São Paulo, sábado, 29 de julho de 2000


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URBANISMO
Empresários e moradores fazem mutirão há três meses para revitalizar prédios e ruas da zona cerealista de SP
Mutirão na zona cerealista recupera local

SORAYA AGÉGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem adesão de sua mais notória vizinha, a Prefeitura de São Paulo, moradores e empresários da zona cerealista do Brás, que fica bem ao lado do Palácio das Indústrias, viraram empreiteiros, pintores, fiscais, lixeiros e passaram a recuperar prédios, ruas e calçadas.
A região teve o seu auge no início do século, mas ainda guarda belezas arquitetônicas.
O mutirão começou há três meses e já reurbanizou cerca de mil metros na rua Benjamim de Oliveira, avançando para a Alfândega. Os antigos depósitos de cereais e o casario foram pintados de vermelho, azul e outras cores fortes, que, contrastadas com os coqueiros plantados nas calçadas - também granitadas por eles- lembram a Bahia.
"Para virar o Pelourinho só falta a gente trazer o mar", ironizou o empresário (e agora também com os cargos de financiador e fiscal) Roberto Pascoal Corrêa Lima, 50, há 40 anos no Brás.
Foi feito um livro de doações, mas ninguém gosta de dizer quanto doou. "Quem não tem dinheiro, também amanhece com a fachada pintada", disse o gerente financeiro (e fiscal nas horas vagas) Gilberto Giannetti, 41, há 20 anos no Brás. "Mas ninguém toca numa árvore."
O gerente de vendas (agora responsável pela iluminação) Franco Zanaga, 37, há 20 anos no Brás, também está empolgado. "Já colocamos 70 holofotes. Está ficando uma beleza, porque todos deixam as luzes acesas à noite toda."

O começo
"Tudo começou numa conversa de bar, depois do expediente", conta o empresário Andrea De Luca, 55, que há 40 anos chegou da Itália para viver no Brás. "Falávamos que a zona cerealista estava feia, decadente, se não seria melhor ir embora com a empresa para outro lugar".
"Para sair desse clima, resolvemos fazer uma reforma no bar e fizemos. Aí surgiu a idéia de ampliar isso", disse. Hoje perdeu as contas de quanto gastou. "Não tem preço, isso me faz relembrar a minha infância, é um revival. E São Paulo precisa de mais cores, luzes e limpeza nas ruas."

Vizinho isolado
Todos os envolvidos no projeto só reclamam de um vizinho: o Palácio das Indústrias, sede do Executivo paulistano. "Podiam pelo menos mandar uns garis à tarde", sugere De Lucca. "Ou limpar as bocas-de-lobo", propõe o assistente administrativo (e lixeiro nas horas vagas) Edson Santana, 26, há 9 anos no Brás.
A Secretaria das Administrações Regionais informou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que vai avaliar a possibilidade de ajudar no mutirão.



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