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ARQUITETURA
Governo do Distrito Federal quer recursos para construir um centro cultural na Esplanada dos Ministérios
Niemeyer projeta novas obras em Brasília
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O arquiteto Oscar Niemeyer,
92, entregou ontem o projeto do
Conjunto Cultural da República
ao governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, que prometeu
executar o empreendimento.
A construção é a última obra da
Esplanada dos Ministérios e também, segundo Niemeyer, a conclusão de Brasília, cidade construída em quatro anos e que "precisa ser concluída aos 40 anos".
O projeto prevê a construção,
pelo poder público, de museu, biblioteca e galeria de ligação entre
eles, porque cada edificação ficaria no início de uma das asas que
formam o traçado da cidade.
A iniciativa privada construiria
o restante dos prédios. Estão no
projeto cinema 180 graus, conjunto de lojas e centro musical. Ao todo, o centro cultural custará US$
19 milhões.
O governo do Distrito Federal
está disposto a investir na obra,
mas a intenção é tentar, primeiro,
conseguir dinheiro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O recurso que está na mira do
Ministério da Cultura e de Roriz,
porém, é destinado à recuperação
de monumentos e é improvável
que ele seja destinado ao Conjunto Cultural da República.
Niemeyer visitou Brasília no
momento em os arquitetos da cidade estão em guerra com o ministro Francisco Weffort (Cultura), por causa da autorização para
construção de baias para 90 cavalos no Parque da Cidade e de modificações nos comércios locais
das superquadras. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) é responsável por analisar
toda proposta de alteração no Plano Piloto, tombado como patrimônio da humanidade.
O IAB (Instituto dos Arquitetos
do Brasil) não se conforma com a
atitude do ministro, que chamou
a si a responsabilidade de decidir
sobre as reivindicações dos empresários dos comércios locais,
que querem ampliar suas lojas.
Segundo o presidente do IAB,
Haroldo Pinheiro Queiroz, a expansão seria feita com a invasão
de áreas públicas.
Em nota oficial, o IAB afirmou
que Weffort, em "ação estarrecedora, desqualificou publicamente
os pareceres técnicos" do Iphan.
Para o IAB, a atitude abre "perigoso precedente" contra Brasília e
outras cidades tombadas.
O IAB afirma, ainda, que a
ameaça do ministro de repetir o
procedimento é "inqualificável".
Na mesma nota, o IAB pondera
que a atitude de Weffort é "desrespeitosa" à legislação e considera "questionável" a presença dele
à frente do ministério.
A Assessoria de Comunicação
do Ministério da Cultura disse
que Weffort responderá à nota
hoje. Segundo a assessoria, o ministro vai "estudar" a nota. O problema dos comércios locais, disse
a assessoria, está sendo estudado.
Oscar Niemeyer não quis comentar os detalhes da briga, mas
fez uma crítica indireta às mudanças. "Acho que não se deve mexer
mais no Plano Piloto. Deve-se respeitá-lo", disse Niemeyer, na solenidade de entrega do projeto e de
abertura da exposição que marcou seus 90 anos.
O presidente do IAB disse ter
conversado com o construtor de
Brasília sobre a pendenga com
Weffort. "Ele está indignado",
disse Queiroz. Ele disse que não
conhece os pareceres do Iphan
sobre os comércios das superquadras e as baias, mas defende a visão técnica para a deliberação.
"Se fossem construir essas baias
no Central Park, em Nova York,
todos iam achar um absurdo"
compara. "Como é no Brasil, os
colonizados acham que não tem
nada de mais." Em relação aos comércios, ele lembrou que a avenida W-3 necessita de shoppings
horizontais que os empresários
querem, irregularmente, construir nas superquadras.
"O ministro não é urbanista,
nem tem conhecimento técnico
para decidir sobre esse assunto",
protestou. Para Queiroz, Weffort
quer "brincar de ACM (Antônio
Carlos Magalhães, presidente do
Congresso Nacional), dando
murro na mesa e se fazendo de
poderoso".
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