|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Por força de liminar, 22 casas já reabriram em São Paulo; apostadores alugam até van para freqüentar locais
Reabertos, bingos atraem órfãos do jogo
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
As loiras estavam alegres. Aos
gritos, comemoravam cada linha
completada na cartela. Calibradas
com 12 latinhas de cervejas e sortudas demais, as duas atraíam
confusão. "Não dá para calar a
boca aí?", atacou uma jogadora.
"Vai passear, perdedora", rugiu
uma das loiras. "Segurança! Tira
essa maluca daqui." O clima não é
de brincadeira no Bingo Moema,
um dos 22 templos da jogatina
reabertos por força de liminares
no Estado de São Paulo.
Antes da medida provisória que
proibiu os bingos, 460 estabelecimentos disputavam a freguesia em São Paulo.
As liminares concedidas autorizam bingos a dar continuidade a
suas atividades até a eventual conversão em lei da medida provisória, o que só ocorrerá após aprovação no Congresso.
Agora, os poucos em funcionamento, sem saber até quando poderão operar, querem aproveitar
o máximo. Ontem, na esquina das
avenidas Duque de Caxias e São
João, duas moças estendiam diante dos carros parados no semáforo uma faixa que alardeava: "Bingo Metrópole, aberto 24 horas".
A publicidade funciona. E funciona o boca a boca. A dona-de-casa Marília Fernandes, 35, ficou
sabendo na semana passada da liminar que reabriu o Bingo Moema. Imediatamente, telefonou
para 18 amigas. Ontem, todas estavam apostando. "A gente veio
tirar o atraso", diz ela.
"A gente se organizou e contratou uma van para trazer a turma",
diz Rogério Brás de Oliveira, 55,
do Belém (zona leste). Todos os
dias, desde a reabertura do Moema (zona sul), a van pára no largo
do Belém e recolhe os 15 cotistas.
Eles voltam cinco horas depois.
"Todo mundo aqui quer recuperar o tempo perdido", explica
uma vendedora de cartelas do
Bingo Moema. Às 16h de ontem,
300 pessoas ocupavam as mesas
de apostas de bingos "cantados",
aqueles mais tradicionais, com
cartelas. Outras 600 jogavam nas
máquinas de bingo eletrônico.
Numa quinta-feira anterior à
proibição, não mais do que cem
estariam na casa nesse horário.
O movimento é tão intenso que
obrigou o bingo a fechar o estacionamento que funcionava colado ao seu prédio. No local, foram
instaladas 200 máquinas de bingo
eletrônico. Agora, são 548 máquinas, funcionando 24 horas por
dia, todos os dias.
Situação ainda mais denunciadora do desespero dos jogadores
acontecia ontem no Bingo Metrópole (no centro de São Paulo), onde 800 jogadores disputavam os
prêmios. Sem cadeira para todos,
muitos prendiam suas cartelas
em pranchetas e acompanhavam
a extração em pé. Havia fila para
entrar no salão de jogos.
A superpopulação e a velocidade acelerada do jogo elevavam a
tensão. Qualquer conversinha no
meio da extração logo era interrompida por "psius" vindos de
todo o ambiente.
"Eles estão querendo faturar tudo o que não faturaram no período em que ficaram fechados", reclama a professora aposentada
Maria Clara Gonçalves Pierucci,
63, do Tatuapé, que atravessou a
cidade para jogar no Bingo Moema. A professora, com seis cartelas na sua frente, mal conseguia
anotar os números sorteados.
Antes do fechamento dos bingos, terminada uma extração, entrava uma música (o repertório
dessas casas inclui de Kelly Key a
Luca, aquela do hit "Tô nem Aí").
Durante esse intervalo, vendiam-se as cartelas para o concurso seguinte. Agora, o jogo ainda acontece e já se estão vendendo cartelas para o próximo. As apostas
não podem parar.
Texto Anterior: Outro lado: "Não tenho nada a ver com isso", afirma jovem Próximo Texto: Escândalo Waldomiro motivou a MP Índice
|