São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Duplicar ou não duplicar a rodovia dos Tamoios? Os prós e os contras

ORLANDO FONTES LIMA JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Questões como esta começam a ser cada vez mais comuns na mídia. Se antes a dimensão preponderante das decisões era apenas econômica, temos agora que, com grande pertinência, considerar os aspectos sociais e ambientais destas intervenções.
Os quadros técnicos brasileiros dominam hoje, para não dizer que são ponta tecnológica, as questões construtivas de obras com demandas de baixo impacto ambiental. Basta o exemplo da parte nova da rodovia dos Imigrantes para comprovar.
É claro que fazer intervenções em um dos últimos redutos preservados da serra do Mar tem um elevado risco ambiental e, com certeza, muitas medidas de mitigação e ações compensatórias deverão ser realizadas.
A questão é saber o que queremos do futuro e qual a disposição de pagar com escassos recursos ambientais.
Esta duplicação certamente abrirá uma nova conexão nacional e global para o mais importante quadrilátero, não só paulista, mas brasileiro.
Neste quadrilátero, composto por Sorocaba, Santos, Campinas e São José dos Campos, temos a melhor infraestrutura logística da América Latina (rede rodoferroviária, os aeroportos de Viracopos e Cumbica, trecho dutoviário e o porto de Santos) e alguns dos principais polos de atividades econômicos do tão falado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
A inclusão do porto de São Sebastião ampliaria muito a competitividade do quadrilátero, do Estado e do país em termos de comércio global.
Mas não esqueçam que estes conglomerados logísticos criam os chamados não lugares. Regiões onde os fluxos de passagem preponderam e acabam com a identidade local, incluindo sua cultura.
Outro aspecto a se considerar nesta intervenção é sua contribuição social -quer seja pela geração de empregos durante sua construção como depois pelo dinamismo econômico que trará ao litoral e ao vale do Paraíba.
Novamente não faremos isso sem custos. Os imóveis ficarão maiores, as praias, muito mais congestionadas e as filas continuarão grandes.
O exemplo da rodovia dos Imigrantes vale novamente.
A questão é importante? Sim, e deve ser pautada entre as mais críticas para o futuro governador do Estado. Só que deve ser considerada no contexto maior do planejamento para o longo prazo e discutida amplamente e de forma bem participativa com os segmentos da sociedade.
Tem que estar inserida na discussão relativa às infraestruturas de transportes e de logística. A questão está no mesmo nível, por exemplo, da ampliação do porto de Santos, do próprio porto de São Sebastião e da construção de novos aeroportos.


ORLANDO FONTES LIMA JR. é professor associado da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp e coordenador do LALT (Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes)


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