São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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Iguatemi cresce sobre área contaminada

Local onde está sendo construído um prédio com estacionamento, ao lado do shopping, abrigava um posto de combustíveis

Prefeitura de SP diz que contaminação atinge lençol freático e possivelmente também poços artesianos da região da Faria Lima


JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos de São Paulo, está se expandindo sobre uma área contaminada, que inclui a água subterrânea e possivelmente também os poços artesianos na região da avenida Faria Lima (zona oeste).
A obra, conforme documento da Procuradoria Geral da Prefeitura de São Paulo, deveria ser paralisada até que seja investigada a extensão da contaminação do lençol freático.
A expansão do Iguatemi não obteve as licenças da prefeitura, mas as obras foram autorizadas por decisão da Justiça, em primeira instância, a qual o município tenta derrubar.
O impasse ocorreu porque, segundo a prefeitura, o projeto original foi modificado a ponto de necessitar de novas licenças.
Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), funcionava no terreno um posto de combustíveis. Durante a obra, foram encontrados dois tanques de combustíveis enterrados.
A conclusão sobre a contaminação está em ofício enviado pela Prefeitura de São Paulo à 3ª Vara da Fazenda Pública, após consulta à Cetesb.
O documento foi anexado ao processo movido pelo shopping contra a prefeitura para poder tocar a obra sem licença.
O local é vizinho ao prédio em que mora o prefeito Gilberto Kassab (DEM).

Estacionamento
A nova área terá três subsolos e sete andares de estacionamento, num total de 650 vagas. Em quatro pavimentos, haverá escritórios. Há três pavimentos no subsolo, o que exigiu o rebaixamento do lençol freático.
De acordo com consulta da Cetesb ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), há dez poços artesianos no raio de 500 metros do local.
O shopping é vizinho ao Esporte Clube Pinheiros, que mantém ao menos quatro poços na sua sede, de onde pode retirar até 74 mil litros de água por hora.
De acordo com o documento da prefeitura, assinado pela arquiteta Rosilene de Toledo Marciano, "é certa a expansão da pluma de contaminação para áreas que extrapolam os limites [do shopping]. A continuação das obras sem a delimitação correta das plumas de contaminação (...) pode colocar em risco a comunidade do entorno e perpetuar a contaminação das águas subterrâneas", descreve a arquiteta.
Em julho de 2007, o shopping enviou carta à Cetesb informando sobre a contaminação e requisitou um certificado para a descontaminação.
O relatório foi apresentado à Cetesb em setembro de 2007 e confirmou a existência da contaminação do solo e da água subterrânea, por presença de benzeno, tolueno, xileno e naftaleno acima do permitido. Havia ao menos 4.500 toneladas de solo contaminado.
Apesar do certificado, chamado Cadri, o Iguatemi não atendeu às exigências da Cetesb, e sofreu nova advertência em setembro do ano passado, o que culminou em aplicação de multa, em 16 de maio deste ano, de R$ 7.925.
Novamente, o shopping procurou a Cetesb afirmando que o processo não havia caminhado porque não havia obtido autorização por parte dos órgãos da Prefeitura de São Paulo -Subprefeitura de Pinheiros, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e Convias (Departamento de Controle de Uso de Vias Públicas)- para a execução das sondagens e instalação dos poços de monitoramento fora da área da empresa.
Para a Cetesb, a instalação desses poços é fundamental para a delimitação da pluma de contaminação.
"A Cetesb aguarda o envio do relatório dessa investigação, sob risco de o shopping sofrer novas penalidades pelo descumprimento das exigências formuladas", diz a agência.


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