São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007

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No Rio, tiros atingiram cabeça e tronco

Dados constam das guias de sepultamento, documentos oficiais do IML e obrigatórios para a autorização do enterro

Informações contrariam estudo internacional pelo qual os membros são os locais de ferimentos mais comuns em confrontos

SERGIO TORRES
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Pelo menos 9 das 19 vítimas do conflito de quarta-feira no complexo do Alemão (zona norte do Rio) morreram com tiros na cabeça, no tórax e no abdômen, mostram as guias de sepultamentos de dez dos mortos que a Folha obteve em dois cemitérios do Rio.
As guias são documentos oficiais do IML (Instituto Médico Legal), que as encaminha para os cemitérios com o objetivo de autorizar os enterros. Nas guias, consta a causa da morte, embora não haja o detalhamento dos laudos.
Familiares de vítimas acusam a polícia de ter matado inocentes e feridos já sem possibilidade de reação.
A constatação de que os tiros atingiram partes vitais contraria as conclusões de estudo internacional sobre casos de ferimento por arma de fogo divulgado em palestras e apresentações da Polícia Militar do Rio.
Segundo o trabalho, as extremidades (braços e pernas) representam 66% das áreas atingidas durante confrontos.
O estudo mostra que cabeça e pescoço são alvos de 11% dos tiros. Tórax, 9%. Lesões no abdômen representam 11%; 2% são em locais não descritos; e 1%, nos órgãos genitais.
O diretor do Hospital Estadual Getúlio Vargas, Carlos Alberto Chaves, confirmou que a estatística coincide com a maioria dos casos de vítimas de tiros que chegam à unidade, que, pela proximidade com o complexo do Alemão, recebe a maioria dos feridos nos tiroteios que ocorrem na comunidade quase diariamente.
No hospital, desde que começaram os confrontos, há dois meses, casos de tiros em braços e pernas representam 57% dos 115 atendimentos.
Embora já tenha a informação, a Secretaria de Segurança ainda não divulgou a causa das mortes dos vitimados em supostos confrontos no complexo durante a megaoperação.
No cemitério de Inhaúma (zona norte) foram enterradas oito vítimas desde anteontem. Todas baleadas na cabeça, no peito e na barriga, de acordo com as guias de sepultamento.
Os documentos não indicam quantos tiros a vítima levou. Só informam que a morte foi por PAF (projétil de arma de fogo) e o ponto do organismo em que ocorreu o ferimento.
Paulo Eduardo dos Santos, 18, foi baleado no crânio e no tórax. Bruno Rodrigues Alves, 21, no abdômen e no tórax. Emerson Goulart, 26, no crânio, tórax (pulmão direito) e em um dos braços.
Os tiros da polícia atingiram Geraldo Batista Ribeiro, 41, no crânio, abdômen e tórax. Já José da Silva Farias Júnior, 18, foi baleado no crânio. Maxwell Vieira da Silva, 16, no tórax e abdômen. Marcelo Luiz Madeira, 27, no tórax. David Souza e Lima, 14, no tórax e abdômen.
No cemitério do Irajá (zona norte) foi enterrado Bruno Vianna Alcântara, 22. De acordo com a guia de sepultamento, ele foi baleado no tórax.


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