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VIOLÊNCIA
Participante de cooperativa de transporte alternativo no Rio desrespeitou ordem de não circular após as 20h
Traficantes queimam motorista em morro
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Um motorista de uma Kombi
que transportava passageiros na
zona norte do Rio foi queimado
por traficantes, durante a madrugada de ontem, por ter desrespeitado uma ordem do tráfico que
proibia a circulação de veículos
após as 20h.
Antônio Ferreira de Lima, 34,
estava numa das ruas do morro
do Adeus, em Ramos, onde desceriam alguns dos passageiros
que transportava, por volta das
2h. Apesar de ser morador do
morro, ele foi cercado por um
grupo de cerca de 15 traficantes.
Os homens retiraram as pessoas
da Kombi, mas não permitiram
que o motorista saísse do veículo.
De acordo com testemunhas, os
traficantes espancaram Lima,
trancaram as portas e jogaram gasolina no automóvel. Em seguida,
atearam fogo ao veículo e ficaram
assistindo ao incêndio. Os dez
passageiros nada puderam fazer.
Os traficantes, percebendo que
o automóvel iria explodir, se afastaram. Nesse momento, o motorista conseguiu saltar do veículo,
já com o corpo em chamas.
Um outro motorista da Cooper
Room, cooperativa para a qual Lima trabalha, estava próximo ao
local e o levou para o hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte do Rio. Segundo o hospital, ele
teve 70% do corpo queimado.
No fim da manhã de ontem, o
paciente foi transferido para o
CTI (Centro de Terapia Intensiva)
do hospital Memorial, em Engenho de Dentro (zona norte). Segundo os médicos, ele sofreu
queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus e seu estado é
grave. Lima é casado há dez anos e
tem um filho de 9.
O irmão de Lima, Adenildo Ferreira de Lima, 30, fundador da
cooperativa, afirmou que vem sofrendo ameaças dos traficantes há
pelo menos dois anos.
Nos últimos meses, os líderes do
tráfico no local -comandado pela facção criminosa ADA (Amigos
dos Amigos)- lançaram duas
bombas caseiras contra as Kombis que fazem o transporte de passageiros entre os bairros de
Inhaúma e Bonsucesso (ambos
na zona norte). No trajeto, essas
Kombis passam na entrada do
morro do Adeus.
"Há dois anos, uma motorista
da nossa cooperativa foi sequestrada e morta pelos traficantes do
morro", contou Adenildo. Ele disse, entretanto, que não interromperá o trabalho, mas mudará o
trajeto das Kombis.
No início da manhã de ontem,
cerca de 90 policiais do 22º batalhão, do Getam (Grupamento Tático Móvel) e do Bope (Batalhão
de Operações Especiais) ocuparam a favela. A polícia apreendeu
duas pistolas e uma pequena
quantidade de cocaína. Ninguém
foi preso.
No morro, onde o comércio de
drogas é liderado pelo traficante
conhecido apenas como Wanderlei -cunhado de Ernaldo Pinto
de Medeiros, o Uê, preso em Bangu 1 e fundador da ADA-, as
ruas ficaram vazias ontem.
Os poucos moradores que cruzavam as ruas se recusavam a falar com a imprensa e diziam desconhecer o ocorrido. O único representante da associação de moradores presente também afirmou nada saber sobre o assunto.
O presidente do movimento Viva Rio, Rubem César Fernandes,
disse que "essa área é uma em que
o Estado menos investe". "É preciso uma resposta clara e sensata
para não multiplicar o círculo da
brutalidade. Isso parece puro pesadelo, sem limite de lei e do bom
senso", acrescentou.
Procurado pela Folha, o secretário estadual da Segurança, Josias Quintal, não quis comentar o
assunto.
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