São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2008

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Jovem larga artes plásticas e diz que bolsa parcial é insuficiente

FERNANDA CALGARO
DA REPORTAGEM LOCAL

Neste ano, Paola da Silva Pascoal, 22, pretende se inscrever somente para bolsa integral do ProUni. Aprovada uma vez na faculdade com bolsa de 50%, ela teve de desistir por falta de dinheiro e voltar ao cursinho.
"Mesmo com o benefício, o curso de artes plásticas ficava em cerca de R$ 450, fora livros e material", lembra Paola. "Na época, trabalhava como atendente de telemarketing e ganhava esse valor. Era inviável."
Ela voltou para o cursinho pré-vestibular para melhorar seu desempenho no Enem e conseguir uma nota compatível com a nota de corte das bolsas integrais.
Raquel Borges Porto, 20, queria mesmo era estudar jornalismo, mas acabou cursando geografia. "Consegui uma bolsa do ProUni de 50% em jornalismo, mas, ainda assim, teria que pagar R$ 420. Como minha família não tinha condições, desisti e fui fazer geografia em outra faculdade, por R$ 250, sem bolsa. Fiquei chateada, mas quero depois fazer uma especialização e trabalhar como jornalista", conta, esperançosa.
Com Luan Iuri de Oliveira Amorim, 17, ocorreu o mesmo. A falta de dinheiro o afastou do sonho de estudar design digital. "A faculdade custava quase R$ 2.000. Consegui uma bolsa de 50% do ProUni, mas em casa temos praticamente só a renda do meu pai, que fica perto de R$ 2.000. Só a minha mensalidade seria metade." Resignado em adiar o sonho, voltou então a estudar no cursinho à noite e a fazer bico de entregador de água, mas de olho no processo seletivo do fim do ano. "Estou confiante."

Da obra à prancheta
Aos 33 anos, Francisco Lino da Silva está no segundo ano de engenharia civil. Cursar uma faculdade particular só é possível graças a uma bolsa de estudos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Chegou a obter uma bolsa de 50% do ProUni para uma faculdade na zona leste, mas desistiu. A instituição ficava fora de mão para ele.
"Se eu tivesse conseguido a bolsa integral do ProUni, teria feito toda a diferença, apesar de o curso ser mais longe. Valeria a pena o sacrifício", diz Silva.
De sacrifício, ele entende. Silva trabalha como peão de obras. Na época em que estudava para o vestibular, deixou a mulher e duas filhas em Guarulhos (Grande São Paulo) e passou a dormir num sofá da recepção do cursinho popular onde estudava.
"Perdia quase seis horas do dia em ônibus e trem. Depois que passei a dormir, de favor, no cursinho, meu rendimento melhorou. Foi assim que cheguei até aqui. Ainda é difícil, mas vou vencer", conta ele, que amanhã começará no primeiro estágio da carreira.


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