São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2000
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SAÚDE Áreas agrícolas do Incra concentram 60% dos casos da doença na Amazônia Legal, que teve 630 mil ocorrências em 99 Assentamentos fazem malária crescer 34%
FERNANDA DA ESCÓSSIA DA SUCURSAL DO RIO Os assentamentos agrícolas na Amazônia Legal (Estados da região Norte, além de parte do Maranhão, de Mato Grosso e do Tocantins) são hoje o principal cenário de transmissão da malária, uma das "doenças da pobreza" que ainda atacam o Brasil. Pelas estimativas da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), os assentamentos do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) na Amazônia Legal concentram 60% dos casos de malária. A doença recrudesceu nos últimos três anos, e o número de casos na Amazônia Legal -99,7% do total registrado no país- aumentou 34,2% de 1998 para 1999, quando foram registradas 630.747 ocorrências. Os assentamentos -a maioria deles do Incra, além de núcleos dos governos estaduais- substituem, como pólo de difusão da doença, os garimpos, principal palco da malária nos anos 70 e 80. Como acontecia nos garimpos, os assentamentos sofrem com más condições de saneamento ambiental e concentração populacional em lugares habitados pelo mosquito Anopheles (anófele), transmissor da doença. Causada pelo protozoário Plasmodium, a malária destrói as hemácias (células do sangue) e provoca anemia no doente, podendo, na sua forma mais grave, causar a morte. O anófele leva a doença de uma pessoa infectada para uma pessoa sadia. O mosquito se reproduz em águas limpas e semiparadas, como canais de rios e igarapés, muito comuns na Amazônia. "Esses projetos são construídos na selva, invadindo o habitat do mosquito, e praticamente sem nenhuma infra-estrutura de saneamento ou saúde. A malária é uma doença ligada à pobreza e ao caos social", afirma Romeo Rodrigues Fialho, gerente nacional do plano de controle da malária. Uma portaria com edição prevista para dezembro vai regulamentar as diretrizes do Ministério da Saúde e do Incra para as condições de saneamento ambiental nos assentamentos. Trabalhadores e beneficiados farão exames para verificar se alguém está contaminado pela malária. Um atestado da Funasa será uma espécie de "habite-se" ao local, comprovando que o risco da doença foi reduzido. O diretor do Incra para as regiões Norte e Centro-Oeste, Paulo Afonso Condé, reconhece o problema da malária nos assentamentos e diz que o órgão irá colaborar no controle da doença. "A maioria dos assentamentos surge por pressão social nessas regiões. Formam-se acampamentos, invasões, e o Incra adquire uma área para assentamento. Nunca foi muito contemplada essa questão de saneamento ambiental, a parte de saúde mesmo. Agora vamos fazer isso." O ataque à malária nos assentamentos -só nos núcleos mantidos pelo Incra na Amazônia Legal vivem 305 mil famílias- é parte do plano lançado este semestre pelo governo federal para deter a doença. A idéia é reduzir pela metade, até 2001, o número de casos. O plano terá verbas de R$ 145 milhões. Próximo Texto: Amazonas teve 167 mil casos no ano passado Índice |
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