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GILBERTO DIMENSTEIN
São Paulo não pode matar
No mês passado, 98 pessoas
deixaram de ser assassinadas
na região metropolitana de
São Paulo.
Numa reversão abrupta, de
março a abril os assassinatos
caíram 12%; na capital, 17%
-caíram juntos, embora em
menor grau, demais indicadores de criminalidade, por
exemplo, roubo e furtos de automóveis.
Estaríamos diante do início
de uma virada ou de um fenômeno restrito a abril?
"Não sei", admite o secretário
da Segurança Pública, Marco
Vinicio Petrelluzzi.
Os números da criminalidade
de abril andam na contramão
das estatísticas de desemprego
e valor dos rendimentos dos
trabalhadores.
Na semana passada, pesquisa
Seade-Dieese mostrou mais um
recorde do desemprego; um em
cada cinco trabalhadores da
região metropolitana está desempregado.
Bater recorde de desemprego
está virando a tradição de cada
mês.
Por que melhora o crime enquanto aumenta a pobreza?
Por enquanto, só apostas.
Mas o fato é que a polícia está
fazendo o óbvio.
Usando as estatísticas, escolheu os bairros mais violentos,
aumentando a ação preventiva, preferindo os horários e
dias de maior incidência de
conflitos.
A operação é administrada
conjuntamente pelas Polícias
Civil e Militar, dois agrupamentos que, no geral, vivem
atritados.
Os boletins mostram que cresceram as apreensões de armas,
prisões, captura e flagrantes;
policiais foram retirados de
cargos burocráticos indo para
a rua.
Em qualquer lugar, funciona
policiamento preventivo somado à repressão.
E se funciona com a polícia
com baixos salários, efetivo pequeno, mal treinada, armas
antigas, imagine, então, melhor equipada e articulada com
a comunidade.
Mesmo essa queda de 12% na
região metropolitana de São
Paulo é pouco, para padrões
minimamente civilizados.
Os índices nada ficam a dever
a Kosovo. Pelo contrário: em
abril foram assassinadas 695
pessoas, 23 por dia. Foram gatunados 450 automóveis a cada
24 horas.
É, sob todos os aspectos, um
escândalo.
Dá para melhorar sem parar.
Não só pela melhoria da polícia, que ainda está longe, muito longe, de satisfatória.
A onda recessiva vai amainar, tornando menos caótica a
situação social.
A geração de empregos no interior muda o fluxo das migrações, reduzindo o peso nos
grandes centros, onde a taxa de
crescimento populacional é estável.
Mais importante do que tudo,
disseminam-se experiências
comunitárias, com a parceria
da sociedade e poder público.
Tudo é, ainda, embrionário -mas não tenham dúvida de que
persistir nessa rota vai diminuir nossa sensação de que somos inapelavelmente reféns da
violência.
Visitei na semana passada
uma obra que tem tudo para se
transformar no novo símbolo
de progresso da cidade de São
Paulo, em plena cracolândia.
Desta vez, pela música.
É a estação Júlio Prestes que,
de um espaço imundo, vira
agora uma sala de concertos e
sede da sinfônica -ao lado do
malfadado prédio do Deops vai
sair a faculdade de música.
Aposto: não há uma único espaço teatral, em São Paulo,
com tanto charme.
Mais um motivo para o Palácio dos Bandeirantes deixar o
Morumbi e voltar para o centro, revitalizando áreas deterioradas, dando cara nova para a cidade.
Responsável por tirar a prefeitura do parque Ibirapuera, o
governador Mário Covas informa a esta coluna, por meio de
sua assessoria, que está nos
seus planos se mudar para o
centro.
A idéia tem um aval decisivo:
o secretário da Fazenda, Yoshiaki Nakano. Para ele, a mudança reduziria custos administrativos.
E-mail: gdimen@uol.com.br
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