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SORRISO FALHO
Metas da Organização Mundial da Saúde não são atendidas; 64% dos que têm mais de 65 anos são desdentados
Em SP, adultos têm saúde bucal deficiente
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de ter alcançado bons
índices de saúde bucal entre os
mais jovens, o Estado de São Paulo ainda está longe de atingir as
metas estabelecidas pela OMS
(Organização Mundial da Saúde)
para adultos e idosos. É o que
mostra um estudo feito no primeiro semestre deste ano pela Secretaria de Estado da Saúde.
Entre as causas apontadas para
tanto estão a deficiência no atendimento odontológico público a
pessoas fora da idade escolar. Somam-se a isso questões culturais,
falta de cuidados preventivos durante a infância e o fato de a água
para abastecimento público só ter
começado a ser fluoretada em 84.
A melhor performance do Estado é verificada entre as crianças
de 12 anos. Para essa idade, a OMS
preconiza que cada pessoa deve
ter três dentes cariados ou menos
(incluindo os dentes obturados);
o índice médio dos paulistas é 2,5.
Saindo dessa faixa etária, porém, a situação real dos paulistas
fica cada vez mais longe do ideal.
Para crianças de cinco anos, a
OMS determina que 50% não tenham nenhuma cárie; a porcentagem em São Paulo é de 47%. Entre
15 e 19 anos, 85% das pessoas devem ter todos os dentes; no Estado, isso é verdade para 80%.
A pior situação está entre os
adultos e idosos. Entre 35 e 44
anos, a OMS diz que 75% das pessoas devem ter 20 ou mais dentes;
em São Paulo, só 49% atingem essa meta. Entre 65 e 74 anos, só
10% dos paulistas possuem mais
de 20 dentes, e o percentual devia
ser de 50%. Nessa mesma faixa,
64% da população é desdentada.
A pesquisa, que integra o Projeto Saúde Bucal 2000 do governo
federal, avaliou 16,7 mil pessoas
em 35 cidades, incluindo a capital.
"Estender a atenção aos adolescentes, adultos e idosos é nosso
maior desafio e nosso calcanhar
de Aquiles", diz Vladen Vieira,
coordenador-executivo do estudo. Segundo ele, a tradição no
Brasil sempre foi dar atendimento
nas escolas às crianças de primeira à quarta série, o que passou a
ser feito também nos postos de
saúde a partir de 88. "Mas ainda
falta capacitação", sustenta.
Vieira ressalta ainda a persistência da cultura da extração no país.
"As pessoas, principalmente as
mais velhas, acham que perder os
dentes é inevitável. Por isso,
quando têm qualquer dorzinha,
preferem arrancá-lo a tratá-lo."
Uma alternativa para melhorar
a assistência odontológica, diz
Vieira, são as equipes do Programa de Saúde da Família. Para ele,
as ações de ensino da melhor forma de escovar, distribuição de escovas e pastas de dente e o atendimento gratuito das faculdades de
odontologia também ajudam.
"A situação das crianças que
não estão nas escolas e vivem nas
ruas é muito ruim. É comum que
elas tenham média de quatro ou
cinco dentes cariados", diz José
Rodrigues Fernandes, professor
de odontologia e saúde coletiva da
Unicsul (Universidade Cruzeiro
do Sul). Ele presta atendimento
em locais como o centro Dom
Bosco, em Itaquera (zona leste).
Foi lá que Nelson Vinícius Brito
da Silva, 16, e William Pereira da
Silva, 19, acabaram atendidos depois de um longo "jejum" de dentista. O resultado: ambos tinham
um número razoável de cáries:
quatro e três, respectivamente.
"Depois de mais de um ano e
meio, só vim aqui porque meu
dente estava incomodando", conta Nelson. Por pouco ele não perdeu o dente comprometido. "Fiquei cinco anos sem ir ao dentista
porque era muito difícil ser atendido no posto de saúde. Quero
usar aparelho [para corrigir os
dentes] e preciso deixar tudo em
ordem", afirma William.
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