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São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

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ENSINO MÉDIO

Levantamento, encomendado pelo MEC, evidencia a diferença entre as escolas particulares e as públicas

Pesquisa da Unesco quantifica desigualdade

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pesquisa inédita realizada pela Unesco e divulgada ontem em Brasília comprova que o ensino médio não foge à regra no país: tem qualidade insuficiente e apresenta desigualdade entre escolas particulares e públicas.
Com enorme desvantagem para essa última, que, por outro lado, é responsável por 87% das matrículas do ensino médio.
No ano passado, eram 8,7 milhões de alunos matriculados, sendo que 7,569 milhões estavam nas três redes públicas -municipal, estadual e federal.
De acordo com o levantamento, nas instituições públicas há mais probabilidade de encontrar alunos com baixa frequência em atividades de cultura e lazer, quase sem acesso a tecnologias (laboratórios e computador) e filhos de mulheres analfabetas ou com ensino fundamental.
Já nas escolas privadas há mais espaço para atividades esportivas, aulas de ciências, de línguas estrangeiras e de informática e menor índice de reprovação, repetência e abandono.
No geral, 45% dos alunos do ensino médio no Brasil já reprovaram, ou seja, não tiveram desempenho adequado em uma ou mais disciplinas.
Esses dados comprovam situações que profissionais da educação já vivenciam: quando os alunos conseguem chegar ao ensino médio, não têm bom desempenho e são pouco estimulados (faltam laboratórios, computadores e até livros). Encontram ainda professores mal preparados, com baixa remuneração.
Realizada em 13 capitais, a pesquisa da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) foi transformada no livro "Ensino Médio: Múltiplas Vozes", coordenado por Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro.
Quando a questão envolve os problemas, 6 em cada 10 estudantes citam o desinteresse deles mesmos como o principal ponto.
"A coisa mais difícil na cadeia educacional são os jovens. Eles já não se contentam somente com quadro negro, cadeiras. Querem coisas novas. [...] Precisamos pensar em algo diferente que alie ofício, arte, esporte e remuneração", afirmou o ministro Cristovam Buarque (Educação).
Para tentar mudar essa realidade, o secretário de Educação Média e Tecnológica, Antonio Ibañez Ruiz, disse que está em estudo uma série de mudanças. Entre elas: a criação de uma bolsa para essa faixa etária, a ampliação do ensino médio de três para quatro anos e a preparação de professores.

Metodologia
A pesquisa ouviu 50.740 alunos em 673 escolas públicas e privadas de 13 capitais brasileiras.
Como a amostra foi probabilística, os dados podem ser generalizados para o universo de alunos nessas cidades -1,271 milhão de estudantes. Para a seleção, foi utilizado o Censo Escolar 2000. Também responderam aos questionários 7.020 professores.
Coordenado pelas pesquisadoras Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro, o estudo foi realizado entre 2001 e 2002 pelo setor de pesquisa e avaliação da Unesco no Brasil a pedido da Secretaria de Educação Média e Tecnológica do Ministério da Educação.
Classificado pela Unesco de "maior pesquisa realizada sobre o assunto na América Latina", o levantamento engloba as seguintes capitais: Rio Branco, Macapá, Belém, Teresina, Maceió, Salvador, Cuiabá, Goiânia, Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.


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