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Liberdade quer unir modernidade à tradição
Projeto, de iniciativa privada, prevê revitalizar o bairro às vésperas da imigração japonesa no Brasil completar 100 anos
Remodelação deve incluir Largo da Pólvora, os viadutos locais, a praça da Liberdade e as ruas Tomás Gonzaga e Galvão Bueno
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas dos cem anos da
imigração japonesa no Brasil,
um projeto com vistas à revitalização e à modernização pretende mesclar elementos do
Japão tradicional (como telhados curvos avermelhados e
ideogramas nas fachadas) e aspectos tecnológicos do Japão
contemporâneo para mudar a
cara da Liberdade (região central de São Paulo).
A idéia é transformar a região
numa espécie de Ginza, Shinjuku e Shibuya, bairros dos mais
descolados de Tóquio.
A proposta, em fase de busca
de patrocinadores da iniciativa
privada, prevê a remodelação
do largo da Pólvora, dos quatro
viadutos, da praça da Liberdade
e das ruas Tomás Gonzaga e
Galvão Bueno. Um tori, o portal
clássico japonês, seria construído na entrada de cada uma
das vias do bairro.
Bulevar
Previsto em três etapas, o
projeto pretende criar um bulevar na rua Tomás Gonzaga, a
dos restaurantes típicos, a
exemplo do que foi construído
na Avanhandava com o restaurante Famiglia Mancini.
"Cada rua terá uma linguagem específica, que não se repete, e será um cenário diferente do outro. É preciso criar um
habitat japonês, com referências high-tech", diz o autor do
projeto, Márcio Lupion, doutor
em arquitetura simbólica e
professor do Mackenzie.
Vitrines eletrônicas vão dizer
"oi" aos consumidores, e samurais virtuais vão cruzar as ruas,
passando de fachada em fachada. Em cabines telefônicas inspiradas nas formas asiáticas será possível folhear páginas digitais em monitores de tela plana.
Jatos de luz, inéditos em São
Paulo, vão cortar o calçamento
das ruas e criar efeitos holográficos, como se vê em Osaka.
Custos
Por ainda estar em elaboração, o custo das obras ainda não
foi finalizado. A expectativa é a
de que se gaste ao menos R$ 10
milhões só na primeira fase,
que está prevista para começar
em janeiro de 2008 e ser concluída seis meses depois, justamente na ocasião do centenário da imigração nipônica.
A maior parte do dinheiro
deverá vir de patrocínio de empresas. Segundo elaboradores,
não haverá ônus para os comerciantes locais.
"Por que grandes empresas
japonesas como Mitsubishi,
Subaro, Fuji, Suzuki ou Yamaha não estão na Liberdade?",
pergunta Lupion.
Corredor da moda
O projeto quer justamente
convencer grandes estilistas
como Issey Miyake, Kenzo e
Yohji Yamamoto a criar um
corredor da moda no bairro.
Originalmente ocupada por
portugueses e depois por imigrantes japoneses, explica Anália Amorim, professora e diretora da faculdade de arquitetura e urbanismo Escola da Cidade, a Liberdade assiste hoje a
um crescimento expressivo da
população de chineses, coreanos e migrantes nordestinos.
Para Hirofumi Ikesaki, diretor-presidente da Acal (Associação Cultural e Assistencial
da Liberdade), "está na hora de
modernizar o bairro".
"É uma revitalização necessária, independentemente de
quem quer que faça. A idéia é
excelente, apoio tudo. Fico
muito contente", diz Ikesaki.
Expansão do centro
A iniciativa de remodelação
do bairro, avaliam urbanistas,
pode impulsionar e viabilizar
um processo mais amplo e rápido de revitalização do centro.
"O Brás, por exemplo, é outra
região com potencial para revitalização e moradias", avalia
Lupion, que também dirige o
Kallipolis, escritório de arquitetura simbólica e marketing
de arquitetura.
Na primeira fase, o projeto
pretende criar o Caminho do
Imperador, uma rota pelas ruas
Tomás Gonzaga, Galvão Bueno
e praça da Liberdade por onde
passou o imperador Akihito e a
imperatriz Michiko na visita
que fizeram a São Paulo em
maio de 1997.
"A idéia é reconstruir toda a
história oriental", completa
Jordan Perez, também arquiteto do Kallipolis.
Prefeitura
Hoje, o projeto conta com
apoio da secretaria de Relações
Institucionais do governo do
Estado, mas ainda não foi levado à aprovação da prefeitura.
Gilberto Kassab, prefeito, e Andrea Matarazzo, coordenador
das subprefeituras e subprefeito da Sé, devem receber uma
explicação sobre a proposta nos
próximos dias.
"Como é a iniciativa privada
é quem vai bancar, a última a
ser comunicada será a prefeitura", justifica Lupion.
Outra novidade: linhas de
ônibus que cruzam a Liberdade
e servem outros bairros da cidade vão ter motivos japoneses,
de modo a atrair visitantes.
O Bradesco da praça da Liberdade, aquele que se vê na
saída do metrô, deverá se transformar num palácio imperial,
embora permaneça banco.
Até as barracas da feira, que
acontece aos fins de semana,
serão redesenhadas para ficarem iguais às de Tóquio.
Pretensão
"Quem está sugerindo a "inspiração" em Ginza, Shinjuku e
Shibuya? Conhecendo esses lugares, é uma pretensão imitar.
Não ficou claro para mim "modernizar a Liberdade" -ela já é
moderna!", afirma Hugo Segawa, professor da FAU, a faculdade de urbanismo da USP, que
está em Tóquio.
Pelo projeto, meninos de rua
passariam a ganhar salário para
cuidar do paisagismo e da conservação do mobiliário urbano
e não seriam expulsos das ruas
do bairro.
A prefeitura anunciou uma
zona de exceção na Liberdade
para a Lei Cidade Limpa, que
proibiu a propaganda externa e
limitou dimensões para fachadas e letreiros.
Depois de um acordo entre
os dois países, a imigração japonesa no Brasil começou em 18
de junho de 1908, com a chegada do navio Kasato Maru, que
trouxe 781 trabalhadores para
os cafezais do oeste paulista.
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