|
São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003
 |
 |
|
Próximo Texto | Índice
PORTO FERREIRA Em depoimento, suplente de vereador confirma esquema de aliciamento; presidente da Câmara se entrega à polícia Acusado confessa exploração de menores
DIOGO PINHEIRO DA FOLHA CAMPINAS O suplente de vereador Valter de Oliveira Mafra (PTB) confirmou ontem, em depoimento à Justiça, a existência de um esquema de corrupção de meninas menores de idade em Porto Ferreira (228 km de São Paulo). Mafra estava foragido e se entregou ontem à polícia. Além dele, outras 11 pessoas -entre elas seis vereadores- tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça sob a acusação de corrupção de menores, formação de quadrilha e favorecimento à prostituição. Apenas um dos acusados continua foragido. O presidente licenciado da Câmara de Porto Ferreira, Luís César Lanzoni (PTB), também se entregou à Polícia Civil na madrugada de ontem. Conforme Mafra, o esquema incluiria também empresários e comerciantes de Limeira, Araras e Santa Rita do Passa Quatro, que saíam de suas cidades para realizar festas com meninas de Porto Ferreira. Pessoas que tiveram acesso ao depoimento disseram que Mafra também acusou o prefeito de Porto Ferreira, André Luís Anchão Braga (PSDB), de participar das festas. "São inverdades", disse o prefeito. Braga esteve ontem na Secretaria de Estado da Segurança Pública, em São Paulo, para pedir "intervenção" nas investigações. Ele protocolou ofício na secretaria dizendo ter "suspeita de cunho escuso na apuração das denúncias". Confissão Segundo o advogado de Mafra, Carlos Alberto Silveira, o suplente de vereador admitiu, no depoimento, que era responsável pelo agenciamento de adolescentes. Ele confessou também que mantinha relações com elas, que tinham entre 13 e 16 anos. As adolescentes, segundo o depoimento, recebiam entre R$ 30 e R$ 50 dos participantes das festas. Em entrevista, Mafra declarou que se entregou para mostrar sua dignidade e esclarecer todo o caso. "Sou garçom, ganho R$ 380 por mês e não tenho dinheiro para organizar festas", afirmou. Segundo o advogado de Mafra, ele entregou por estar recebendo ameaças. "No depoimento, ele declarou que as ameaças anônimas diziam para ele não revelar os nomes dos "peixes grandes'", afirmou o delegado de Porto Ferreira, Maurício Rasi. Mafra foi incluído ontem no Provita (Programa de Proteção à Testemunha). Ao depor, Mafra disse que, em festas que ocorriam às segundas-feiras, em chácaras na região, viu quatro dos seis vereadores que hoje estão presos. Ele negou ser traficante de drogas, como chegaram a apontar algumas meninas que denunciaram o caso. De acordo com o advogado do suplente, Mafra era contratado como cozinheiro para as festas e levava as meninas. Todos os vereadores foram alvo de protestos ontem na frente do fórum de Porto Ferreira. Pelo menos cem moradores vaiaram e xingaram os parlamentares que passaram pelo fórum ontem. CPI A Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a exploração sexual de crianças e adolescentes, formada por senadores e deputados federais, colheu ontem depoimentos de cinco acusados -entre eles, três vereadores. Também foram ouvidas as 12 adolescentes envolvidas no caso, além dos promotores e do delegado responsável. "Tudo aponta para a culpabilidade dos acusados. Parlamentares envolvidos com o assédio sexual deveriam ter uma punição maior", afirmou a presidente da CPI, a senadora Patrícia Saboya Gomes (PPS-CE). "Fico com um nó na garganta de ver o absurdo de homens que deveriam defender os interesses públicos se utilizando da pobreza para explorar adolescentes", afirmou a senadora. Os 17 depoimentos prestados ontem à CPI foram feitos a portas fechadas e duraram mais de nove horas. Membros da ONG (organização não-governamental) Movimento Popular pela Moralização de Porto Ferreira entregaram à CPI um abaixo-assinado com mais de 500 assinaturas pedindo justiça. Próximo Texto: Outro lado: Suspeitos negam participação em festas com adolescentes Índice |
|
|
