São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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FORA DA LEI

Seqüência de fotos em favela do Rio mostra dois moradores, de 16 e 24 anos, mortos após se renderem a policiais

Polícia é acusada de matar jovens rendidos

Carlos Moraes/Agência O Dia
Deitados no chão, Luciano Custódio Sales, 24, e Charles Machado Silva, 16, são rendidos por policiais


DA SUCURSAL DO RIO

Dois jovens moradores de uma favela do centro do Rio são fotografados sob a mira de armas da tropa de elite da Polícia Civil do Rio. Estão com as mãos na cabeça, rendidos. Momentos depois, novas fotos mostram policiais carregando dois corpos ensangüentados, descendo a escadaria do morro da Providência, que fica atrás da Central do Brasil, de onde partem os trens que vão em direção ao subúrbio.
A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), exonerou ontem o delegado titular da Core, Gláucio Santos, e afastou cinco policiais da unidade acusados de matar Luciano Custódio Sales, 24, e Charles Machado Silva, 16.
A acusação de assassinato dos dois detidos rendidos surgiu em razão de seqüência de fotografias publicadas pelo jornal "O Dia".
Foram tiradas anteontem de um helicóptero da própria Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil), no qual a equipe do jornal foi autorizada a subir para acompanhar uma operação de busca a traficantes que haviam atirado contra outro aparelho da corporação.
Familiares e o delegado que comandava a operação reconheceram os mortos como os mesmos jovens que foram fotografados sob a mira de homens da Core.
O chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, afirmou que, dos dois, apenas Luciano Sales teve passagem pela polícia sob acusação de tráfico de drogas e porte ilegal de arma. Parentes e amigos negaram que a dupla tivesse envolvimento com o tráfico. A polícia afirmou ter apreendido com eles dois fuzis, uma base de sustentação para fuzil e um colete à prova de balas.
Segundo o diretor do Instituto Médico Legal (IML), Roger Ancilotti, foram encontrados três projéteis no corpo de Charles Silva e outros cinco no de Luciano Sales.
O laudo cadavérico indica que eles morreram com tiros no rosto, abdômen e virilha, sendo que os disparos foram feitos de frente e de cima para baixo. Ancilotti afirmou ainda que os tiros foram dados de média a longa distância.
Segundo o diretor do IML, seria feito um exame nas mãos dos dois rapazes para identificar se há vestígios de pólvora, o que indicaria se eles atiraram no helicóptero da polícia ou nos próprios policiais.
A Core é a tropa de elite da Polícia Civil. Seus agentes são treinados para operações especiais em favelas. Participavam de uma operação motivada por tiros disparados por traficantes contra o helicóptero Águia da Polícia Civil. Foi enviado um reforço ao morro, incluindo mais um helicóptero, em que se encontrava o delegado Gláucio Santos e a equipe de reportagem de "O Dia". Houve intenso tiroteio no morro.
Os cinco policiais afastados foram identificados como Roberto Macedo da Cunha, Rogério Bastos da Costa, Jair Pereira Freire Júnior, Rodrigo José Rodrigues e Marcos Antônio Agapito Teles de Matos. Poderão ser presos a qualquer momento, afirma a polícia, que aguarda a reunião de provas que possam incriminá-los.
"Nada justifica uma execução. O policial é pago para prender. Execução não é política de governo. Não podemos compactuar com um crime que possa ter ocorrido", disse o secretário de Segurança Pública em exercício, Marcelo Itagiba.
Anthony Garotinho, secretário de Segurança, pediu licença do cargo há dois dias para fazer campanha eleitoral para os candidatos do PMDB à eleição municipal.
No final da tarde, a polícia fez uma reconstituição do episódio no morro da Providência. Cerca de 50 moradores fizeram um protesto enquanto a polícia estava na favela. Os manifestantes pediram justiça e chamaram os policiais de assassinos. (MARIO HUGO MONKEN E SERGIO RANGEL)


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