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URBANISMO
Empresários e moradores fazem mutirão há três meses para revitalizar prédios e ruas da zona cerealista de SP
Mutirão na zona cerealista recupera local
SORAYA AGÉGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem adesão de sua mais notória
vizinha, a Prefeitura de São Paulo,
moradores e empresários da zona
cerealista do Brás, que fica bem ao
lado do Palácio das Indústrias, viraram empreiteiros, pintores, fiscais, lixeiros e passaram a recuperar prédios, ruas e calçadas.
A região teve o seu auge no início do século, mas ainda guarda
belezas arquitetônicas.
O mutirão começou há três meses e já reurbanizou cerca de mil
metros na rua Benjamim de Oliveira, avançando para a Alfândega. Os antigos depósitos de cereais e o casario foram pintados
de vermelho, azul e outras cores
fortes, que, contrastadas com os
coqueiros plantados nas calçadas
- também granitadas por eles-
lembram a Bahia.
"Para virar o Pelourinho só falta
a gente trazer o mar", ironizou o
empresário (e agora também com
os cargos de financiador e fiscal)
Roberto Pascoal Corrêa Lima, 50,
há 40 anos no Brás.
Foi feito um livro de doações,
mas ninguém gosta de dizer
quanto doou. "Quem não tem dinheiro, também amanhece com a
fachada pintada", disse o gerente
financeiro (e fiscal nas horas vagas) Gilberto Giannetti, 41, há 20
anos no Brás. "Mas ninguém toca
numa árvore."
O gerente de vendas (agora responsável pela iluminação) Franco
Zanaga, 37, há 20 anos no Brás,
também está empolgado. "Já colocamos 70 holofotes. Está ficando uma beleza, porque todos deixam as luzes acesas à noite toda."
O começo
"Tudo começou numa conversa
de bar, depois do expediente",
conta o empresário Andrea De
Luca, 55, que há 40 anos chegou
da Itália para viver no Brás. "Falávamos que a zona cerealista estava feia, decadente, se não seria
melhor ir embora com a empresa
para outro lugar".
"Para sair desse clima, resolvemos fazer uma reforma no bar e
fizemos. Aí surgiu a idéia de ampliar isso", disse. Hoje perdeu as
contas de quanto gastou. "Não
tem preço, isso me faz relembrar a
minha infância, é um revival. E
São Paulo precisa de mais cores,
luzes e limpeza nas ruas."
Vizinho isolado
Todos os envolvidos no projeto
só reclamam de um vizinho: o Palácio das Indústrias, sede do Executivo paulistano. "Podiam pelo
menos mandar uns garis à tarde",
sugere De Lucca. "Ou limpar as
bocas-de-lobo", propõe o assistente administrativo (e lixeiro nas
horas vagas) Edson Santana, 26,
há 9 anos no Brás.
A Secretaria das Administrações Regionais informou ontem,
por meio de sua assessoria de imprensa, que vai avaliar a possibilidade de ajudar no mutirão.
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