São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2011

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Congresso, gays e negros reagem contra declarações de deputado

Bolsonaro associa namoro com negra a promiscuidade; depois, diz que se referia a homossexuais

Preta Gil, que fez na TV pergunta a deputado, afirma que vai à Justiça; Câmara já abriu mais de 20 processos contra ele

MARIA CLARA CABRAL
DE BRASÍLIA
CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

Declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) num programa de TV provocaram uma avalanche de reações no Congresso e entre ativistas do movimento negro e gay.
No quadro "O Povo Quer Saber", do programa CQC, da TV Bandeirantes, a cantora Preta Gil perguntou como ele reagiria se seu filho se apaixonasse por uma negra.
O parlamentar, que tem um extenso histórico de polêmicas relacionado a direitos civis e humanos, respondeu:
"Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu."
Após o programa ir ao ar na noite de anteontem, Bolsonaro tentou se justificar.
Disse que, na realidade, pensou que a pergunta se referisse a um relacionamento gay. "Essa se encaixa na resposta que eu dei. Para mim, ser gay é promíscuo, sim".

"ATÉ O FIM"
A resposta provocou mais polêmica. Preta Gil ameaça processá-lo. Diz que vai entrar com uma ação de indenização por danos morais.
"Sou uma mulher negra, forte e irei até o fim contra esse deputado racista, homofóbico, nojento", escreveu, irada, a cantora no Twitter.
Colegas de Câmara dos Deputados afirmam que vão encaminhar ao Ministério Público Federal e à Procuradoria Geral da República um pedido de investigação sobre o parlamentar eleito pelo Rio.
O deputado Edson Santos (PT-RJ) já pediu abertura de processo por quebra de decoro contra o parlamentar. A presidente da Comissão de Direitos Humanos, Manuela D'Ávila (PC do B-RS), apresentará moção de repúdio.
Manuela D'Ávila ressalta que o racismo aconteceu, independentemente de quem tenha sido o alvo do colega.
Ideraldo Beltrame, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, afirmou que o movimento também vai mobilizar parlamentares para que seja aberto um processo no Congresso contra Bolsonaro.
A OAB do Rio de Janeiro informou que também vai pedir a abertura de um processo por quebra de decoro.
A Câmara já abriu mais de 20 procedimentos contra Bolsonaro por suas declarações polêmicas, mas nenhum deles resultou em punição.
Na entrevista, o deputado também disse que não iria a desfiles gays porque não promove "maus costumes", que daria "porrada" se pegasse um filho fumando maconha e que sente saudade dos generais que presidiram o país durante a ditadura militar.
Bolsonaro informou ontem que vai protocolar um ofício no Conselho de Ética pedindo para ser ouvido.
"Ele [o deputado] mudou o foco [ao dizer que não se referia aos negros], mas está fazendo a mesma coisa, discriminando pessoas", afirmou José Vicente, presidente da Afrobras (Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural).


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