São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Parentes enterraram corpos no quintal

Defesa Civil orientou familiares a fotografar os mortos antes de enterrá-los

Em Gaspar, caminhão frigorífico é usado para armazenar os cadáveres; base do instituto de perícia foi montada em um sítio

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

A Defesa Civil de Santa Catarina orientou a população que está em áreas isoladas, sem acesso a IMLs (Instituto Médico Legal), que enterrem corpos no quintal de suas casas.
Antes de enterrá-los, os moradores devem fotografar os mortos, para que posteriormente sejam exumados e recebam o destino correto.
"Orientamos pessoas que ligaram e não sabiam o que fazer com os mortos. Depois, faremos a retirada definitiva dos corpos", disse o major Emerson Emerim, um dos gerentes da Defesa Civil do Estado.
Até um caminhão frigorífico é utilizado para receber corpos na região de Gaspar (140 km de Florianópolis).

Perícia
A dificuldade de acesso a alguns municípios fez com que o IGP (Instituto Geral de Perícias) criasse duas bases, em Gaspar e Luiz Alves, com médico-legista e técnicos, para o recebimento de corpos, e uma base de distribuição de materiais no aeroporto de Navegantes.
A base de Luiz Alves foi montada em um sítio; a de Gaspar, em uma casa mortuária. Foi para essa cidade que o IGP encaminhou um caminhão frigorífico com capacidade para armazenar 200 corpos.
"O caminhão fica ligado a -15 C, o que congela o corpo para não deixar apodrecer. Então, não existe necessidade nenhuma de enterrar na emoção", disse José Ortiga, gerente de medicina legal do Estado.
De acordo com o major Emerim, os corpos que devem ser encontrados na região do Morro do Baú, em Ilhota, deverão ser levados para a base de Gaspar. "Extra-oficialmente, há a possibilidade de 40 pessoas estarem soterradas lá", disse.
O gerente de medicina legal contou que um prefeito, de uma cidade da qual ele não se recorda, mandou enterrar 17 corpos sem o procedimento legal e que pessoas foram enterradas no quintal de casas na região de Gaspar e Luiz Alves.
Para o médico, os "enterros clandestinos" não devem ocorrer para que não haja "dificuldades nos trâmites legais". Ortiga afirmou que não tem informações sobre cemitérios alagados, que se encontram, na maioria das vezes, em partes altas das cidades.
O Estado tinha, até ontem, 62 corpos identificados. Estima-se que cerca de 40 corpos tenham sido enterrados sem passarem pelo IML.

Itajaí
De tão pequeno, instalado nos fundos de uma delegacia da região central, o IML de Itajaí já não tem mais espaço para tantos cadáveres e parou de receber os mortos. Na manhã da última quinta, 14 corpos, em grupos de quatro e de três, eram amontoados nas quatro geladeiras do lugar, que atende sete cidades da região.

Colaborou VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO, enviado especial a Itajaí



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