São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007

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Liberdade quer unir modernidade à tradição

Projeto, de iniciativa privada, prevê revitalizar o bairro às vésperas da imigração japonesa no Brasil completar 100 anos

Remodelação deve incluir Largo da Pólvora, os viadutos locais, a praça da Liberdade e as ruas Tomás Gonzaga e Galvão Bueno

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas dos cem anos da imigração japonesa no Brasil, um projeto com vistas à revitalização e à modernização pretende mesclar elementos do Japão tradicional (como telhados curvos avermelhados e ideogramas nas fachadas) e aspectos tecnológicos do Japão contemporâneo para mudar a cara da Liberdade (região central de São Paulo).
A idéia é transformar a região numa espécie de Ginza, Shinjuku e Shibuya, bairros dos mais descolados de Tóquio.
A proposta, em fase de busca de patrocinadores da iniciativa privada, prevê a remodelação do largo da Pólvora, dos quatro viadutos, da praça da Liberdade e das ruas Tomás Gonzaga e Galvão Bueno. Um tori, o portal clássico japonês, seria construído na entrada de cada uma das vias do bairro.

Bulevar
Previsto em três etapas, o projeto pretende criar um bulevar na rua Tomás Gonzaga, a dos restaurantes típicos, a exemplo do que foi construído na Avanhandava com o restaurante Famiglia Mancini.
"Cada rua terá uma linguagem específica, que não se repete, e será um cenário diferente do outro. É preciso criar um habitat japonês, com referências high-tech", diz o autor do projeto, Márcio Lupion, doutor em arquitetura simbólica e professor do Mackenzie.
Vitrines eletrônicas vão dizer "oi" aos consumidores, e samurais virtuais vão cruzar as ruas, passando de fachada em fachada. Em cabines telefônicas inspiradas nas formas asiáticas será possível folhear páginas digitais em monitores de tela plana.
Jatos de luz, inéditos em São Paulo, vão cortar o calçamento das ruas e criar efeitos holográficos, como se vê em Osaka.

Custos
Por ainda estar em elaboração, o custo das obras ainda não foi finalizado. A expectativa é a de que se gaste ao menos R$ 10 milhões só na primeira fase, que está prevista para começar em janeiro de 2008 e ser concluída seis meses depois, justamente na ocasião do centenário da imigração nipônica.
A maior parte do dinheiro deverá vir de patrocínio de empresas. Segundo elaboradores, não haverá ônus para os comerciantes locais.
"Por que grandes empresas japonesas como Mitsubishi, Subaro, Fuji, Suzuki ou Yamaha não estão na Liberdade?", pergunta Lupion.

Corredor da moda
O projeto quer justamente convencer grandes estilistas como Issey Miyake, Kenzo e Yohji Yamamoto a criar um corredor da moda no bairro.
Originalmente ocupada por portugueses e depois por imigrantes japoneses, explica Anália Amorim, professora e diretora da faculdade de arquitetura e urbanismo Escola da Cidade, a Liberdade assiste hoje a um crescimento expressivo da população de chineses, coreanos e migrantes nordestinos.
Para Hirofumi Ikesaki, diretor-presidente da Acal (Associação Cultural e Assistencial da Liberdade), "está na hora de modernizar o bairro".
"É uma revitalização necessária, independentemente de quem quer que faça. A idéia é excelente, apoio tudo. Fico muito contente", diz Ikesaki.

Expansão do centro
A iniciativa de remodelação do bairro, avaliam urbanistas, pode impulsionar e viabilizar um processo mais amplo e rápido de revitalização do centro.
"O Brás, por exemplo, é outra região com potencial para revitalização e moradias", avalia Lupion, que também dirige o Kallipolis, escritório de arquitetura simbólica e marketing de arquitetura.
Na primeira fase, o projeto pretende criar o Caminho do Imperador, uma rota pelas ruas Tomás Gonzaga, Galvão Bueno e praça da Liberdade por onde passou o imperador Akihito e a imperatriz Michiko na visita que fizeram a São Paulo em maio de 1997.
"A idéia é reconstruir toda a história oriental", completa Jordan Perez, também arquiteto do Kallipolis.

Prefeitura
Hoje, o projeto conta com apoio da secretaria de Relações Institucionais do governo do Estado, mas ainda não foi levado à aprovação da prefeitura. Gilberto Kassab, prefeito, e Andrea Matarazzo, coordenador das subprefeituras e subprefeito da Sé, devem receber uma explicação sobre a proposta nos próximos dias.
"Como é a iniciativa privada é quem vai bancar, a última a ser comunicada será a prefeitura", justifica Lupion.
Outra novidade: linhas de ônibus que cruzam a Liberdade e servem outros bairros da cidade vão ter motivos japoneses, de modo a atrair visitantes.
O Bradesco da praça da Liberdade, aquele que se vê na saída do metrô, deverá se transformar num palácio imperial, embora permaneça banco.
Até as barracas da feira, que acontece aos fins de semana, serão redesenhadas para ficarem iguais às de Tóquio.

Pretensão
"Quem está sugerindo a "inspiração" em Ginza, Shinjuku e Shibuya? Conhecendo esses lugares, é uma pretensão imitar. Não ficou claro para mim "modernizar a Liberdade" -ela já é moderna!", afirma Hugo Segawa, professor da FAU, a faculdade de urbanismo da USP, que está em Tóquio.
Pelo projeto, meninos de rua passariam a ganhar salário para cuidar do paisagismo e da conservação do mobiliário urbano e não seriam expulsos das ruas do bairro.
A prefeitura anunciou uma zona de exceção na Liberdade para a Lei Cidade Limpa, que proibiu a propaganda externa e limitou dimensões para fachadas e letreiros.
Depois de um acordo entre os dois países, a imigração japonesa no Brasil começou em 18 de junho de 1908, com a chegada do navio Kasato Maru, que trouxe 781 trabalhadores para os cafezais do oeste paulista.


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