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CRIME NO BROOKLIN
De acordo com especialistas, Suzane não se enquadra no perfil de réu que oferece risco à sociedade
"Coerente, decisão dá noção de impunidade"
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão da Justiça que permitiu a liberdade da estudante Suzane von Richthofen é coerente,
mas passa a sensação de impunidade. Essa é a opinião de especialistas da área de criminologia consultados pela reportagem.
A legislação determina que o
réu fique preso até o julgamento
em casos excepcionais. Por exemplo, se oferecer risco à sociedade.
Para os advogados consultados,
Suzane não se encaixa nesse perfil
e, por isso, a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) foi
coerente. "Todos, como regra, devem esperar o processo em liberdade", diz o presidente da OAB-SP (seccional paulista da Ordem
dos Advogados do Brasil), Luiz
Flávio D'Urso, advogado criminalista. "Como exceção, a pessoa
deve sofrer a prisão processual
[antes do julgamento]." Para
D'Urso, nem o clamor público
nem a gravidade da acusação podem interferir na decisão.
"Crimes como homicídio não
têm um índice grande de reincidência. A probalidade de ela [Suzane] vir a cometer novamente
esse crime é baixa", diz Alvino de
Sá, professor de criminologia da
Faculdade de Direito da USP.
Sá, porém, defende que a decisão passa à sociedade uma sensação de impunidade. "Esse mesmo
raciocínio deveria ser aplicado a
todo o sistema penitenciário. Por
que ela foi liberada e a dona Maria
que roubou um xampu não foi?",
questiona o professor, referindo-se ao caso, noticiado pela Folha,
da empregada doméstica Maria
Aparecida de Matos, 24, que ficou
presa por um ano sob a acusação
de tentativa de furto de um xampu e de um condicionador.
D'Urso concorda que a libertação de Suzane pode passar a sensação de impunidade, mas defende a posição da Justiça. "A sociedade age emocionalmente, quer
uma resposta rápida e não tem a
cautela que a Justiça deve ter."
A Comissão Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, presidida pelo ex-ministro da Justiça
José Gregori, pediu ao Conselho
Nacional de Justiça que analise a
necessidade de pedir esclarecimentos ao STJ. A comissão diz,
em carta, que a "população brasileira [...] pode ser levada a descrer
no sistema de Justiça formal".
(FÁBIO TAKAHASHI)
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