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BARBARA GANCIA
De volta à estaca zero
Um pouco por dever de ofício, um pouco por curtição e
com uma ponta de inveja dos
festejos do quarto centenário de
São Paulo, data em que a cidade
ganhou de presente nada menos
do que o parque Ibirapuera, fui
à apresentação, no sábado à
noite, da fonte luminosa no lago
do "meu" parque.
Digo que ele é meu pois, durante 23 anos, morei em uma avenida que faz fronteira com o Ibirapuera e aprendi a tratar o parque
como quintal da minha casa.
Adoraria ter a sensibilidade de
um Tom Zé, que só viu belezura
nas comemorações da nossa São
São Paulo. Infelizmente, sou forçada a confessar que saí da apresentação como uma Rita Lee cantando "Garota de Ipanema".
O show de águas dançantes,
marcado para as 20h, só teve início às 20h40. E as pessoas ao meu
redor, que já tinham começado a
falar em "desrespeito" e "falta de
consideração", agora reclamavam da presença de um balão
luminoso da Kaiser, que impedia
todo o público posicionado na
parte do lago que olha para a
avenida República do Líbano
de assistir o espetáculo.
Assim que a fonte começou a
jorrar, me deu uma saudade
lacrimosa do show de águas dançantes do circo Orlando Orfei, que
costumava se apresentar na cidade nos anos 60. Preciso dizer
mais? Note que, naquela época,
não existia esse negócio de
programa de computador.
Uma queima de fogos muito da
merreca encerrou o espetáculo e,
na hora em que eu me dirigia, cabisbaixa, para o meu carro, uma
senhora passou por mim dizendo
que, em vez da fonte, preferia um
desconto no Pão de Açúcar. Um
leitor me escreveu no dia seguinte
para reclamar que o desenho da
fonte faz jorrar o logotipo do Pão
de Açúcar. Ora, os dois jatos
d'água de antes também não
compunham o mesmíssimo logo?
Não disse que ela merecia uma
estátua em praça pública? Bastou
a ministra Emília Fernandes falar em planejamento familiar para ser ejetada do cargo. O discurso
do governo mudou de tal maneira que, agora, quando o assunto
são as formas de controle da fecundidade, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, prefere citar a velha lenga-lenga da igreja e dizer que não se
deve "diminuir o número de participantes no banquete, e sim aumentar a oferta de alimentos".
Ora, ora. Será que as convicções
religiosas do ministro Ananias
podem ocultar o fato de que, a
cada minuto, nascem crianças
indesejadas no país?
QUALQUER NOTA
Inversão de valores
Não entendi nada. Na chegada
a Minas, 277 brasileiros deportados dos EUA foram recebidos
como heróis e homenageados
com o hino. Será que eles ganharam alguma competição esportiva e só as famílias ficaram
sabendo ou tentaram entrar ilegalmente em outro país?
Quanta consideração!
A American Airlines quer mesmo deixar claro o seu apreço
pelos brasileiros. Em vez de impedir o embarque do turista
norte-americano embriagado
que acabou preso em Cumbica,
a empresa tratou de fazê-lo seguir viagem pela Varig. E o piloto do dedo em riste, será que
já foi exonerado?
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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