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NARCOTRÁFICO
Disfarçado com uma máscara, ex-informante da polícia depôs aos deputados que compõem a CPI
Testemunha acusa 16 policiais de SP
RAPHAEL GOMIDE
free-lance para a Folha
Apontado como uma testemunha-bomba pela CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) do
Narcotráfico, Laércio Cunha (nome falso) acusou ontem 15 policiais civis e um policial militar de
São Paulo de corrupção, extorsão
de traficantes e tráfico de drogas,
em depoimento no Rio.
A CPI do Narcotráfico, a Polícia
Federal e o Ministério Público
apuram elos entre quadrilhas de
narcotráfico, contrabando de armas e roubo de caminhões e cargas. A principal investigação se
concentra em uma quadrilha que
agiria em 14 Estados. De ontem
até amanhã, serão realizadas sessões no Rio, com depoimentos.
Durante o depoimento de mais
de quatro horas aos deputados da
CPI, ao qual se apresentou usando máscara de esquiador, Laércio
afirmou: ""Não tenho medo de nada. Se o senhor quiser, tiro a máscara agora mesmo". "Por favor,
não", pediram os deputados.
Quase todos os policiais citados
por Laércio são do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio),
onde ele atuou como informante.
"Sou pequeno nisso. Apenas fazia o que mandavam. Se eu não fizesse, morreria. Como vou morrer agora, com certeza. Vão cavar
nos quatro cantos do mundo",
disse a testemunha, que está sob
proteção da CPI.
Laércio citou os nomes de doutor Marcelo (2ª Delegacia de Roubos de Carga), Juvandir e Marquinho (63ª Delegacia de Polícia),
Mucini, Celso, Juaci, Marcão, Valtinho, Manoel, Lucindo, Dedé,
Moisés, Alemão, Farofa e Saúba
(Depatri) e Jorge (Polícia Militar).
Alemão, segundo a testemunha,
atuaria como receptador da droga
apreendida pelos colegas. Ele venderia a mercadoria e depois distribuiria o dinheiro.
""Quando eles apreendem 200
kg, ficam com 50 kg e liberam o
resto. O traficante é solto, basta
ter dinheiro", afirmou. "Em qualquer delegacia o esquema é esse.Todos os policiais fazem isso,
principalmente na zona leste."
""Tirando o Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e
Assaltos), todas as delegacias do
Depatri participavam", afirmou.
Laércio disse ainda que ""quando
o bandido é preso, vai para a rua
na mesma hora. Praticamente
não vai para a delegacia".
Laércio afirmou que saía no carro da polícia e que ""levantou 14
caminhões roubados e carretas,
em Recife, para o Depatri". Segundo ele, o ladrão Didi, que estava com os veículos, foi levado por
ele até São Paulo e liberado em seguida, após fazer ""um acerto".
Laércio" disse que morou em
Montes Claros, no nordeste de
Minas Gerais, durante cerca de
um ano, trabalhando para a polícia paulista. Na cidade, funcionaria uma rede de distribuição de
drogas que seria comandada pelo
empresário Paulo César Santiago.
Laércio afirmou que conheceu
Paulo César por meio de Pinduca,
segurança do empresário. ""Quem
abriu para mim foi o Pinduca.
Contava todas as operações e cheguei a ser convidado a trabalhar
para ele (Paulo César)", afirmou.
O depoente disse que o delegado Castelar, de Montes Claros,
""sabe disso". Segundo ele, o delegado está sendo investigado.
Laércio revelou que, certa vez,
foi ao Rio ""tomar R$ 200 mil de
Pinduca", para que este não fosse
preso. O dinheiro teria sido entregue "ao pessoal do Depatri".
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