São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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Grupos divergem sobre número de praticantes no país

DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem observa de fora, o universo da ioga pode parecer tão vasto, complexo e minucioso que nenhuma legislação conseguiria enquadrá-la.
Outros, por conta dessas mesmas razões, diriam que a ioga precisa de leis claras e precisas.
Seus números, por exemplo, são tão impressionantes quanto incertos. Seguidores do "mestre De Rose" falam em 5 milhões de praticantes no país. O Consulado Geral da Índia estima em 1 milhão. Pedro Kupfer e Anderson Allegro, da Aliança do Yoga, acham que não chega a isso.
O Movimento Yoga Livre diz ter identificado cerca de 30 formas ou modalidades de iogas praticadas no Brasil. Nos seus textos, De Rose diz que as modalidades passam de cem, e que pelo menos 50 têm praticantes no Brasil.
Originária da Índia, onde seria praticada há 5.000 anos, a ioga se esparramou em dezenas de nomes e modalidades, dependendo do mestre que a ensinava ou da região onde era praticada. Há a ioga mais meditativa, a espiritual, a que usa os sons, a energia sexual, a dos movimentos clássicos, com respiração e relaxamento. E há as contemporâneas às academias, a fitness ioga, por exemplo, ou malhações com um toque zen, que atraem cada vez mais seguidores.
Nos EUA, estima-se que o número de praticantes cresceu 40% em quatro anos. No Brasil, onde não há números, acredita-se que o crescimento seja parecido.
Um mercado tão grande, envolvendo os interesses de tantos clientes, não pode ficar sem regras nem prescindir da vigilância do Estado, afirmam os que defendem a regulamentação. Um praticante que sofra uma lesão por exercício mal feito, ou outro que se sinta enganado, deverá recorrer a quem? Os conselhos de educação física alegam questões como essa para exigir que escolas e professores de iogas sejam fiscalizados por eles.
O projeto de lei, que daria um arcabouço legal aos profissionais da ioga, peca pela imprecisão. Seu texto de página e meia não define o que é ioga, não diz como serão eleitos os conselheiros nem faz referência à formação necessária para os instrutores.
Em contrapartida, o projeto de Aldo Rebelo dedica o parágrafo único do artigo 1º para estabelecer que "os dispositivos desta lei aplicam-se aos profissionais de Yôga, Yóga, ioga, independentemente da grafia e pronúncia adotadas, sem discriminações".
Foi "mestre De Rose" quem introduziu no Brasil a "yôga", com acento circunflexo. Foi ele também quem levou para a universidade os cursos de ioga como extensão universitária. Segundo ele, um curso superior de ioga já está funcionando na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Alunos seus que desejam ensinar são formados em três blocos de quatro anos cada: grau de instrutor assistente, docente e mestre. Segundo ele, o exame e a habilitação são realizados pelas federações de cada Estado.
Mesmo aliados de De Rose, que não querem seus nomes divulgados, afirmam que ele nunca admite "ser segundo", nem costuma consultar a categoria para falar em nome dela. Sabe fazer lobby. Durante a votação do projeto de lei, ele lotou os corredores da Câmara com instrutores que ensinaram exercícios de relaxamento aos deputados.
Ex-alunos dissidentes de De Rose dizem que ele "é o McDonald"s da ioga". O "mestre" diz compreender tal reação. "Na arte marcial, como na ioga, o bom discípulo é aquele que vai querer matar o mestre, para provar que ficou tão bom quanto ele." (AB)


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