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Juiz manda Masp devolver parte de edifício vizinho
Decisão atende a pedido da Vivo, que comprou o prédio para o museu a fim de ter sua marca exibida numa torre sobre o local
Projeto foi vetado pelo órgão que cuida do patrimônio histórico paulistano, o que motivou operadora a pedir dinheiro investido de volta
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça determinou que o
Masp (Museu de Arte de São
Paulo) transfira para a Vivo
parte do prédio de nove andares na avenida Paulista em que
planejava levantar uma torre.
O juiz Flavio Abramovici, da
20ª Vara Cível de São Paulo, determinou que um perito irá estimar o valor do edifício, que fica ao lado do museu, para então
resolver qual será o percentual
que caberá à operadora. O
Masp já recorreu da decisão.
A sentença do juiz saiu em fevereiro, mas só ontem ela foi divulgada pelo museu -é citada
no balanço da instituição, que
teve um superávit no ano passado de R$ 3,19 milhões.
A Vivo ingressou com a ação
na Justiça porque deu R$ 13,03
milhões para que o Masp comprasse o edifício Dumont-Adams em agosto de 2006.
A operadora, porém, não obteve a contrapartida que combinara: teria o seu nome posto
no topo de uma torre de mais
de 200 metros de altura.
A torre não foi liberada pelo
Conpresp (órgão do patrimônio histórico da cidade) pois interferiria "de forma radical"
num bem tombado -o prédio
vizinho do Masp, projetado por
Lina Bo Bardi (1914-1992).
Posteriormente, o Masp conseguiu aprovar um projeto menor, que descarta a torre e
transforma o edifício em uma
escola a ser gerida pelo museu.
Acordo
Em 2004, o Masp e a Vivo firmaram uma parceria pela qual
a operadora compraria o edifício ao lado do museu por R$
15,6 milhões. A empresa, no entanto, só pagou R$ 13,03 milhões -83,5% do valor total.
Não é possível saber exatamente o percentual que caberá
à Vivo pois o prédio, na esquina
da Paulista com a alameda Casa
Branca, pode ter se valorizado
mais do que os R$ 13 milhões
dados pela Vivo. A correção será feita pelo IGP-M (índice da
FGV que mede a inflação).
Num exemplo hipotético, se
o prédio for avaliado hoje pelo
perito em R$ 30 milhões, e o valor da Vivo for corrigido para
R$ 15 milhões, a operadora terá
direito à metade do imóvel.
Na sua defesa, o Masp alegou
que o contrato não foi cumprido por uma razão sobre a qual
não tem controle: o veto do patrimônio histórico para a torre.
Os advogados dizem que o
museu não poderia ser responsabilizado por prejuízos "resultantes de fatos fortuitos".
Eles afirmam ainda que a Lei
Cidade Limpa inviabilizou a
ideia de colocar o logotipo da
Vivo na torre. Defendem, por
fim, que a rescisão do acordo
com a Vivo provocaria onerosidade excessiva ao Masp. O juiz
não aceitou nenhuma alegação.
A Folha apurou que conselheiros do Masp e diretores da
Vivo estão discutindo uma solução negociada para a disputa.
Uma das ideias em discussão
é converter os R$ 13 milhões da
Vivo em patrocínio e encerrar a
controvérsia jurídica sobre o
prédio. A operadora recorreu à
Justiça porque o Masp começou a discutir com outras empresas, como a Nestlé, patrocínios para o futuro anexo.
O Masp informou, por meio
de sua assessoria de imprensa,
que deve iniciar a reforma do
prédio ao lado até o fim desse
semestre. Diz ter acertado verbalmente a captação de R$ 5
milhões para essa reforma.
No balanço do museu publicado ontem, o superávit de R$
3,19 milhões é uma boa notícia
para uma instituição que teve a
energia elétrica cortada em
maio de 2006 por falta de pagamento.
No ano passado, o superávit
foi perto de zero (meros R$ 13
mil). Em 2005, o balanço chegou a apontar uma situação de
insolvência, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha.
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