São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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SAÚDE/ PSICOLOGIA

Acidentes aéreos agravam transtornos de ansiedade

Medo de voar pode prejudicar tratamento de pessoas com TOC ou síndrome do pânico

Freqüência de acidentes cria sensação de que medo de avião não é exagerado; outros tipos de fobia podem ser despertados

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA

A repercussão de acidentes aéreos como o do dia 17 pode agravar o quadro de pessoas que passam ou passaram por tratamentos para superar transtornos de ansiedade, como síndrome do pânico ou TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), afirmam especialistas ouvidos pela Folha.
Uma das razões do medo de voar é a forma como as pessoas morrem nessas situações. "Está todo mundo ali, paradinho, com o cinto de segurança afivelado. De repente, o avião entra num prédio e todo mundo morre queimado. Isso gera um sentimento de impotência muito grande, de falta de controle", aponta o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O fato de dois acidentes aéreos graves terem acontecido no país em um intervalo de apenas dez meses reforça a idéia de que o medo de viajar de avião não é exagerado ou irracional, diz Barros Neto. Também contribuem para essa sensação os relatos de acidentes menores e de outros incidentes, como aeronaves que derrapam durante o pouso.
De acordo com o professor da especialização em medicina comportamental da Unifesp, Geraldo Possendoro, essa sensação de insegurança pode agravar qualquer transtorno de ansiedade. "Quem já tinha alguma fobia pode ter uma piora. E aqueles que têm síndrome do pânico ou TOC também podem enfrentar um retorno das crises caso sintam-se forçados a entrar em um avião. Talvez seja recomendável pedir o conselho do psiquiatra novamente."
A psicóloga Lígia Ito, especializada em fobias, concorda. Para ela, o acidente da TAM não vai levar mais pacientes às clínicas, mas vai dificultar e prolongar as terapias. "Quem estava indo bem no tratamento fica em estado de choque com o que ocorreu."

2º maior medo
O medo de voar de avião já é a segunda razão que leva as pessoas a buscar atendimento no Cpem (Centro de Psicologia Especializada em Medos), em Curitiba (PR). Levantamento feito pelo centro mostra que o número de atendimentos a pessoas com fobia de viajar em aviões ultrapassou os casos de pacientes com medo de falar em público e só perde para o de motoristas com fobia de dirigir.
São pelo menos 12 tipos de fobia tratadas no centro, como o medo de insetos e de dentistas. Segundo a psicóloga Neuza Corassa, coordenadora do centro e autora de um livro sobre fobias, o aumento de cerca de 50% nos atendimentos de pessoas com medo de voar ocorreu de 2006 para 2007. Até o ano passado, eram realizadas de duas a três consultas semanais com pacientes com medo de voar de avião. Neste ano, a média de atendimentos subiu para cinco por semana.
Para ela, a maior necessidade de orientações se deve, principalmente, à popularização das viagens aéreas que aumenta a probabilidade do fóbico viajar por necessidade -como eventos familiares e a trabalho- e, parcialmente, pelos desastres aéreos, como o acidente com o vôo da Gol, em setembro do ano passado. "O que provavelmente vai ocorrer é uma onda coletiva de medos", disse Corassa.
(CLÁUDIA COLLUCCI, CÍNTIA ACAYABA E PAULO DE ARAUJO)


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