São Paulo, Domingo, 30 de Maio de 1999
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GILBERTO DIMENSTEIN
São Paulo não pode matar

No mês passado, 98 pessoas deixaram de ser assassinadas na região metropolitana de São Paulo.
Numa reversão abrupta, de março a abril os assassinatos caíram 12%; na capital, 17% -caíram juntos, embora em menor grau, demais indicadores de criminalidade, por exemplo, roubo e furtos de automóveis.
Estaríamos diante do início de uma virada ou de um fenômeno restrito a abril?
"Não sei", admite o secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi.

Os números da criminalidade de abril andam na contramão das estatísticas de desemprego e valor dos rendimentos dos trabalhadores.
Na semana passada, pesquisa Seade-Dieese mostrou mais um recorde do desemprego; um em cada cinco trabalhadores da região metropolitana está desempregado.
Bater recorde de desemprego está virando a tradição de cada mês.
Por que melhora o crime enquanto aumenta a pobreza?
Por enquanto, só apostas.

Mas o fato é que a polícia está fazendo o óbvio.
Usando as estatísticas, escolheu os bairros mais violentos, aumentando a ação preventiva, preferindo os horários e dias de maior incidência de conflitos.
A operação é administrada conjuntamente pelas Polícias Civil e Militar, dois agrupamentos que, no geral, vivem atritados.
Os boletins mostram que cresceram as apreensões de armas, prisões, captura e flagrantes; policiais foram retirados de cargos burocráticos indo para a rua.
Em qualquer lugar, funciona policiamento preventivo somado à repressão.
E se funciona com a polícia com baixos salários, efetivo pequeno, mal treinada, armas antigas, imagine, então, melhor equipada e articulada com a comunidade.

Mesmo essa queda de 12% na região metropolitana de São Paulo é pouco, para padrões minimamente civilizados.
Os índices nada ficam a dever a Kosovo. Pelo contrário: em abril foram assassinadas 695 pessoas, 23 por dia. Foram gatunados 450 automóveis a cada 24 horas.
É, sob todos os aspectos, um escândalo.

Dá para melhorar sem parar. Não só pela melhoria da polícia, que ainda está longe, muito longe, de satisfatória.
A onda recessiva vai amainar, tornando menos caótica a situação social.
A geração de empregos no interior muda o fluxo das migrações, reduzindo o peso nos grandes centros, onde a taxa de crescimento populacional é estável.
Mais importante do que tudo, disseminam-se experiências comunitárias, com a parceria da sociedade e poder público.

Tudo é, ainda, embrionário -mas não tenham dúvida de que persistir nessa rota vai diminuir nossa sensação de que somos inapelavelmente reféns da violência.

Visitei na semana passada uma obra que tem tudo para se transformar no novo símbolo de progresso da cidade de São Paulo, em plena cracolândia. Desta vez, pela música.
É a estação Júlio Prestes que, de um espaço imundo, vira agora uma sala de concertos e sede da sinfônica -ao lado do malfadado prédio do Deops vai sair a faculdade de música.
Aposto: não há uma único espaço teatral, em São Paulo, com tanto charme.
Mais um motivo para o Palácio dos Bandeirantes deixar o Morumbi e voltar para o centro, revitalizando áreas deterioradas, dando cara nova para a cidade.
Responsável por tirar a prefeitura do parque Ibirapuera, o governador Mário Covas informa a esta coluna, por meio de sua assessoria, que está nos seus planos se mudar para o centro.
A idéia tem um aval decisivo: o secretário da Fazenda, Yoshiaki Nakano. Para ele, a mudança reduziria custos administrativos.

E-mail: gdimen@uol.com.br


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