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No Rio, tiros atingiram cabeça e tronco
Dados constam das guias de sepultamento, documentos oficiais do IML e obrigatórios para a autorização do enterro
Informações contrariam estudo internacional pelo qual os membros são os locais de ferimentos mais comuns em confrontos
SERGIO TORRES
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Pelo menos 9 das 19 vítimas
do conflito de quarta-feira no
complexo do Alemão (zona
norte do Rio) morreram com
tiros na cabeça, no tórax e no
abdômen, mostram as guias de
sepultamentos de dez dos mortos que a Folha obteve em dois
cemitérios do Rio.
As guias são documentos oficiais do IML (Instituto Médico
Legal), que as encaminha para
os cemitérios com o objetivo de
autorizar os enterros. Nas
guias, consta a causa da morte,
embora não haja o detalhamento dos laudos.
Familiares de vítimas acusam a polícia de ter matado
inocentes e feridos já sem possibilidade de reação.
A constatação de que os tiros
atingiram partes vitais contraria as conclusões de estudo internacional sobre casos de ferimento por arma de fogo divulgado em palestras e apresentações da Polícia Militar do Rio.
Segundo o trabalho, as extremidades (braços e pernas) representam 66% das áreas atingidas durante confrontos.
O estudo mostra que cabeça
e pescoço são alvos de 11% dos
tiros. Tórax, 9%. Lesões no abdômen representam 11%; 2%
são em locais não descritos; e
1%, nos órgãos genitais.
O diretor do Hospital Estadual Getúlio Vargas, Carlos Alberto Chaves, confirmou que a
estatística coincide com a
maioria dos casos de vítimas de
tiros que chegam à unidade,
que, pela proximidade com o
complexo do Alemão, recebe a
maioria dos feridos nos tiroteios que ocorrem na comunidade quase diariamente.
No hospital, desde que começaram os confrontos, há
dois meses, casos de tiros em
braços e pernas representam
57% dos 115 atendimentos.
Embora já tenha a informação, a Secretaria de Segurança
ainda não divulgou a causa das
mortes dos vitimados em supostos confrontos no complexo durante a megaoperação.
No cemitério de Inhaúma
(zona norte) foram enterradas
oito vítimas desde anteontem.
Todas baleadas na cabeça, no
peito e na barriga, de acordo
com as guias de sepultamento.
Os documentos não indicam
quantos tiros a vítima levou. Só
informam que a morte foi por
PAF (projétil de arma de fogo)
e o ponto do organismo em que
ocorreu o ferimento.
Paulo Eduardo dos Santos,
18, foi baleado no crânio e no
tórax. Bruno Rodrigues Alves,
21, no abdômen e no tórax.
Emerson Goulart, 26, no crânio, tórax (pulmão direito) e
em um dos braços.
Os tiros da polícia atingiram
Geraldo Batista Ribeiro, 41, no
crânio, abdômen e tórax. Já José da Silva Farias Júnior, 18, foi
baleado no crânio. Maxwell
Vieira da Silva, 16, no tórax e
abdômen. Marcelo Luiz Madeira, 27, no tórax. David Souza
e Lima, 14, no tórax e abdômen.
No cemitério do Irajá (zona
norte) foi enterrado Bruno
Vianna Alcântara, 22. De acordo com a guia de sepultamento,
ele foi baleado no tórax.
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