São Paulo, Quarta-feira, 29 de Dezembro de 1999


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Gabriela, 4, morre após resgate dramático

da Agência Folha, em Olinda

As equipes que atuavam no resgate das vítimas do prédio já se preparavam para utilizar tratores para a remoção dos entulhos quando, às 4h de ontem, ouviram o que parecia ser um miado vindo debaixo dos escombros.
"Todos quietos", ordenou um dos oficiais que comandava a operação. No silêncio, puderam ouvir um choro, seguido de um grito: "Mãinha". A voz era de Gabriela Cristina da Silva Queiróz, 4, moradora do apartamento 101.
Quando o prédio desmoronou, Gabriela estava acompanhada da mãe, de uma irmã e de uma tia. Até então, só ela havia sobrevivido. A menina morreu quando todos pensavam que estava salva, uma hora após ser resgatada pelos grupos de salvamento.
Segundo a médica cardiologista do Prontolinda, que atendeu a criança, Gabriela sofreu parada cardíaca provocada por asfixia. Ela aspirou poeira e resíduos e estava com o tórax afundado do lado esquerdo. Havia ainda fraturas nas costelas e no pé esquerdo.
O resgate de Gabriela foi dramático e acompanhado por cerca de 300 pessoas, segundo a PM. A operação começou às 6h e terminou às 12h45, quase 20 horas após o desabamento. No tempo em que permaneceu debaixo os escombros, a menina chorou, conversou e chamou pela mãe.
Gabriela estava deitada de bruços, sobre um sofá, com o pé esquerdo preso por uma laje na altura de seu tornozelo. Do lado oposto, uma estante de madeira evitava que o pedaço de concreto desabasse sobre seu corpo.
Por um buraco aberto a cerca de dois metros de distância da menina, homens da equipe de resgate se revezavam na tentativa de retirá-la do local. Ao mesmo tempo, conversavam com a menina.
"O que você está fazendo?", perguntou a ela o capitão Manoel Cunha, da Defesa Civil. "Estou tomando guaraná", respondeu Gabriela. "Depois, eu quero um sorvete e tomar banho de piscina, porque está calor", disse.
Parentes da criança que acompanhavam o resgate rezavam de mãos dadas, em voz alta, com amigos e desconhecidos. O tempo, no entanto, passava, e as equipes não conseguiam removê-la. Havia risco de desmoronamento.
Às 11h35, um oficial do grupo de resgate ordenou a utilização de um guindaste. "Não temos mais tempo a perder", gritou.
Vigas de madeira foram instaladas para escorar a laje, enquanto o guindaste retirava grandes pedaços de concreto. Às 12h45, Gabriela foi resgatada, em meio a gritos, aplausos e choro.
A menina, entretanto, estava desacordada e precisou ser submetida a massagem cardíaca antes de ser levada ao hospital. O socorro continuou no Prontolinda, mas ela morreu às 13h50.


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