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EDUCAÇÃO
Universidade de São Paulo suspende a implantação de oito cursos e quatro habilitações; greve nas três estaduais prossegue
Sem verba, USP e Unicamp freiam expansão
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise orçamentária das universidades estaduais paulistas,
além de gerar um impasse na
atual greve de professores e funcionários -que, em algumas unidades, já ultrapassou os 45 dias-
e de promover a contenção de recursos para o custeio e a manutenção das instituições, atinge o
programa de expansão dessas escolas proposto pelo próprio governo do Estado.
Na USP (Universidade de São
Paulo), de 18 novos cursos aprovados pelo Conselho Universitário para início já em 2005, 8 cursos
e 4 novas habilitações não constarão do manual da Fuvest por falta
de dinheiro para a sua implementação.
Em seu novo campus na zona
leste da cidade de São Paulo, dois
dos 12 cursos anunciados (tecnologia musical e mídias digitais)
não terão início no próximo ano.
Além disso, a universidade congelou a verba de custeio de suas
unidades e reduziu os recursos de
seus órgãos centrais, segundo
Adilson Carvalho, coordenador
da Codag (Coordenadoria de Administração Geral) da USP.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), depois de fechar 2003 com déficit orçamentário coberto por fundos de reserva
da própria instituição, promove
em 2004 cortes violentos em manutenção e custeio que somam R$
6 milhões (quase 1% do orçamento da universidade) e suspendeu a
contratação de novos funcionários que seriam feitas neste ano.
Para o reitor da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz, há
margem apenas para uma expansão que não requeira admissão de
novos professores. "Não estou falando em duplicar o sistema, mas
em aumentá-lo um pouco, otimizando o que já existe com a ajuda
de algum recurso para a construção de salas", diz o reitor.
Brito Cruz afirma que a expansão eleva o custo operacional da
instituição porque aumenta o número de alunos. "E isso é perigoso", avalia. "A expansão tem de
ser tratada com cautela para não
criar compromissos que as universidades não possam honrar
quando não houver suplementação [orçamentária] do Estado."
Crise
A grande vilã da crise orçamentária, segundo as instituições, foi a
queda na arrecadação de ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) no Estado de São Paulo em 2003, em razão da redução da atividade econômica. Isso fez com que o orçamento das três universidades
(composto com 9,57% do ICMS
recolhido) ficasse altamente comprometido com o pagamento de
funcionários e professores.
Antes disso, no entanto, já
aconteciam problemas de ordem
orçamentária. A Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), em
2002, recebeu R$ 29 milhões de
verba suplementar destinada pelo
governo de Geraldo Alckmin
(PSDB) para o programa de expansão universitária. Acontece
que, desse total, apenas R$ 9 milhões foram efetivamente empenhados na abertura de novos cursos, campi e vagas. O restante, ou
seja, R$ 20 milhões, foram empenhados, principalmente, em gastos com pessoal.
"Como iríamos ficar com dinheiro em caixa e devendo em
bancos e em outros lugares? Se tivéssemos jogado todo esse dinheiro em pessoal e não tivéssemos instalado novas unidades e
cursos, teríamos de devolver o dinheiro para o Estado", afirma José
Afonso Carrijo de Andrade, presidente da Comissão Especial de
Orçamento e Finanças da Unesp.
Em 2002 e 2003, a Unesp abriu
oito novos campi, chamados de
"unidades diferenciadas", cuja
implantação e manutenção são
feitas em convênio com as prefeituras locais, que fornecem instalação e custeiam gastos com luz,
água, telefone e segurança. Ou seja, não são campi totalmente bancados pelo cofre do Estado.
Folha de pagamento
Hoje, 86,67% da verba da USP
vai para a folha de pagamento,
92,91% do orçamento da Unesp
tem o mesmo fim, e 94,17% dos
recursos da Unicamp são destinados aos gastos com pessoal. Para o
Cruesp (Conselho de Reitores das
Universidades Estaduais de São
Paulo), o comprometimento de
85% do orçamento com a folha é
o valor ideal para que existam
boas condições de administração.
Segundo USP, Unesp e Unicamp, a crise orçamentária se deve também a problemas mais antigos: as despesas com os hospitais universitários e o fato de a
aposentadoria dos funcionários
das instituições incidir sobre suas
folhas de pagamento, e não sobre
um fundo previdenciário mantido pelo governo do Estado.
Na Unicamp, por exemplo, em
1989, quando foi conquistada a
autonomia universitária (que
destinou ao orçamento das universidades estaduais paulistas o
equivalente a 9,57% do ICMS), os
aposentados correspondiam a 2%
da folha de pagamento. Hoje, eles
consomem 20% desse item de seu
orçamento.
Mais doutores
Para completar, de acordo com
as direções das universidades estaduais paulistas, nos últimos dez
anos houve o que chamam de
"crescimento vegetativo" das despesas com pessoal, ou seja, cresceu o número de professores doutores, que recebem remuneração
mais onerosa para a folha.
"Houve um avanço espetacular
na qualificação do corpo docente.
Mas isso custa dinheiro porque os
professores progridem na carreira", afirma Brito Cruz.
Tamanho comprometimento
do orçamento com a folha, segundo o Cruesp, engessou a administração universitária e impossibilita a negociação de qualquer reajuste para os servidores, que pedem 9,41% de reposição salarial e
defendem o aumento da dotação
orçamentária para as universidades de 9,57% para 11,6% do ICMS
arrecadado pelo Estado -o que o
governador afirmou não ser possível conceder.
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