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NARCOTRÁFICO
Governador entregou à CPI dossiê sobre atuação de quadrilhas em todo o país; lista inclui policiais
Garotinho denuncia 25 mil por tráfico
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
RAFAEL GOMIDE
free-lance para a Folha
A CPI do Narcotráfico recebeu
ontem do governo do Rio um
dossiê de 6.000 páginas com nomes de 25 mil pessoas acusadas de
ligação com o tráfico de drogas no
Estado. Entre esses nomes, há policiais, mas não se sabe quantos.
O dossiê foi elaborado pela Secretaria de Segurança e entregue à
CPI pelo governador Anthony
Garotinho (PDT). É uma espécie
de mapa do tráfico no Rio, com a
atuação das quadrilhas no Estado
e em outros lugares do país.
O mapeamento contém dados
obtidos nos últimos dois anos.
Não se baseia em inquéritos, mas
em documentos dos serviços de
inteligência da Polícia Militar e da
Polícia Civil.
O dossiê foi a reação do governo
fluminense às críticas da CPI depois do depoimento do secretário
de Segurança do Rio, Josias Quintal, na semana passada, à comissão, em Brasília.
Os deputados consideraram as
respostas do secretário evasivas e
genéricas, porque ele não soube
dizer quantas pessoas trabalhavam para o tráfico no Rio e quem
eram os responsáveis pela lavagem de dinheiro.
O secretário se queixou com assessores, dizendo que as perguntas dos deputados é que foram genéricas. Passou o fim-de-semana
juntando dados da PM e da Polícia Civil para compor o dossiê.
É o segundo levantamento sobre narcotráfico que o governo do
Rio entrega à CPI. O primeiro foi
em novembro de 99, na primeira
visita da comissão ao Rio.
Na visita desta semana, que termina amanhã, a CPI vai ouvir alguns dos policiais acusados no
primeiro dossiê -que relatava,
entre outros casos, uma extorsão
de policiais civis ao traficante Luiz
Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
"Esperamos que agora haja dados mais concretos. Foi uma reação dele. O secretário afirmou que
estava trazendo dados concretos.
Sentimos que ele se preocupou",
afirmou o deputado Pompeo de
Mattos (PDT-RJ).
Quintal disse ontem que, numa
sessão da CPI, seria impossível
dar os nomes de todos os traficantes de drogas e por isso elaborou o
dossiê. "Não quero fazer comentários sobre o que os deputados
disseram. Quero apresentar documentos", afirmou.
Nessa passagem pelo Rio, a CPI
vai ouvir 22 depoimentos, entre
policiais, advogados e pessoas supostamente ligadas ao tráfico de
drogas.
Segurança reforçada
Os deputados da CPI passaram
o dia sob forte esquema de segurança, com cerca de 70 homens
das Polícias Militar e Federal.
Os parlamentares afirmaram,
porém, que não temem as ameaças veladas feitas pelo traficante
Fernandinho Beira-Mar às suas
famílias, especialmente à família
da deputada Laura Carneiro
(PFL-RJ).
O presidente da CPI, Magno
Malta (PTB-ES), disse que a CPI
só ouvirá Beira-Mar se ele se entregar. "Se ele depuser, cairá um
quarto desse país. A banda podre,
que nós entendemos que deve ser
um quarto desse país, vai desabar
junto com ele."
A CPI vai ouvir depoimentos de
policiais citados pelo ex-coordenador de Segurança Luiz Eduardo
Soares como integrantes da banda podre da polícia. Soares acabou sendo demitido por Garotinho.
O governador disse que pediu à
CPI para "não livrar a cara de ninguém". O chefe de Polícia Civil,
Rafik Louzada, também será ouvido pela comissão, porque é investigado sob suspeita de enriquecimento ilícito e extorsão.
Garotinho disse que punirá
com inquérito e expulsão os policiais civis e militares que se recusarem a depor à CPI. "Quem for
chamado vai ter de ir, é ordem do
governador."
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