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MASSACRE NO CENTRO
Em um depoimento confuso, sobrevivente de ataque indica suposto guarda como agressor
Polícia afirma que relato foi espontâneo; prefeitura vê indução
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil informou ontem
que os moradores de rua que sobreviveram aos ataques no centro
de São Paulo e que já prestaram
informações aos investigadores
disseram espontaneamente terem
sido agredidos por homens vestidos com o uniforme da Guarda
Civil Metropolitana. A Prefeitura
de São Paulo, porém, a quem a
GCM é subordinada, diz que houve direcionamento dos relatos.
O teor das informações prestadas por dois sobreviventes foi informado pela Folha, na edição de
sábado. Ontem, o jornal voltou a
ouvir um membro da cúpula do
DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e o secretário municipal de Segurança
Urbana, Benedito Mariano.
O relato conhecido e contestado
por Mariano é o do paciente José
Manuel da Cruz, 49, internado no
Hospital Municipal Ermelino Matarazzo. "Nas condições que ele
está e da forma como as perguntas foram feitas, até o papa seria
citado", diz Mariano. "As declarações dos funcionários sugerem
uma gravíssima e intencional indução do depoimento."
A Polícia Civil contesta. Segundo o DHPP, os policiais passam
pelos hospitais diariamente. Na
terça, Cruz teria relatado espontaneamente a dois deles que o
agressor usava roupas da GCM.
Sempre de acordo com a polícia, os dois investigadores voltaram na quarta e, na presença de
uma funcionária do hospital e de
um segurança, ouviram novamente a vítima, que teria voltado
a citar a GCM, mas, dessa vez,
num relato confuso, alternando
conceitos de ataque e socorro.
Cruz, porém, foi socorrido por
um sargento da PM, que prestou
depoimento ontem ao DHPP. Na
mesma quarta, então, um terceiro
relato da vítima foi filmado pela
polícia, igualmente confuso.
Na quinta, o DHPP foi ao hospital ouvir os funcionários da autarquia que haviam presenciado o
segundo relato, mas eles não falaram à polícia e passaram a tarde
depondo à Corregedoria da GCM.
É com as informações obtidas
nessa ocasião que a prefeitura
aponta direcionamento. À Corregedoria, os funcionários disseram
que a polícia só perguntou se os
agressores eram guardas, sem citar outras possibilidades, e dizem
que Cruz mudou muito de versão.
A polícia, por sua vez, afirma
que os funcionários do hospital
não citaram nenhuma indução
nas declarações que deram ao
DHPP, na sexta, e sustenta ter depoimentos contundentes -seriam quatro, no total- que reforçam a hipótese de o crime ter sido
praticado por um guarda. Ainda
assim, as investigações não excluem que a hipótese de o agressor, até simultaneamente, ser um
skinhead ou alguém a serviço de
comerciantes da região.
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