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AMBIENTE
Falta de barreira pode permitir a infiltração de pesticidas em Paulínia
Contaminação ameaça rio Atibaia
ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS
A não-instalação da barreira hidráulica e da estação de tratamento de água pela Shell Brasil, no
bairro Recanto dos Pássaros, em
Paulínia (126 km de São Paulo),
ameaça contaminar o rio Atibaia
com pesticidas organoclorados
em dois anos.
É o que aponta um dos cenários
elaborados pela CSD-Geoclock,
empresa especializada em diagnóstico ambiental, em estudo realizado em 2000, a pedido da Shell.
O gerente de saúde, segurança e
meio ambiente da Shell, Alfredo
Rodrigues Santos Filho, 45, disse
ontem que a empresa tentou implementar a barreira, mas que
não tinha os licenciamentos necessários para concluir as obras
no prazo estipulado.
A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), por sua vez, não aceitou a justificativa da empresa. O atraso
implicou uma multa diária de R$
12,4 mil. "Os prazos para a implementação da barreira foram estabelecidos em outubro do ano passado, em acordo com a Shell. A
empresa sabia o período que teria
para iniciar a obra", disse Fernando Iório Carbonari, 50, gerente regional da Cetesb. "Se ainda não
interpusemos recurso, vamos fazê-lo", disse Santos Filho.
Conforme o diagnóstico ambiental, os contaminantes se deslocam na proporção de um a oito
metros por ano no lençol freático.
Nessa velocidade, a contaminação atingiria o rio, na pior hipótese, em 2006.
O cálculo para o avanço da
mancha considera a velocidade
da água e a permeabilidade do solo -a facilidade que a água com
os pesticidas tem de atravessá-lo.
A barreira hidráulica tem justamente a função de barrar o avanço desses contaminantes. Já a estação de tratamento receberia a
água contaminada e a devolveria
limpa para o rio. O prazo estimado pela agência ambiental para a
descontaminação é de dez anos.
A barreira de contenção deveria
ter ficado pronta no final do ano
passado, segundo a Cetesb.
De acordo com Carbonari, a
agência chegou a prorrogar o prazo duas vezes neste ano.
O primeiro prazo se esgotou em
março deste ano e, o segundo, no
mês passado.
O solo e o lençol freático no entorno da antiga fábrica da Shell,
em Paulínia, foi contaminado por
solventes e pesticidas organoclorados. A Shell manteve a fábrica
de defensivos agrícolas em Paulínia por quase 20 anos e assumiu a
contaminação em autodenúncia,
feita em 94, ao Ministério Público.
Um mapa mostra que os pesticidas já atingiram chácaras vizinhas e que estão às margens do
rio. A quantidade encontrada não
apresenta riscos. A Cetesb não informou qual a distância dos contaminantes até o rio Atibaia.
"A Shell faz acompanhamento
quinzenal em poços de monitoramento. Dados desde novembro
mostram que ainda não chegou
ao Atibaia", disse Carbonari.
Para o secretário municipal de
Meio Ambiente de Paulínia, Edilson Rodrigues, a falta de licenciamento não pode ser usada como
desculpa, pois a empresa teve
tempo de solicitá-lo.
"A Shell esperou quatro anos
para tomar as providências. A
empresa tinha as licenças desde
fevereiro", disse.
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