São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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NADA É PROIBIDO

Sistema de pontos criado na USP permite criar cardápio mais saudável em casa sem abdicar de alimentos pesados

Dieta libera gordura e controla colesterol

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sorvete cremoso, batata frita, bacon, ovos, manteiga, salame. Alimentos como esses, sempre apontados como vilões de uma vida saudável, já podem ser consumidos sem culpa mesmo por aqueles que lutam para reduzir os níveis de gordura no sangue. Basta moderação e saber fazer conta.
É a proposta de um novo tipo de dieta para o controle dos níveis de LDL (colesterol "ruim") e triglicérides, fatores de risco para doenças cardiovasculares e que afetam ao menos 24 milhões de brasileiros. A dieta é inédita no Brasil.
O método é baseado em uma pontuação: quanto maior a concentração gordurosa dos alimentos, maior o número de pontos. A dieta tradicional para redução de colesterol veta o consumo de alimentos gordurosos.
A idéia é que as pessoas possam comer qualquer tipo de alimento, desde que não exceda a pontuação. No caso de homens de até 55 anos, é permitido o acúmulo de 30 pontos. Para as mulheres, são 25 pontos. Os alimentos foram classificados de acordo com a quantidade de colesterol e de gordura saturada que possuem.
O sistema, uma adaptação da dieta tradicional de pontos para emagrecimento, foi desenvolvido por pesquisadoras do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP de São Paulo e demonstrou ser mais eficaz que o regime clássico.
Foram testadas 62 pessoas com colesterol alto: metade aderiu à dieta dos pontos e a outra metade, à tradicional. Ao final de quatro meses, o primeiro grupo teve redução de 18% do colesterol total, 13% de colesterol ruim e 22% de triglicérides. Os índices de redução do grupo que seguiu a dieta tradicional foram mais modestos: 10% no colesterol total, 9% de LDL e 15% de triglicérides.
Para a pesquisadora Elizabeth Ferraz da Silva Torres, que coordenou o estudo, a dieta da pontuação, por ser mais flexível, pode ganhar mais adeptos do que o regime clássico. "Ninguém é de ferro. De que adianta poder comer alface à vontade se o camarãozinho frito é proibido?", brinca.
Na avaliação do cardiologista Raimundo Marques Nascimento, presidente do Funcor (fundação do coração), ligado à Sociedade Brasileira de Cardiologia, ainda que seja mais maleável, a dieta dos pontos, assim como as outras, é difícil de ser seguida à risca a longo prazo. "Passados três, quatro meses, as pessoas relaxam."
Porém, ele considera a proposta válida porque, nessas situações, as pessoas sempre incorporam algum hábito saudável. "Se trocarem o queijo amarelo pelo queijo branco ou usarem óleo vegetal, já serão medidas que podem ter boa repercussão a longo prazo."
Para o fisiologista Carlos Eduardo Negrão, do Incor, o ideal é associar exercícios físicos à dieta.
O exercício físico não faz baixar o colesterol LDL, mas ajuda a aumentar a produção da HDL (colesterol bom). Estudos recentes do Incor mostram que pessoas que fazem atividade física regular aceleram a "lavagem" do colesterol ruim dentro dos vasos sangüíneos. A remoção da LDL é até quatro vezes maior entre os adeptos da atividade física em relação às pessoas de costumes sedentários (leia texto nesta página).
Embora não conheça a dieta, a médica Valéria Cunha Campos Guimarães, presidente da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), avalia que ela só possa ser aplicada às dislipidemias leves.
A taxa de colesterol total no organismo considerada boa é de até 200 mg/dl, embora a faixa limite seja entre 200 mg e 240 mg/dl. Acima disso, o risco de ter obstruções nas artérias e problemas cardíacos aumenta. "Com taxas até 220 mg, ainda pode-se tentar a dieta. Depois disso, tem que usar medicamento", afirma Valéria.
As drogas mais utilizadas hoje para esse fim são as estatinas, cuja indicação para pessoas sem risco cardiovascular está sendo colocada em xeque nos EUA.
O cardiologista Nascimento ressalta que pessoas já sofreram infarto ou AVC (acidente vascular cerebral), hipertensos, diabéticos ou com histórico familiar de doenças cardiovascular são os maiores candidatos ao medicamento. O próximo passo da pesquisa será testar os efeitos do sistema de pontos no tratamento de indivíduos que tomam remédios para controlar o colesterol.
"Queremos saber se associação da dieta com os medicamentos ajuda a reduzir ainda mais as taxas de colesterol", explica Marcia Nacif, uma das pesquisadoras.
Segundo pesquisas norte-americanas, as dietas conseguem reduzir, no máximo, 20% do colesterol. Ainda assim, elas são indicadas mesmo para as pessoas que utilizam medicamentos.
A metodologia da dieta dos pontos para controle do colesterol é fruto de pesquisas realizadas pelas nutricionistas Edeli de Abreu e Márcia Nacif e foi transformada no livro "Sistema de Pontos para Controle de Colesterol e Gordura no Sangue", publicado pela editora Metha.
De fácil compreensão, a obra dá dicas sobre uma alimentação saudável e traz a lista de pontos, por ordem alfabética, dos alimentos.


Serviço: Editora Metha: www.editorametha.com.br; livraria@editorametha.com.br

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