como esses, a ordem para pacientes e familiares é cobrar uma revisão e uma racionalização das "cestas" de remédios. Os múltiplos profissionais que atendem o idoso devem criar alguma forma de comunicação para organizar a prescrição. Até porque a maioria desses pacientes consome principalmente drogas prescritas por médicos, como reforça um levantamento recente da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Dos 2.143 paulistanos com 60 anos ou mais ouvidos, 86,7% tomavam algum medicamento, mas somente 10% declaravam fazer automedicação.
Além do risco das reações adversas, há ainda o das interações entre as drogas, afirma Carvalho. Antiácidos, por exemplo, reduzem a ação de medicamentos para o coração (os mais consumidos pelos idosos). Hipoglicemiantes (que reduzem as taxas de açúcar) aumentam os efeitos de anticoagulantes. Já se sabe também que é frequente a prescrição errônea. Um estudo publicado em 1994 na "Jama" (a revista da associação médica norte-americana) mostrou que um quarto dos idosos recebia algum fármaco impróprio.


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