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VIOLÊNCIA
Para inspetor-geral, vazamento de denúncia contra PMs do Rio pode ter provocado morte; testemunhas recusam proteção policial
Para policial, denúncia motivou crime
MICHEL ALECRIM
DA SUCURSAL DO RIO
O inspetor-geral da polícia, coronel João Carlos Ferreira, admitiu ontem a possibilidade de o vazamento da denúncia contra policiais militares ter provocado a
morte do guardador de carros
Leandro dos Santos Silva, 24. Ele
teria sido assassinado, anteontem, por PMs na favela de Parada
de Lucas, zona norte do Rio.
Os parentes de Silva acreditam
que o fato de ele ter denunciado
os PMs por tortura e extorsão foi
o motivo do assassinato.
Ferreira, no entanto, diz que
prefere trabalhar com a hipótese
de os PMs terem dado uma demonstração de poder. O guardador, que é funcionário da CET, teria sido assassinado por só ter pago a metade dos R$ 2.000 exigidos
pelos PMs. A Secretaria de Segurança Pública só reconhece essa
hipótese e nem sequer investiga se
houve vazamento da denúncia.
Oito policiais foram presos, anteontem, sob acusação de torturar
e extorquir dinheiro de moradores da favela e de matar Silva. Eles
negam as acusações.
A líder comunitária que denunciou o sequestro, a tortura e a extorsão praticada contra Silva também suspeita que policiais que tomaram conhecimento da denúncia poderiam ter passado a informação para os envolvidos.
Segundo ela, que pede para não
ter o nome revelado, três comerciantes da favela foram vítimas
dos mesmos PMs, que pertencem
ao 16º BPM (Olaria).
Um parente que disse ter visto o
momento em que o guardador foi
morto contou ontem, no enterro,
que os PMs chegaram a afirmar
que o motivo da morte foi o fato
de a vítima ter denunciado os policiais. Segundo essa testemunha,
os policiais disseram que é isso
que acontece com "alcaguete".
Um primo do guardador diz
que os parentes estavam tentando
arrecadar os R$ 1.000 que faltavam para pagar a extorsão. O prazo dado pelos policiais militares
seria até ontem, mas a denúncia
teria motivado o crime.
Como a líder comunitária que
fez a denúncia procurou primeiro
a OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), a Assembléia Legislativa e
a Corregedoria da PM, Ferreira
acha que o vazamento, se houve,
pode ter partido de qualquer um
desses lugares, ou até da 5ª DP,
onde o caso foi registrado. "Acho
que eles queriam mesmo aterrorizar a comunidade", disse Ferreira.
Mesmo com a prisão de oito
suspeitos, familiares do guardador estão com medo de represálias da polícia. Eles recusaram a
proteção oferecida ontem pela Secretaria de Segurança Pública.
Segundo parentes e moradores,
os policiais fotografaram os participantes de um ato realizado anteontem na avenida Brasil, logo
após o crime. Os PMs também teriam ido na casa de um parente de
Silva fotografar os familiares.
Silva foi enterrado ontem, às
12h, no Cemitério de Irajá. Em coro, familiares e amigos gritaram:
"Ino, ino, ino, 16º é assassino", em
referência ao 16º Batalhão.
Troca de tiros
Em depoimento na 38ª DP (Brás
de Pina) que foi até as 5h de ontem, os oito policiais presos apresentaram a versão de que teriam
ido à favela para uma operação.
Ao chegarem, trocaram tiros com
quatro traficantes. Na versão dos
acusados, Silva estaria no grupo.
O Ministério Público Estadual
quer que seja feita a reconstituição do caso. A Corregedoria da
PM pedirá à Justiça a quebra do
sigilo telefônico dos oito policiais
suspeitos. O ex-comandante do
16º BPM coronel Lourenço Pacheco também terá suas ligações
telefônicas vasculhadas. Ele foi
exonerado e também está preso.
Num galpão onde seria praticada a tortura pelos policiais, foram
encontrados objetos que pertenceriam ao guardador.
Nova denúncia
O secretário de Segurança, Anthony Garotinho, informou que
dois policiais foram presos em flagrante ontem, numa delegacia,
negociando por R$ 100 mil a liberdade do traficante José Roberto
Pinto da Costa, o Capixaba, 29,
chefe do tráfico nas favelas da
Mandela e da Varginha, em Manguinhos (zona norte do Rio).
O delegado titular, que não estava na delegacia no momento do
flagrante, foi exonerado do cargo,
e outros dois PMs envolvidos no
crime estariam foragidos.
A Folha não conseguiu localizar
os advogados dos policiais.
Garotinho afirmou que o celular do traficante estava grampeado havia 15 dias e que nas próximas horas outros policiais civis e
militares devem ser presos.
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