São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

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BARBARA GANCIA

O novo Giuseppe Garibaldi


É preciso reconhecer o poder catalisador de Tarso. A reação à sua atitude foi de unanimidade massacrante

CHEGUEI À conclusão de que devo seguir o exemplo dado pelo nosso excelentíssimo presidente da República.
Lula não instruiu seus ministros e assessores a se calarem sobre o caso Cesare Battisti?
Pois eu também não falo mais sobre esse assunto. Em boca fechada não entra mosca e eu cansei.
Passei a semana inteira ocupada com a decisão do governo brasileiro de conceder refúgio ao fugitivo da Justiça italiana. Além do latim já gasto neste espaço, tratei do assunto em inúmeros posts no meu site/blog e em diversas entradas ao vivo na BandNews FM.
O nobre leitor tem alguma ideia da aflição que dá conversar via interurbano com o senador Eduardo Suplicy quando se está pagando a conta do telefonema? Galante como sabemos que é, Suplicy até já se ofereceu para reembolsar o prejuízo, coisa que agradeci e declinei. E qual foi o resultado desse banho de Cesare Battisti que eu tomei nos últimos dias? Pois é, nenhum.
Desde que o imbróglio foi desencadeado pela assinatura do ministro Tarso Genro, sou capaz de contar nos dedos as pessoas que mudaram de opinião sobre a questão.
Os que, há duas semanas, aprovavam a decisão brasileira continuam a aplaudir Tarso Genro. E aqueles, como a maioria dos descendentes de italianos residentes em São Paulo, que há 15 dias eram favoráveis à extradição do terrorista (chamá-lo de "ex-terrorista" é como dizer que Jeffrey Dahmer é "ex-serial killer") seguem lamentando a decisão do ministro da Justiça.
Aqui na terrinha, o caso Cesare Battisti já nasceu como um Fla-Flu ideológico, uma contenda entre simpatizantes do PT e antipetistas.
Mas, pela graça de Deus, a vida é variada. Na Itália, o caso está unindo paladinos do operariado, senhores de indústria e todas as nuances entre um extremo e outro da matiz.
Na quarta-feira, a principal força de oposição italiana, o ex-comunista Walter Veltroni, afirmou: "A posição do Brasil é inaceitável. É absurdo conceder o status de refugiado a um homem que assassinou um joalheiro e outras três pessoas". Veltroni pediu ainda que fossem "respeitados a Justiça e o povo italiano".
É preciso reconhecer o poder catalisador de Tarso Genro. A reação à sua atitude foi de unanimidade massacrante: tanto a situação quanto a oposição o condenaram.
Nosso ministro da Justiça é nada mais nada menos do que o novo Giuseppe Garibaldi. Ele conseguiu promover um tipo de união entre os italianos que nem mesmo o herói da unificação italiana teria sonhado.
E já que está todo mundo conversado sobre o assunto, no melhor estilo Forrest Gump, eu não tenho mais nada a dizer.
Mesmo porque, na eventualidade de que o STF (Supremo Tribunal Federal) venha a se pronunciar em favor da decisão do ministro, eu não ia querer sobrecarregar Cesare Battisti, não é mesmo?
Não ia querer que ele fosse forçado a sair da prisão diretamente para estafantes sessões de autógrafos e longas noitadas em razão do relançamento de seu livro "Minha Fuga Sem Fim", ia?

barbara@uol.com.br

www.barbaragancia.com.br


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