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HABITAÇÃO
Na decisão, desembargador diz que a Volkswagen não comprovou a posse da área invadida; empresa pode recorrer
Justiça suspende retirada de sem-teto no ABC
João Wainer/Folha Imagem
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Sem-teto comemoram medida que suspendeu a desocupação do terreno em São Bernardo do Campo |
GILMAR PENTEADO
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O 1º Tribunal de Alçada Civil de
São Paulo suspendeu ontem a
reintegração de posse da área invadida por sem-teto em São Bernardo do Campo (ABC paulista),
no último dia 19. A decisão ocorreu horas depois de a Polícia Militar anunciar que iria cumprir a
ordem para a retirada dos invasores "a qualquer momento".
Às 18h de ontem, o desembargador Roque Mesquita, da 3ª Câmara do 1º Tribunal de Alçada Civil, concedeu efeito suspensivo da
liminar (decisão provisória) concedida pela juíza Maria de Fátima
dos Santos, da 4ª Vara Civil de São
Bernardo. O julgamento do mérito da decisão de Mesquita deve
ocorrer em dez dias.
Segundo a assessoria do Tribunal de Alçada, Mesquita aceitou a
alegação do movimento de que a
Volkswagen não comprovou a
posse da área invadida. "Não há
prova convincente de que a agravada [empresa] pratica atos possessórios sobre o terreno", relata a
decisão. A comprovação do uso
da área é uma exigência para
qualquer reintegração de posse,
segundo a advogada dos sem-teto
Eliana Lúcia Ferreira.
Além disso, diz a advogada, a liminar foi concedida sem que o
Ministério Público tivesse sido
ouvido e sem considerar a situação de risco de cerca de 2.000
crianças do acampamento. "Existe a possibilidade de lesão grave e
de difícil reparação", diz a decisão
judicial. Há no local, segundo os
organizadores, 7.000 pessoas.
A Volkswagen informou que só
se pronunciaria hoje sobre a suspensão, mas poderá recorrer da
decisão. O agravo de instrumento, ingressado no Tribunal de Alçada Civil, era a última alternativa
dos sem-teto para evitar a reintegração de posse. Antes da decisão,
a PM preparava a estratégia para
retirar os invasores. A expectativa
era que a retirada ocorresse hoje.
A reunião na Companhia de Policiamento de Área do Grande
ABC, com advogados da Volkswagen, lideranças do MTST, representantes da PM, advogados
da OAB e parlamentares do PT
terminou sem acordo.
A Volkswagen não apresentou
nenhuma proposta para os sem-teto, defendendo a saída imediata
da área. Lideranças do movimento defenderam o cadastramento
das famílias e a concessão de um
prazo maior para negociação.
"A Volkswagen se mostrou intransigente e o governo municipal
sequer compareceu à reunião.
Aquelas famílias estão lá, em condições precárias, porque não têm
outra possibilidade. O objetivo do
movimento foi pacífico em todas
as ações e qualquer massacre será
responsabilidade da polícia e do
Estado", afirmou um dos coordenadores , Guilherme Boulos.
A posição da empresa foi defendida pelo representante jurídico,
Eduardo Barros. "Não há nenhuma intransigência da Volkswagen
em relação a isso, todo o prazo até
agora foi dado."
O governador Geraldo Alckmin
(PSDB) também defendeu a desocupação. "A área deverá ser, imediatamente, desocupada. E o apelo que faço é para que as famílias
deixem o local pacificamente."
Antes do final da reunião, por
volta das 10h, cerca de 1.500 pessoas, segundo a Guarda Civil Municipal, saíram em passeata até a
Prefeitura de São Bernardo. Comerciantes chegaram a fechar as
portas durante a manifestação. O
prefeito Willian Dib (PSB) não recebeu os invasores.
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