UOL


São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

Próximo Texto | Índice

ADMINISTRAÇÃO

Prefeita enfrentou protesto de motoristas e teve de ser escoltada; "foi uma selvageria", disse

Marta é alvo de vaias e bolas de papel

Caio Guatelli/Folha Imagem
Manifestantes atiram papéis na prefeita Marta Suplicy, que é escoltada na saída da subprefeitura


PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Bate-boca, bolinhas de papel, vaias e muita reclamação. A prefeita Marta Suplicy (PT) foi surpreendida ontem por um protesto de um grupo de mais de 50 motoristas e cobradores, que reclamaram das demissões provocadas pela decisão da prefeitura de descredenciar, no início do mês, nove empresas de ônibus.
Marta responsabilizou o sindicato dos motoristas pelo que chamou de "selvageria". Já o presidente do sindicato, Edivaldo Santiago, negou ter organizado o protesto, mas disse que foi uma resposta ao "desrespeito" com que a categoria vem sendo tratada.
A prefeita discursava na inauguração da sede da Subprefeitura da Cidade Tiradentes, no extremo leste de São Paulo. Ao dizer que a área de transportes é a sua "maior dor de cabeça", recebeu aplausos de algumas das 200 pessoas presentes. Outras, a maioria motoristas e cobradores, vaiaram.
A dona-de-casa Arlinda Gomes Ferreira, 40, interrompeu o discurso: "Eu estou passando fome!", disse ela, que é casada com um motorista da Viação América da Sul, uma das empresas descredenciadas. Marta disse ser solidária, mas que não era mais possível "deixar um monte de bandido operando as linhas". Apontando para outra mulher, disse: "Não é porque você está passando fome que ela tem que andar em um ônibus caindo aos pedaços".
Mas não foi só. "É essa a prefeita que a gente quer? Que não pensa no emprego da gente? Posso bater na porta da casa da senhora para pedir uma cesta básica?", perguntava o motorista Josmar Martins, 51. "Peça um Renda Mínima, então", reagiu Marta.
Com o descredenciamento, 10.800 motoristas e cobradores foram demitidos, mas a prefeitura prevê a recontratação de 8.300.
Guardas-civis e seguranças fizeram um cordão de isolamento para garantir a saída da prefeita. Mesmo assim, ela foi xingada pelos manifestantes, que também arremessaram contra ela bolas de papel feitas com jornal e até mesmo um caderno. Segundo a assessoria de Marta, apenas uma segurança da prefeita foi atingida por uma pedra, mas sem gravidade.
Após a inauguração, Marta deveria seguir para uma vistoria no terminal de ônibus Cidade Tiradentes. Mas ela preferiu visitar o terreno de um hospital.
No local, a vereadora Claudete Alves (PT) pedia à assessoria de Marta que a retirasse do local porque os manifestantes poderiam chegar. Eles estariam armados com paus e pedras. Marta ficou menos de cinco minutos lá. Foi direto inaugurar um telecentro, onde, apesar de um palco montado, não discursou. Seguiu então para o terminal de ônibus. Lá, ouviu algumas reclamações de passageiros sobre atrasos de linhas.
À tarde, cerca de 1.500 profissionais da educação, segundo a PM, participaram de protesto no centro da cidade. Portando cartazes contra Marta e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reivindicaram reposição salarial de 21% e aumento real de 10%. A categoria promete entrar em greve.


Próximo Texto: Frases
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.