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JUVENTUDE ENCARCERADA
Presidente da fundação afirma que transferência dos jovens será feita até o início de março
Febem planeja isolar líderes de rebeliões
FERNANDA MENA
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de combater a chamada
"banda podre" de funcionários da
Febem (Fundação do Bem-Estar
do Menor), o secretário da Justiça
e Defesa da Cidadania e presidente da fundação, Alexandre de Moraes, deve dar início, logo após o
Carnaval, a um "segundo desafio"
na reestruturação da entidade.
Internos da Febem maiores de
18 anos considerados "lideranças
negativas" sobre os demais adolescentes serão isolados em quatro unidades da capital. A transferência, segundo Moraes, acontecerá entre o final de fevereiro e o
início de março. Uma quinta unidade receberá menores com o
mesmo perfil "belicoso", como
classifica o presidente da Febem.
Dos 6.100 internos da fundação,
1.800 são maiores de 18 anos.
Segundo Moraes, cada uma das
quatro unidades destinada aos
maiores, com capacidade para
150 adolescentes, receberá 90 internos. "Eles serão separados não
por causa do crime que cometeram, mas pelo comportamento
dentro da Febem", afirma. Para o
presidente da fundação, esses internos são considerados "lideranças que incitam confusões" - como rebeliões e fugas -, pois exercem grande influência sobre os
demais jovens internos.
Liderança
Para a Febem, isolar os maiores
de 18 anos é um dos principais desafios da instituição. "O que acontece hoje é que esse interno lidera
o grupo, e os demais fazem o que
ele quer. Agora, ele será colocado
em um lugar onde só haverá outros "caciques", e não vários "índios'", contou ele.
O ideal, segundo o secretário,
seria retirar todos os maiores de
18 anos da Febem e mandá-los
para cumprir o restante da internação no sistema penitenciário,
"desde que em alas separadas dos
demais detentos". Como a atual
lei não permite essa transferência
-apesar de um projeto de autoria do próprio secretário já enviado ao Congresso prever isso-, a
Febem optou por isolar os internos considerados problemáticos.
"Nas unidades, o maior de idade lidera e adota vícios de cadeia:
quer ser faxina [preso que fica fora das celas e que recebe tratamento diferenciado], começa a
passar drogas, dinheiro, ou seja,
promiscuidade total. Além disso,
tem ligação maior com a criminalidade, e, em 90% dos casos, é
reincidente", disse o secretário.
Nas novas unidades, os agentes
educacionais farão trabalho diferenciado com uso de teleconferência. "Será uma espécie de telecurso. Os internos assistirão a aulas em salas com até quatro alunos. Hoje, os maiores de 18 anos
não freqüentam as aulas."
Parcerias
A Febem pretende construir
ainda neste semestre a primeira
unidade para portadores de distúrbios psicológicos. O trabalho
será feito em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde. O
acordo foi fechado, segundo Moraes, no final de dezembro de
2004. O prédio terá 40 vagas.
"Vamos fechar convênio com a
Unifesp [Universidade Federal de
São Paulo] para que façam avaliação e determinem quem deve receber tratamento", explicou.
A maioria dos adolescentes com
distúrbio, segundo Moraes, consegue também exercer uma espécie de liderança. "Eles insuflam os
outros a fazer rebelião, fuga."
Novos funcionários
A Febem contratou 650 agentes
de segurança e 350 agentes educacionais em caráter emergencial
por 180 dias. Durante esse período, a fundação pretende realizar
concurso para o preenchimento
definitivo das novas vagas.
Segundo Moraes, desde que 52
funcionários foram indiciados
pela polícia por tortura e formação de quadrilha -27 tiveram
prisão preventiva decretada pela
Justiça, sendo que 16 estão presos
e 11, foragidos-, após a constatação de que 84 internos da Vila
Maria (zona norte) foram espancados, "fatos estranhos" têm
ocorrido sob a suspeita de serem
represálias de funcionários.
"Na segunda e quinta-feira,
aconteceram rebeliões em duas
unidades que nunca deram problema [Pirituba e Marília]. Além
disso, na quarta-feira, houve a fuga de 202 internos. Não posso
afirmar sobre participação de
funcionários, mas que há indícios
de algo estranho, isso há", afirmou Moraes. Segundo ele, o Sitraemfa (Sindicato os Trabalhadores em Entidades de Assistência ao Menor e à Família do Estado de São Paulo) "caminha para
um caminho perigoso ao defender sistematicamente funcionários envolvidos em tortura".
Procurado pela Folha, o diretor
do sindicato, Antonio Gilberto da
Silva, não quis comentar as declarações do secretário.
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