|
Próximo Texto | Índice
TRANSPORTE
Obras não devem terminar até o fim do mandato da prefeita Marta Suplicy; secretaria não explica aumento de custos
Fura-Fila atrasa e já custa mais de R$ 400 mi
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele ganhou nome novo, teve
suas características alteradas, mas
dificilmente será finalizado no
primeiro mandato da prefeita
Marta Suplicy (PT) e deve ter seu
custo final próximo ao da extensão de 2,8 km da linha 2-verde do
Metrô, entre a estação Ana Rosa e
a futura estação Imigrantes.
As obras do Fura-Fila, bandeira
do ex-prefeito Celso Pitta batizada de Paulistão pela gestão petista, já consumiram até agora R$
318 milhões, de acordo com valores levantados e atualizados pela
assessoria do vereador Roberto
Tripoli (PSDB), com base no sistema de execução orçamentária
-a Secretaria Municipal dos
Transportes foi contatada desde
segunda-feira para esclarecer essa
informação, explicar os motivos e
os prazos oficiais, mas não deu
respostas até ontem à noite.
O resultado de uma nova licitação, publicado no último dia 24
no "Diário Oficial", prevê mais R$
143,8 milhões para as "obras remanescentes da ligação Parque
Dom Pedro-Sacomã", valor que
eleva os custos finais do empreendimento a R$ 461,8 milhões (ou
R$ 411,9 milhões se for desconsiderada a correção inflacionária).
Esses valores superam e muito
os que foram divulgados nos últimos anos -e surpreendem por
se tratar de um transporte de média capacidade sobre pneus, defendido por técnicos por ser geralmente muito mais barato do
que as opções sobre trilhos.
Essa verba equivale a quase seis
vezes a soma dos modernos corredores Pirituba e São João, inaugurados em dezembro de 2003.
Em 1998, com base nos contratos assinados com a construtora
Queiroz Galvão, a gestão Pitta dizia que os 8,5 km da ligação Parque Dom Pedro-Sacomã custariam R$ 147 milhões -que, por
valores atualizados com base no
IPC-Fipe, seriam hoje próximos
de R$ 210 milhões.
Em outubro de 2001, a gestão
Marta anunciou que levaria a linha até São Mateus, num total de
22,5 km. Anunciava ainda mudanças no projeto para "reduzir
os gastos" (os ônibus a eletricidade seriam substituídos por híbridos e as canaletas seriam retiradas). A totalidade sairia por R$
288 milhões, que, atualizados,
chegam hoje a R$ 345 milhões.
O resultado é que nada ainda está concluído (nem os 8,5 km iniciais nem os 22,5 km totais) e os
gastos já superaram a previsão.
No mês passado, a Folha mostrou
que os trechos da obra na avenida
do Estado foram transformados
em depósito de entulho. Os alojamentos dos operários, em moradia para sem-teto.
Na gestão Pitta, a promessa era
fazer a entrega em seu mandato.
A gestão Marta chegou a planejar
uma inauguração às vésperas do
aniversário de 450 anos de São
Paulo. O recente edital para as
"obras remanescentes", entretanto, estabeleceu um prazo contratual de mais 18 meses.
Uma das sinalizações de que
não há perspectiva de término na
atual administração foi a decisão
da prefeitura de transferir para os
corredores convencionais, a partir de março, os 15 ônibus híbridos (que combinam motores a
diesel com eletricidade) comprados no ano passado especialmente para rodar no Fura-Fila.
A retomada da obra deixada
inacabada por Pitta era um compromisso de campanha de Marta.
"Deixar carcaças paradas no meio
da rua é desperdiçar dinheiro público", dizia ela em junho de 2000.
Em seu primeiro mês de mandato, ao saber que os R$ 147 milhões de custo previstos na gestão
anterior já tinham subido para R$
230 milhões, a prefeita criticou
seus antecessores Pitta e Paulo
Maluf. "Mas esqueleto em meu
governo não vai ter", afirmou.
"O dinheiro já gasto nesse esqueleto seria suficiente para construir 10 mil moradias populares",
rebateu ontem Tripoli.
Próximo Texto: Metrô começa desapropriações Índice
|