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SAÚDE/ PSICOLOGIA
Acidentes aéreos agravam transtornos de ansiedade
Medo de voar pode prejudicar tratamento de pessoas com TOC ou síndrome do pânico
Freqüência de acidentes cria sensação de que medo de avião não é exagerado; outros tipos de fobia podem ser despertados
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
A repercussão de acidentes
aéreos como o do dia 17 pode
agravar o quadro de pessoas
que passam ou passaram por
tratamentos para superar
transtornos de ansiedade, como síndrome do pânico ou
TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), afirmam especialistas ouvidos pela Folha.
Uma das razões do medo de
voar é a forma como as pessoas
morrem nessas situações. "Está todo mundo ali, paradinho,
com o cinto de segurança afivelado. De repente, o avião entra
num prédio e todo mundo
morre queimado. Isso gera um
sentimento de impotência
muito grande, de falta de controle", aponta o psiquiatra Tito
Paes de Barros Neto, do Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
O fato de dois acidentes aéreos graves terem acontecido
no país em um intervalo de
apenas dez meses reforça a
idéia de que o medo de viajar de
avião não é exagerado ou irracional, diz Barros Neto. Também contribuem para essa sensação os relatos de acidentes
menores e de outros incidentes, como aeronaves que derrapam durante o pouso.
De acordo com o professor
da especialização em medicina
comportamental da Unifesp,
Geraldo Possendoro, essa sensação de insegurança pode
agravar qualquer transtorno de
ansiedade. "Quem já tinha alguma fobia pode ter uma piora.
E aqueles que têm síndrome do
pânico ou TOC também podem
enfrentar um retorno das crises caso sintam-se forçados a
entrar em um avião. Talvez seja
recomendável pedir o conselho
do psiquiatra novamente."
A psicóloga Lígia Ito, especializada em fobias, concorda.
Para ela, o acidente da TAM
não vai levar mais pacientes às
clínicas, mas vai dificultar e
prolongar as terapias. "Quem
estava indo bem no tratamento
fica em estado de choque com o
que ocorreu."
2º maior medo
O medo de voar de avião já é a
segunda razão que leva as pessoas a buscar atendimento no
Cpem (Centro de Psicologia
Especializada em Medos), em
Curitiba (PR). Levantamento
feito pelo centro mostra que o
número de atendimentos a
pessoas com fobia de viajar em
aviões ultrapassou os casos de
pacientes com medo de falar
em público e só perde para o de
motoristas com fobia de dirigir.
São pelo menos 12 tipos de
fobia tratadas no centro, como
o medo de insetos e de dentistas. Segundo a psicóloga Neuza
Corassa, coordenadora do centro e autora de um livro sobre
fobias, o aumento de cerca de
50% nos atendimentos de pessoas com medo de voar ocorreu
de 2006 para 2007. Até o ano
passado, eram realizadas de
duas a três consultas semanais
com pacientes com medo de
voar de avião. Neste ano, a média de atendimentos subiu para
cinco por semana.
Para ela, a maior necessidade
de orientações se deve, principalmente, à popularização das
viagens aéreas que aumenta a
probabilidade do fóbico viajar
por necessidade -como eventos familiares e a trabalho- e,
parcialmente, pelos desastres
aéreos, como o acidente com o
vôo da Gol, em setembro do ano
passado. "O que provavelmente
vai ocorrer é uma onda coletiva
de medos", disse Corassa.
(CLÁUDIA COLLUCCI, CÍNTIA ACAYABA E PAULO DE ARAUJO)
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