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SAÚDE MENTAL 2
Paciente internado custa ao governo R$ 700 por mês, contra R$ 300 dos instalados em moradias terapêuticas
Socialização é mais rápida
fora de hospital
da Reportagem Local
Na casa do bairro Santa Odila,
em Campinas, os sete moradores
têm telefone, TV, fazem supermercado toda semana e variam o
cardápio todo dia. Cada morador
custa R$ 300 por mês, incluindo
acompanhamento especializado.
Internados, custariam R$ 700,
valor mensal que o governo paga
por internação psiquiátrica.
Há argumentos fortes em defesa
da medida: compartilhar uma casa
está permitindo aos pacientes uma
socialização rápida e uma qualidade de vida impossível dentro dos
muros do hospital.
"A capacidade de aprender dessas pessoas vem confirmando que
morar fora é fundamental para a
saúde mental", afirma o psiquiatra Willians Valentini, superintendente do Cândido Ferreira, um
hospital filantrópico que atua em
co-gestão com a prefeitura.
"A moradia é hoje o ponto nevrálgico da reforma psiquiátrica",
afirma a psicóloga Isabel Cristina
Lopes, coordenadora-geral da
ONG SOS Saúde Mental.
Sem um lugar para morar, não
há como promover a desospitalização de pacientes cronificados,
aqueles que passaram a viver dentro dos hospícios.
Instalar os loucos em casas comuns é uma das principais reivindicações dos militantes da luta antimanicomial, que no Brasil já tem
quase 20 anos.
Em 1994, foi criada a Comissão
Nacional para a Reforma Psiquiátrica. A comissão é a autora da minuta que cria os lares abrigados e
que será analisada esta semana pelo Conselho Nacional de Saúde.
Estrutura
Embora o paciente fora do hospital custe bem menos para o Estado, o programa no seu conjunto
deve custar mais, já que os municípios terão que montar estruturas
para acompanhar os pacientes.
"Cada vez que um paciente for
para um lar abrigado, o hospital
terá que fechar uma vaga", diz o
psiquiatra Nacile Daud Junior, um
dos autores da projeto.
O programa segue o espírito de
dois projetos que tramitam na Câmara dos Deputados e na Assembléia Legislativa paulista e que definem a reforma psiquiátrica.
Uma primeira tentativa para desospitalizar cerca de 20 "pacientes-moradores" foi feita no início
dos anos 90 com o PAD (Programa de Apoio à Desospitalização),
segundo Alfredo Schechtman, do
serviço de saúde mental do Ministério da Saúde.
O programa consistia em repassar o dinheiro que o SUS (Sistema
Único de Saúde) pagava por internação (R$ 700 mensais) para os
municípios e para o próprio paciente, com uma sobra de caixa
para o governo.
O programa emperrou num parecer jurídico do próprio ministério, já que o dinheiro do SUS não
pode ser repassado diretamente ao
paciente ou para moradias.
Segundo Schechtman, o que
derrubou a proposta foi um lobby
encabeçado pelos hospitais privados e por familiares dos pacientes.
"As mudanças dependem de decisão política", afirma.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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