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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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JUSTIÇA

Decisão contraria idéia do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e até mesmo promessa do programa de governo

Lula decide manter Senad com militares

IURI DANTAS
LUCIANA CONSTANTINO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da posição contrária do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e da promessa prevista no programa de governo do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu manter a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) ligada ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
"O presidente ficou muito à vontade para tomar a decisão. Como julgamos que a Senad está funcionando muito bem, a decisão do presidente foi mantê-la [onde está]", disse o general Jorge Armando Felix, ministro-chefe do GSI.
A decisão foi tomada há cerca de dois meses, quando Lula se reuniu com Bastos e Felix. Foi feita uma avaliação sobre o desempenho da secretaria e o presidente determinou, então, que ela permanecesse com os militares.
Os especialistas em segurança pública do PT defenderam na campanha eleitoral que ficasse sob o Ministério da Justiça tanto a prevenção (levada a cabo pela Senad) quanto a repressão ao consumo de drogas (atribuição da Polícia Federal, vinculada à pasta de Bastos).
Com o início do governo, o Ministério da Saúde aliou-se a essa mesma concepção. A tal ponto que passou a constar da política oficial da pasta a descriminalização do usuário de drogas, alterando o enfoque para uma questão de saúde pública e não de combate à violência.
Consultados pela reportagem, os ministérios da Saúde e da Justiça preferiram não comentar a decisão de Lula.
A manutenção da Senad sob responsabilidade de militares reacende uma polêmica trazida a tona por técnicos da Saúde: a Justiça terapêutica. Quando um usuário de drogas é detido pela polícia, por exemplo, a internação é obrigatória, sendo acompanhada de perto pelo Ministério Público.
Esse modelo já é utilizado em 14 Estados do país e vai contra a filosofia da equipe da pasta da Saúde, que prefere oferecer o tratamento in loco ou em centros de atenção a dependentes.
A diferença de abordagem reflete uma questão mais complexa. A metodologia da Senad até hoje pressupõe que é possível eliminar o consumo de drogas na sociedade. Já os técnicos petistas da Saúde, que participaram da elaboração do plano de campanha de Lula, insistem no formato de redução de danos. Ou seja: como é impossível impedir o consumo, que se consiga, ao menos, minimizar os danos à saúde do dependente.
Segundo o general Felix, o governo deve incentivar a adoção de penas alternativas para usuários.


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