São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2000


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NARCOTRÁFICO
Disfarçado com uma máscara, ex-informante da polícia depôs aos deputados que compõem a CPI
Testemunha acusa 16 policiais de SP

RAPHAEL GOMIDE
free-lance para a Folha

Apontado como uma testemunha-bomba pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico, Laércio Cunha (nome falso) acusou ontem 15 policiais civis e um policial militar de São Paulo de corrupção, extorsão de traficantes e tráfico de drogas, em depoimento no Rio.
A CPI do Narcotráfico, a Polícia Federal e o Ministério Público apuram elos entre quadrilhas de narcotráfico, contrabando de armas e roubo de caminhões e cargas. A principal investigação se concentra em uma quadrilha que agiria em 14 Estados. De ontem até amanhã, serão realizadas sessões no Rio, com depoimentos.
Durante o depoimento de mais de quatro horas aos deputados da CPI, ao qual se apresentou usando máscara de esquiador, Laércio afirmou: ""Não tenho medo de nada. Se o senhor quiser, tiro a máscara agora mesmo". "Por favor, não", pediram os deputados.
Quase todos os policiais citados por Laércio são do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio), onde ele atuou como informante.
"Sou pequeno nisso. Apenas fazia o que mandavam. Se eu não fizesse, morreria. Como vou morrer agora, com certeza. Vão cavar nos quatro cantos do mundo", disse a testemunha, que está sob proteção da CPI.
Laércio citou os nomes de doutor Marcelo (2ª Delegacia de Roubos de Carga), Juvandir e Marquinho (63ª Delegacia de Polícia), Mucini, Celso, Juaci, Marcão, Valtinho, Manoel, Lucindo, Dedé, Moisés, Alemão, Farofa e Saúba (Depatri) e Jorge (Polícia Militar).
Alemão, segundo a testemunha, atuaria como receptador da droga apreendida pelos colegas. Ele venderia a mercadoria e depois distribuiria o dinheiro.
""Quando eles apreendem 200 kg, ficam com 50 kg e liberam o resto. O traficante é solto, basta ter dinheiro", afirmou. "Em qualquer delegacia o esquema é esse.Todos os policiais fazem isso, principalmente na zona leste."
""Tirando o Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), todas as delegacias do Depatri participavam", afirmou. Laércio disse ainda que ""quando o bandido é preso, vai para a rua na mesma hora. Praticamente não vai para a delegacia".
Laércio afirmou que saía no carro da polícia e que ""levantou 14 caminhões roubados e carretas, em Recife, para o Depatri". Segundo ele, o ladrão Didi, que estava com os veículos, foi levado por ele até São Paulo e liberado em seguida, após fazer ""um acerto".
Laércio" disse que morou em Montes Claros, no nordeste de Minas Gerais, durante cerca de um ano, trabalhando para a polícia paulista. Na cidade, funcionaria uma rede de distribuição de drogas que seria comandada pelo empresário Paulo César Santiago.
Laércio afirmou que conheceu Paulo César por meio de Pinduca, segurança do empresário. ""Quem abriu para mim foi o Pinduca. Contava todas as operações e cheguei a ser convidado a trabalhar para ele (Paulo César)", afirmou.
O depoente disse que o delegado Castelar, de Montes Claros, ""sabe disso". Segundo ele, o delegado está sendo investigado.
Laércio revelou que, certa vez, foi ao Rio ""tomar R$ 200 mil de Pinduca", para que este não fosse preso. O dinheiro teria sido entregue "ao pessoal do Depatri".


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