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ADMINISTRAÇÃO
Em Pinheiros, lei da limpeza pública é usada para impedir rabino de distribuir cestas básicas em avenida
Subprefeita quer vetar doação de alimentos
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Subprefeitura de Pinheiros
quer proibir a distribuição de alimentos para pessoas carentes em
um canteiro no Alto de Pinheiros
-bairro de classe média alta na
zona oeste de São Paulo.
A prefeitura alega que o projeto
é ilegal por ser realizado em área
pública. Para o rabino Avraham
Zajac, que coordena a distribuição das cestas, a proibição é fruto
do preconceito de moradores.
As doações ocorrem todas as
terças-feiras, desde agosto, num
canteiro da avenida Pedroso de
Morais, ao lado da praça Ernâni
Braga. Segundo Zajac, cerca de
300 cestas básicas são entregues a
cada semana. A distribuição começa às 14h mas, às 6h, já há pessoas à espera dos alimentos, doados por membros da comunidade
judaica do bairro.
Há duas semanas, a Subprefeitura de Pinheiros avisou o rabino,
por escrito, que, se ele continuasse a distribuir alimentos no local,
tomaria as medidas previstas na
lei municipal de limpeza pública.
A lei proíbe a exposição ou depósito de qualquer material (mercadorias, placas etc.) em locais
públicos, como canteiros e jardins. A pena prevista é a apreensão do material e o pagamento
das despesas de remoção.
Zajac, porém, diz que continuará a distribuir as cestas.
A subprefeita Bia Pardi afirmou
ontem que não pretende tomar
nenhuma atitude "agressiva" no
caso. "Eu vou insistir em conversar com o rabino até ele entender
que a praça não é lugar para isso.
Não é só porque é uma benemerência que ele pode fazer à revelia
de todas as outras pessoas."
As principais críticas ao projeto
são referentes à sujeira deixada no
local e ao risco de acidentes, já que
a Pedroso de Morais é uma avenida movimentada e a distribuição
ocorre no canteiro central.
O primeiro aspecto -a sujeira- já está resolvido, segundo
Zajac. Ele contratou uma das pessoas assistidas para recolher todo
o lixo deixado após a distribuição
das cestas básicas.
Quanto à segurança, Zajac diz
que pediu à subprefeitura que articulasse com a guarda municipal
ou com a CET (Companhia de
Engenharia de Tráfego) um esquema que garantisse a ordem no
local durante a distribuição.
Outra alternativa proposta por
Zajac à subprefeitura foi a transferência do projeto para um local
público mais adequado. Pardi,
porém, argumenta que a prefeitura não dispõe de terrenos para
acolher o projeto, pois Pinheiros
já é um bairro urbanizado.
"Concordo com todas as questões verbalizadas [limpeza e segurança], e todas elas podem ser solucionadas. As não-verbalizadas
são o preconceito e o medo de que
chegue ao bairro um tipo de elemento que antes não tinha", afirma o rabino.
Pardi contesta. "A população
daqui conhece a legislação e acha
que praça não é para isso. Ninguém está proibindo ele de distribuir cestas básicas, ninguém disse
que isso não é bonito. O que não
pode é fazer ali."
O projeto surgiu no canteiro por
ser o local onde, há 11 anos, mora
o sem-teto Raimundo Arruda Sobrinho, 65. Folclórico na vizinhança, onde se diz que ele é filósofo e está escrevendo um livro,
Sobrinho já foi atendido pela prefeitura mas não quis sair dali.
Quando Zajac perguntou como
poderia ajudá-lo, pediu comida
para os amigos. "Na minha vida,
não mudou nada. Mas o povo está
feliz. Eles precisam de quem os
ajude", afirma Sobrinho.
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