São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2000


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NARCOTRÁFICO
Governador entregou à CPI dossiê sobre atuação de quadrilhas em todo o país; lista inclui policiais
Garotinho denuncia 25 mil por tráfico

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

RAFAEL GOMIDE
free-lance para a Folha

A CPI do Narcotráfico recebeu ontem do governo do Rio um dossiê de 6.000 páginas com nomes de 25 mil pessoas acusadas de ligação com o tráfico de drogas no Estado. Entre esses nomes, há policiais, mas não se sabe quantos.
O dossiê foi elaborado pela Secretaria de Segurança e entregue à CPI pelo governador Anthony Garotinho (PDT). É uma espécie de mapa do tráfico no Rio, com a atuação das quadrilhas no Estado e em outros lugares do país.
O mapeamento contém dados obtidos nos últimos dois anos. Não se baseia em inquéritos, mas em documentos dos serviços de inteligência da Polícia Militar e da Polícia Civil.
O dossiê foi a reação do governo fluminense às críticas da CPI depois do depoimento do secretário de Segurança do Rio, Josias Quintal, na semana passada, à comissão, em Brasília.
Os deputados consideraram as respostas do secretário evasivas e genéricas, porque ele não soube dizer quantas pessoas trabalhavam para o tráfico no Rio e quem eram os responsáveis pela lavagem de dinheiro.
O secretário se queixou com assessores, dizendo que as perguntas dos deputados é que foram genéricas. Passou o fim-de-semana juntando dados da PM e da Polícia Civil para compor o dossiê.
É o segundo levantamento sobre narcotráfico que o governo do Rio entrega à CPI. O primeiro foi em novembro de 99, na primeira visita da comissão ao Rio.
Na visita desta semana, que termina amanhã, a CPI vai ouvir alguns dos policiais acusados no primeiro dossiê -que relatava, entre outros casos, uma extorsão de policiais civis ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
"Esperamos que agora haja dados mais concretos. Foi uma reação dele. O secretário afirmou que estava trazendo dados concretos. Sentimos que ele se preocupou", afirmou o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RJ).
Quintal disse ontem que, numa sessão da CPI, seria impossível dar os nomes de todos os traficantes de drogas e por isso elaborou o dossiê. "Não quero fazer comentários sobre o que os deputados disseram. Quero apresentar documentos", afirmou.
Nessa passagem pelo Rio, a CPI vai ouvir 22 depoimentos, entre policiais, advogados e pessoas supostamente ligadas ao tráfico de drogas.

Segurança reforçada
Os deputados da CPI passaram o dia sob forte esquema de segurança, com cerca de 70 homens das Polícias Militar e Federal.
Os parlamentares afirmaram, porém, que não temem as ameaças veladas feitas pelo traficante Fernandinho Beira-Mar às suas famílias, especialmente à família da deputada Laura Carneiro (PFL-RJ).
O presidente da CPI, Magno Malta (PTB-ES), disse que a CPI só ouvirá Beira-Mar se ele se entregar. "Se ele depuser, cairá um quarto desse país. A banda podre, que nós entendemos que deve ser um quarto desse país, vai desabar junto com ele."
A CPI vai ouvir depoimentos de policiais citados pelo ex-coordenador de Segurança Luiz Eduardo Soares como integrantes da banda podre da polícia. Soares acabou sendo demitido por Garotinho.
O governador disse que pediu à CPI para "não livrar a cara de ninguém". O chefe de Polícia Civil, Rafik Louzada, também será ouvido pela comissão, porque é investigado sob suspeita de enriquecimento ilícito e extorsão.
Garotinho disse que punirá com inquérito e expulsão os policiais civis e militares que se recusarem a depor à CPI. "Quem for chamado vai ter de ir, é ordem do governador."


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