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ENTREVISTA
DIRCEU DE MELLO
"Vamos levar cursos da PUC para o interior e o país"
Novo reitor diz que expansão é forma de melhorar a situação financeira da universidade
LEVAR OS CURSOS da PUC-SP para fora de
São Paulo é um dos objetivos do novo reitor
da universidade, Dirceu de Mello, que assume o posto hoje. A expansão, afirma o professor, é uma forma de captar recursos
e de melhorar a situação financeira da instituição,
que há três anos cortou 30% dos seus docentes por
causa de uma crise econômica.
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Professor titular de direito
penal da universidade, Dirceu
de Mello, 79, conversou com a
Folha sobre as propostas para
a instituição. Após vencer eleição interna, ele sucederá a
Maura Véras à frente da universidade, que conta com
36.500 alunos (graduação e
pós-graduação), em cinco campi, todos em São Paulo.
A dívida total da PUC é de
R$ 314 milhões -o último balanço publicado aponta uma receita líquida anual de R$ 299
milhões. Diferentemente do
início da gestão Maura Véras,
não há mais déficit mensal.
Apesar de ter feito oposição a
sua antecessora (sua chapa se
chamou Uma Nova PUC), Mello disse que "ela desenvolveu
muita coisa interessante, que
será preservada e ampliada".
Após vencer a eleição interna, Mello teve de ser confirmado pelo cardeal dom Odilo Pedro Scherer. Ele assume para o
mandato de quatro anos com
seu vice-reitor, Antonio Vico
Mañas, professor de administração da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária.
Mello, que teve 45,2% dos votos, ganhou nos três grupos da
universidade (docentes, alunos
e funcionários). Em segundo ficou o atual vice-reitor administrativo, Flávio Saraiva, seguido
de Neusa Bastos, assessora da
vice-reitoria acadêmica, e Fábio Gallo, ex-vice-reitor.
FOLHA - Quais são as prioridades?
DIRCEU DE MELLO - Em primeiro
lugar, sanear os problemas financeiros. E preservar a qualidade acadêmica. Na última avaliação do MEC [Ministério da
Educação], a PUC foi bem avaliada, o que é um patrimônio a
se preservar [cita indicador que
classificou a instituição como a
melhor universidade particular
do Estado].
FOLHA - Como o sr. avalia a atual situação financeira da universidade?
MELLO - Está sob controle e
sendo bem administrada. Agora, precisamos diminuir a dívida e conseguir saldo para melhorarmos a estrutura.
Ela é modesta, precisa melhorar. Estamos angustiados.
FOLHA - O sr. pretende fazer mudanças na gestão financeira?
MELLO - Só terei o controle das
particularidades após assumir.
FOLHA - Há espaço para crescimento da instituição?
MELLO - A idéia é usar o nome
da universidade para fazer parcerias, desenvolver projetos,
firmar convênios. A PUC é respeitada no Brasil e até fora do
país. Esse potencial precisa ser
bastante explorado.
Teremos uma central de projetos, para verificar quais são
interessantes. Pensamos em levar cursos para outros pontos
do Estado e do país. Queremos
jogar com nosso potencial.
FOLHA - É uma expansão na graduação, pós-graduação...?
MELLO - Analisaremos com as
áreas interessadas. Mas já temos solicitações a respeito para
a pós-graduação.
Quando eu era diretor da Faculdade de Direito [de 2002 a
2005], tivemos uma proposta
interessante do Estado de Rondônia. Projeto preparadinho,
para um curso de pós-graduação stricto sensu. Era só conseguir a aprovação aqui.
Mas a estrutura que tínhamos dificultou o andamento.
Após quase um ano, o projeto
foi aprovado, mas já era tarde.
O Estado havia fechado acordo
com uma universidade do Rio.
O mercado exige dinamismo.
Já há cursos fora de São Paulo na pós-graduação lato sensu
[há em seis cidades, todos na
área de direito]. O problema é
dinamizar, multiplicar, para
não perdermos oportunidades.
FOLHA - Mas a idéia é ter campi da
PUC fora de São Paulo, ou seja, novos prédios?
MELLO - Não. Seria parecido
com o caso de Rondônia, em
que o Poder Judiciário nos colocaria à disposição a parte material, e nós entraríamos com
os professores e o nome. Pode
ser também com cursos profissionalizantes e lato sensu. São
formas de captar recursos.
FOLHA - Haverá ampliação da PUC
em São Paulo?
MELLO - Há espaço, principalmente no interior.
FOLHA - Mas o número de vestibulandos tem caído no país e em SP.
MELLO - O que importa é a qualidade do que é oferecido. Temos inúmeras faculdades de direito, por exemplo, mas sabemos quais são as que oferecem
a qualidade que será procurada.
FOLHA - Como docente de direito,
como o sr. avalia o ensino jurídico no
país atualmente?
MELLO - Lamentavelmente, se
admitiu a instalação de inúmeras faculdades de direito. É um
mal, que envolve também a
classe médica. Profissionais
sendo colocados no mercado
sem qualificação.
A remediação tem de vir do
Ministério da Educação. Mas
eles têm apertado, já reduziu-se o número de alunos em algumas faculdades. É uma medida
positiva. Mas é sempre mais difícil fechar a porta. Era mais fácil não deixar abrir.
FOLHA - De que forma essa expansão afeta a PUC?
MELLO - Isso tem de ser analisado. Mas temos de ver também as experiências bem-sucedidas. A [Fundação] Getulio
Vargas, por exemplo, há até
pouco tempo não tinha curso
de direito. Hoje já tem.
É mais para área empresarial, mas se amanhã cuidar de
áreas que temos aqui, como direito civil e penal, temos de estar preparados.
A boa concorrência é legítima, nos força a aumentar o
potencial.
FOLHA - Em seu programa de
gestão há um item que é contar com
a ajuda dos alunos formados na universidade. Como fazer isso?
MELLO - Hoje temos 200 mil
ex-alunos. Queremos que eles
contribuam, pessoal ou materialmente. São pessoas que precisam ser recrutadas para continuar batalhando pela sua universidade. Queremos fazer um
programa articulado. Mas eu e
a minha equipe ainda estamos
analisando todos esses pontos.
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