São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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CARNAVAL

Agremiação se desculpa e tira, da sinopse do enredo, referência ao ditador nazista, que aparecia ao lado de Jesus e Gandhi

Vai Vai corta menção a Hitler após pressão

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A comunidade judaica de São Paulo conseguiu impedir que Adolf Hitler se transformasse em personagem do Carnaval paulistano no ano que vem.
O ditador nazista seria lembrado no sambódromo pela Vai Vai. Na sinopse do enredo da escola, Hitler aparece ao lado de Jesus, Buda e Gandhi como personagem "lembrado e imortalizado".
Apesar da referência na sinopse, o nome do ditador da Alemanha não aparece no samba "Eu também Sou Imortal". Mesmo assim, a Federação Israelita do Estado de São Paulo não gostou de ver o principal responsável pelo extermínio de seis milhões de judeus na época da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) associado à alegria do Carnaval.
A entidade entrou com representação no Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância), órgão da Polícia Militar paulista que investiga crimes como racismo, pedindo que a Vai Vai excluísse o nome do líder nazista da sinopse do enredo.
"Não se pode colocar um assassino como referência ao lado de figuras queridas por toda a humanidade", explica Jayme Blay, presidente da entidade. "Esse tipo de menção é ofensiva à memória de todos aqueles que morreram. É um assunto de extrema sensibilidade, evoca feridas incuráveis."
Procurada anteontem pelo Gradi, a escola de samba retirou imediatamente de sua página na internet a referência a Adolf Hitler e pediu desculpas à comunidade judaica de São Paulo.
Para o diretor de ala Clarício Aparecido Gonçalves, o caso não foi de censura: "Agradecemos por terem chamado a nossa atenção e pedimos desculpas se ofendemos alguém. Não imaginava que poderíamos ser mal interpretados. Nem em sonho faríamos um elogio a Hitler, um homem que só fez mal ao mundo".
De acordo com a Vai Vai, a pequena mudança na sinopse não muda o desfile da escola. Segundo o carnavalesco Raul Diniz, nunca se cogitou fazer fantasia ou carro alegórico inspirado no ditador nazista. Mas é provável que sósias de Jesus Cristo, Buda e Gandhi -as outras figuras "lembradas e imortalizadas" citadas no resumo do enredo- desfilem no sambódromo de São Paulo em 2005.
Outras escolas já viveram situações semelhantes. No ano passado, após ameaças do Ministério Público, a Leandro de Itaquera impediu que um casal de strippers simulasse cenas de sexo num dos carros alegóricos.
Em 2002, a carioca Beija-Flor teve que "esconder" entre passistas uma imagem de Nossa Senhora Aparecida por causa de protestos da Arquidiocese do Rio. Em 1989, pelo mesmo motivo, a escola, na época comandada por Joãosinho Trinta, ocultou sob sacos de lixo a alegoria de Cristo mendigo.


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