São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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ARQUITETURA
Governo do Distrito Federal quer recursos para construir um centro cultural na Esplanada dos Ministérios
Niemeyer projeta novas obras em Brasília

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O arquiteto Oscar Niemeyer, 92, entregou ontem o projeto do Conjunto Cultural da República ao governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, que prometeu executar o empreendimento.
A construção é a última obra da Esplanada dos Ministérios e também, segundo Niemeyer, a conclusão de Brasília, cidade construída em quatro anos e que "precisa ser concluída aos 40 anos".
O projeto prevê a construção, pelo poder público, de museu, biblioteca e galeria de ligação entre eles, porque cada edificação ficaria no início de uma das asas que formam o traçado da cidade.
A iniciativa privada construiria o restante dos prédios. Estão no projeto cinema 180 graus, conjunto de lojas e centro musical. Ao todo, o centro cultural custará US$ 19 milhões.
O governo do Distrito Federal está disposto a investir na obra, mas a intenção é tentar, primeiro, conseguir dinheiro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O recurso que está na mira do Ministério da Cultura e de Roriz, porém, é destinado à recuperação de monumentos e é improvável que ele seja destinado ao Conjunto Cultural da República.
Niemeyer visitou Brasília no momento em os arquitetos da cidade estão em guerra com o ministro Francisco Weffort (Cultura), por causa da autorização para construção de baias para 90 cavalos no Parque da Cidade e de modificações nos comércios locais das superquadras. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) é responsável por analisar toda proposta de alteração no Plano Piloto, tombado como patrimônio da humanidade.
O IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) não se conforma com a atitude do ministro, que chamou a si a responsabilidade de decidir sobre as reivindicações dos empresários dos comércios locais, que querem ampliar suas lojas.
Segundo o presidente do IAB, Haroldo Pinheiro Queiroz, a expansão seria feita com a invasão de áreas públicas.
Em nota oficial, o IAB afirmou que Weffort, em "ação estarrecedora, desqualificou publicamente os pareceres técnicos" do Iphan. Para o IAB, a atitude abre "perigoso precedente" contra Brasília e outras cidades tombadas.
O IAB afirma, ainda, que a ameaça do ministro de repetir o procedimento é "inqualificável".
Na mesma nota, o IAB pondera que a atitude de Weffort é "desrespeitosa" à legislação e considera "questionável" a presença dele à frente do ministério.
A Assessoria de Comunicação do Ministério da Cultura disse que Weffort responderá à nota hoje. Segundo a assessoria, o ministro vai "estudar" a nota. O problema dos comércios locais, disse a assessoria, está sendo estudado.
Oscar Niemeyer não quis comentar os detalhes da briga, mas fez uma crítica indireta às mudanças. "Acho que não se deve mexer mais no Plano Piloto. Deve-se respeitá-lo", disse Niemeyer, na solenidade de entrega do projeto e de abertura da exposição que marcou seus 90 anos.
O presidente do IAB disse ter conversado com o construtor de Brasília sobre a pendenga com Weffort. "Ele está indignado", disse Queiroz. Ele disse que não conhece os pareceres do Iphan sobre os comércios das superquadras e as baias, mas defende a visão técnica para a deliberação.
"Se fossem construir essas baias no Central Park, em Nova York, todos iam achar um absurdo" compara. "Como é no Brasil, os colonizados acham que não tem nada de mais." Em relação aos comércios, ele lembrou que a avenida W-3 necessita de shoppings horizontais que os empresários querem, irregularmente, construir nas superquadras.
"O ministro não é urbanista, nem tem conhecimento técnico para decidir sobre esse assunto", protestou. Para Queiroz, Weffort quer "brincar de ACM (Antônio Carlos Magalhães, presidente do Congresso Nacional), dando murro na mesa e se fazendo de poderoso".


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