São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 2002

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SORRISO FALHO

Metas da Organização Mundial da Saúde não são atendidas; 64% dos que têm mais de 65 anos são desdentados

Em SP, adultos têm saúde bucal deficiente

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de ter alcançado bons índices de saúde bucal entre os mais jovens, o Estado de São Paulo ainda está longe de atingir as metas estabelecidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para adultos e idosos. É o que mostra um estudo feito no primeiro semestre deste ano pela Secretaria de Estado da Saúde.
Entre as causas apontadas para tanto estão a deficiência no atendimento odontológico público a pessoas fora da idade escolar. Somam-se a isso questões culturais, falta de cuidados preventivos durante a infância e o fato de a água para abastecimento público só ter começado a ser fluoretada em 84.
A melhor performance do Estado é verificada entre as crianças de 12 anos. Para essa idade, a OMS preconiza que cada pessoa deve ter três dentes cariados ou menos (incluindo os dentes obturados); o índice médio dos paulistas é 2,5.
Saindo dessa faixa etária, porém, a situação real dos paulistas fica cada vez mais longe do ideal.
Para crianças de cinco anos, a OMS determina que 50% não tenham nenhuma cárie; a porcentagem em São Paulo é de 47%. Entre 15 e 19 anos, 85% das pessoas devem ter todos os dentes; no Estado, isso é verdade para 80%.
A pior situação está entre os adultos e idosos. Entre 35 e 44 anos, a OMS diz que 75% das pessoas devem ter 20 ou mais dentes; em São Paulo, só 49% atingem essa meta. Entre 65 e 74 anos, só 10% dos paulistas possuem mais de 20 dentes, e o percentual devia ser de 50%. Nessa mesma faixa, 64% da população é desdentada.
A pesquisa, que integra o Projeto Saúde Bucal 2000 do governo federal, avaliou 16,7 mil pessoas em 35 cidades, incluindo a capital.
"Estender a atenção aos adolescentes, adultos e idosos é nosso maior desafio e nosso calcanhar de Aquiles", diz Vladen Vieira, coordenador-executivo do estudo. Segundo ele, a tradição no Brasil sempre foi dar atendimento nas escolas às crianças de primeira à quarta série, o que passou a ser feito também nos postos de saúde a partir de 88. "Mas ainda falta capacitação", sustenta.
Vieira ressalta ainda a persistência da cultura da extração no país. "As pessoas, principalmente as mais velhas, acham que perder os dentes é inevitável. Por isso, quando têm qualquer dorzinha, preferem arrancá-lo a tratá-lo."
Uma alternativa para melhorar a assistência odontológica, diz Vieira, são as equipes do Programa de Saúde da Família. Para ele, as ações de ensino da melhor forma de escovar, distribuição de escovas e pastas de dente e o atendimento gratuito das faculdades de odontologia também ajudam.
"A situação das crianças que não estão nas escolas e vivem nas ruas é muito ruim. É comum que elas tenham média de quatro ou cinco dentes cariados", diz José Rodrigues Fernandes, professor de odontologia e saúde coletiva da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul). Ele presta atendimento em locais como o centro Dom Bosco, em Itaquera (zona leste).
Foi lá que Nelson Vinícius Brito da Silva, 16, e William Pereira da Silva, 19, acabaram atendidos depois de um longo "jejum" de dentista. O resultado: ambos tinham um número razoável de cáries: quatro e três, respectivamente.
"Depois de mais de um ano e meio, só vim aqui porque meu dente estava incomodando", conta Nelson. Por pouco ele não perdeu o dente comprometido. "Fiquei cinco anos sem ir ao dentista porque era muito difícil ser atendido no posto de saúde. Quero usar aparelho [para corrigir os dentes] e preciso deixar tudo em ordem", afirma William.


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