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ÀS ESCURAS
Escolas e subprefeituras ficam sem energia elétrica no terceiro mês da gestão de José Serra
Prefeitura não paga conta e sofre apagão em pelo menos 40 prédios
CONRADO CORSALETTE
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos 40 prédios da Prefeitura de São Paulo, que detém o
maior orçamento dos municípios
do país, ficaram às escuras por falta de pagamento das suas contas
de luz. Os cortes, iniciados há
uma semana, foram intensificados ontem pela AES Eletropaulo.
A interrupção do fornecimento
de energia elétrica -o maior da
história da prefeitura, segundo a
atual administração- obrigou
funcionários a voltarem para casa
mais cedo, interrompeu atendimentos e pode atrasar outros serviços prestados à população.
Entre os 40 locais atingidos pelo
corte da Eletropaulo -hoje uma
empresa privada- estão dez subprefeituras, escolas e postos da
Guarda Civil Metropolitana.
À noite, a prefeitura obteve liminar (decisão provisória) da 12ª
Vara da Fazenda Pública que
obriga a Eletropaulo a religar a
energia. Até o fechamento desta
edição, a empresa ainda não havia
sido notificada, mas, segundo sua
assessoria, irá recorrer da decisão.
A Eletropaulo pretendia religar os
pontos de luz só após um entendimento sobre o pagamento de parte da dívida da prefeitura -mais
de R$ 600 milhões.
A Secretaria de Finanças, que teve um edifício atingido pelo corte,
afirmou que deixou de fazer os
pagamentos pelo fato de a Eletropaulo ter interrompido o repasse
da Cosip (contribuição de iluminação pública), conhecida popularmente como a taxa da luz. Disse também que irá à Justiça para
receber os repasses referentes às
arrecadações de janeiro e fevereiro -cerca de R$ 25,2 milhões cobrados nas contas de luz.
A Folha apurou que a Eletropaulo decidiu bloquear o repasse
de janeiro e fevereiro para pressionar a prefeitura a pagar o que
deve. Da dívida de mais de R$ 600
milhões, ao menos R$ 108 milhões são de contas atrasadas desde outubro de 2004. O restante do
débito é acumulado desde 1996.
A gestão José Serra (PSDB) também atrasou o pagamento de janeiro e fevereiro. Ontem, autorizou a liberação de R$ 21,4 milhões
para saldar parte dos atrasados.
A cidade tem um gasto médio
mensal de R$ 10,5 milhões com
iluminação pública. Os prédios
municipais -cerca de 6 mil pontos- consomem mensalmente
até R$ 9 milhões.
A Eletropaulo decidiu pressionar a prefeitura para que a dívida
seja paga porque terá de apresentar um balanço aos seus acionistas
nas próximas semanas. A prefeitura é seu maior credor.
Guerra de notas
Em nota, a Eletropaulo questiona a justificativa da prefeitura,
que alegou não ter pago as contas
pela ausência do repasse da taxa
de luz. "Vale lembrar que esses recursos [da taxa] não podem ser
utilizados para outro fim, como o
pagamento de consumo de energia de instalações da prefeitura"
- são especificamente para o
custeio, manutenção e ampliação
da iluminação pública da cidade.
O gabinete do prefeito também
divulgou uma nota -com queixas à Eletropaulo e críticas ao PT.
"As dívidas em discussão entre a
Eletropaulo e a Prefeitura -de
mais de 500 milhões- foram deixadas pela irresponsabilidade de
governos anteriores, incluindo o
do PT, que, como se sabe, não tinha o costume de pagar o que devia", afirma a nota dos tucanos.
A equipe da ex-prefeita Marta
Suplicy (PT) divulgou nota na
qual diz: "É uma vergonha e um
desrespeito à população querer
jogar a culpa da própria incompetência na gestão anterior".
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