São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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EDUCAÇÃO
Para a maioria dos estudantes avaliados pelo provão, cursos deveriam ser um pouco ou muito mais exigentes
54% dos formandos criticam faculdades

Lili Martins - 17.ago.99/Folha Imagem
Wadson Ribeiro, presidente da União Nacional dos Estudantes


ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos estudantes que concluíram no ano passado os cursos universitários avaliados pelo provão ficou insatisfeita com a sua formação.
Um levantamento do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC) elaborado a partir de 145 mil questionários de formandos mostrou que, para 54,3% deles, o curso deveria ter exigido muito mais ou um pouco mais dos alunos.
Em alguns cursos, como em jornalismo, esse índice chega a 72,8%. Em direito, alcança 61,4%, e em economia, 59,9%.
Os cursos de engenharia civil, química, elétrica e mecânica são os que têm os estudantes mais satisfeitos. Nesses, a maioria dos estudantes respondeu que os cursos exigiram deles na medida certa ou até mais do que o esperado.
Formandos de administração, veterinária, odontologia, matemática, letras e medicina também responderam o questionário do Ministério da Educação.

Preocupação
Para o vice-presidente da Anup (Associação Nacional de Universidades Particulares), Paulo Alcântara Gomes, o dado é preocupante, mas não se pode culpar apenas as universidades por essa insatisfação.
"A primeira coisa que alguém vai querer fazer é jogar pedra no sistema público ou privado por causa dessa insatisfação", afirma Alcântara Gomes.
Uma das hipóteses levantadas pelo vice-presidente da Anup é que a dificuldade de conseguir emprego e estágio faz com que os jovens coloquem a culpa em sua formação acadêmica.
Wadson Ribeiro, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), concorda que a falta de boas perspectivas de emprego a curto prazo contribui para a insatisfação do formando.
"Mas essa frustração já começa quando o estudante entra na faculdade e percebe que, na maioria dos casos, não há pesquisa, bolsas de iniciação científica ou trabalhos de extensão universitária", afirma Ribeiro.
Para ele, a baixa qualidade de alguns cursos, principalmente particulares, também influi na avaliação dos estudantes.
"O ensino particular, que se expandiu muito mais do que o público nas últimas três décadas, tem uma visão limitada de apenas preparar o aluno para o mercado de trabalho, salvo algumas exceções", diz Ribeiro.
Magno de Aguiar Maranhão, presidente da Anaceu (Associação Nacional de Centros Universitários), entidade que representa cerca de 50 instituições particulares em todo o Brasil, diz que essa avaliação indica que as universidades precisam se adaptar a algumas exigências dos estudantes.
"As instituições de ensino superior estão formando pessoas para serem empregadas. O aluno precisa sair do curso preparado para encontrar oportunidades, ser empreendedor, em vez de pensar apenas em ser empregado de uma grande empresa", afirma.
Para Paulo Gomes, da Anup, a explicação para os alunos de alguns cursos avaliarem melhor o nível de exigência do que de outros pode ser explicada pelos currículos. "O currículo das engenharias é um dos mais bem elaborados e atualizados. Em outros cursos, ele está defasado e é muito antigo, o que decepciona o estudante", afirma.
Gomes credita a insatisfação dos formandos de jornalismo às críticas que o ministério fez aos cursos da área.
"Em jornalismo, por exemplo, acho que essa péssima avaliação é reflexo de matérias que saíram nos jornais no ano passado mostrando que, segundo o MEC, as condições de oferta eram ruins em boa parte dos cursos."
Apesar de achar que o curso deveria ter exigido um pouco ou muito mais, o estudante, em geral, avalia bem o conhecimento dos professores de seu curso.
De 113 mil estudantes que responderam à pergunta sobre o domínio que os professores têm do conteúdo de suas matérias, 23% afirmaram que todos os docentes demonstravam domínio atualizado das disciplinas, enquanto 52,2% disseram que a maior parte demonstrava.


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